Complicação, Intercorrência , Efeito Adverso, Eventos Pós-Operatórios

Complicação, Intercorrência ou Efeito Adverso? O que é o que na Harmonização Facial?

Com o crescimento da Harmonização Facial, seria natural que os problemas relacionados a este tratamentos aparecessem também.

E foi quase de imediato: logo se procurou substituir um termo que assusta um paciente, “Complicação”. por outro menos agressivo, a tal “Intercorrência”, como se isso diminuísse a gravidade das coisas.

Penso que foi uma forma de abrandar a situação em um ambiente que o paciente encara sendo mais “alegre” (mas não com menos riscos). Até com alguma razão, penso eu. Todos concordarão que não lidamos com doenças, patologias, ou pra simplificar: com problemas, como acontece em outras áreas.

Fica mais suave, né? Falar “tive uma intercorrência” parece menos ruim que “tive uma complicação”, não concorda?

Pois será que é a terminologia mais correta? E mais: tudo que acontece “de errado” é algo que deve ser classificado assim? Vamos então falar de 4 terminologias que são utilizadas regularmente na Harmonização Facial:

Intercorrência, Complicação, Efeito Adverso e um muito pouco utilizada (infelizmente), que são os Eventos Pós-Operatórios

E vou começar por dois que se são associados:

Eventos Pós-Operatórios ou as Intercorrências

Se você decide entrar no mar, é uma regra que você vai se molhar. É uma causa e efeito, ou melhor, uma causalidade. Pra entender é simples: relação entre dois eventos consecutivos, sendo o segundo evento é a consequência do primeiro.

Ou seja: só me molhei porque entrei no mar. Se estivesse ficado na praia me sujaria de areia, mas não me molharia.

Então vamos à lógica: Todos os principais procedimentos da Harmonização envolve algum nível de agressão. Uma toxina botulínica usa agulha, um preenchedor usa uma cânula e/ou agulha, uma sessão de jato de plasma agride a epiderme para fazer a contração tecidual, e por aí vai.

Não devemos colocar isso em termos de “ser ruim ou ser bom”, são instrumentos para obter os resultados desejados. Mas existem 3 (ou 4) situações que são absolutamente frequentes e que não devem causar espanto se acontecer, pois não indica erro de técnica, nem reação ao medicamento ou qualquer coisa do gênero.

Intercorrência

  • Ação ou efeito de intercorrer, ocorrer ao mesmo tempo que outra coisa
  • Que expressa ou denota irregularidade; mudança
  • Sinônimos: alternativa, variação, irregularidade, desigualdade, mudança

Estas situações são as Intercorrências, mas eu prefiro chamar de eventos pós-operatórios:

  • Hematoma ou Equimoses: controlado através de pomadas anti-inflamatórias específicas
  • Edema: controlado com anti-inflamatórios
  • Dor: controlados com analgésicos simples
  • Trismo  controlado com relaxantes musculares (este é o mais raro e precisa de condições bem específicas para ocorrer)

Estes sinais/sintomas são passiveis de acontecer com os tratamentos mais simples, e respondem perfeitamente bem com tratamentos sintomáticos regulares, ou mesmo se auto-resolvem em poucos dias.

hematoma
Pra evitar um hematoma ou equimose é simples: só inserir a sua agulha onde não tem vaso nenhum! 😌

Não vejo porque encaixa-los em situações de maiores riscos como nas complicações, como alguns profissionais o fazem. Penso que o termo seria mais próximo do “Ocorrência” do que o “INTERcorrência”, mas não sou eu quem cria os termos médicos, né?

A analogia é válida: quer entrar no mar? Você vai se molhar. Quer fazer uso de agulha para qualquer tratamento de harmonização? Grande chance de ganhar um hematoma, de ficar dolorido, de ter um edema localizado…

Por isso que sempre coloco todos estes detalhes em primeiro lugar nos consentimentos informados. E depois complemento com os demais itens que derivam das complicações.

Dito isso, vamos a ela:

Complicação

É a evolução desfavorável  ou consequência de um procedimento ou tratamento. Pode ser a piora de um quadro pré-existente até o surgimento de algo novo, não previsto.

  • Ação ou efeito de complicar ou de se complicar; ação de fazer com que fique confuso ou difícil.
  • [Medicina] Agravamento observado durante a evolução de uma doença; processo agravante que ocorre no quadro médico de um paciente (aparecimento de novos sintomas).
  • Sinônimos: dificuldade, complexidade

Por exemplo: aparecimento de herpes depois de um preenchimento labial, relato de dores de cabeça depois da aplicação de toxina botulínica, formação de nódulos depois de um preenchimento… São riscos eventuais, não esperados mas não de todo estranho ao tratamento.

herpes simplex, preenchimento labial
Uma complicação comum logo após preenchedores faciais: Herpes Simplex

Uma coisa importante a ser entendida: uma complicação pode ou não ser iatrogênica (isto é, causada pelo profissinal da saúde, independente da intenção).

Uma obstrução vascular pelo excesso de material preenchedor é uma complicação iatrogênica. Um quadro de diplopia após a toxina botulinica estética (derivada de erro de técnica) é uma complicação iatrogênica.

Já uma cicatrização hipertrófica de uma cirurgia de lip-lift é uma complicação não-iatrogênica.

O ponto é que toda complicação demanda uma ação profissional complementar, diferente da abordagem das intercorrências. São ações para resolver NOVOS problemas que infelizmente surgiram no tratamento principal.

Por esta definição, até uma simples assimetria de sobrancelha depois de Toxina Botulínica pode se encaixar nas complicações iatrogências. Pense comigo:

  • Não era pra acontecer
  • Está diretamente relacionada à técnica/marcação da aplicação
  • Demanda uma ação para resolução do problema

Aqui entra a necessidade de muitos de se relativizar as coisas. Neste exemplo, se eu falar para o paciente que é uma complicação, ele poderá ficar mais assustado. Mesmo sendo uma complicação simples de se resolver. Daí o que fazer? Usa o termo intercorrência, como se fosse algo que IRIA acontecer.

Mas não pense que você, leitor(a) é a única pessoa que age assim. Eu confesso: para evitar desgastes com pacientes, muitas coisas que são complicações fáceis de serem sanadas, acabo eu mesmo falando o termo Intercorrência, porque “acalma um paciente ansioso”.

Sendo bem contundente: “Intercorrência é o eufemismo que os profissionais da saúde usam para não assumir erros”, nas palavras de Enis Donizetti Silva, presidente da Sociedade de Anestesiologia do Estado de São Paulo.

Ele está certo.

Efeitos adversos

Com esse nome, não deve ser nada bom, né? E não é…

Adverso

  • Que se opõe a; que contém ou expressa oposição; contrário.
  • Que carrega consigo a desgraça; que ocasiona infortúnio; prejudicial.
  • Que não é favorável; que não serve para ser consumido; que não pode ser utilizado; impróprio.

Primeiro, e mais importante: efeitos adversos só acontecem com o uso de medicamentos. Não existe um efeito adverso de uma cirurgia, por exemplo.

Denomina-se efeito adverso(ou também chamada reação adversa) ou efeito colateral um efeito diferente e indesejado daquele considerado como principal por medicamento.

OU, como a ANVISA define: “É qualquer resposta a um medicamento que seja prejudicial, não intencional, e que ocorra nas doses normalmente utilizadas em seres humanos para profilaxia, diagnóstico e tratamento de doenças, ou para a modificação de uma função fisiológica.”

Por exemplo: Reação adversa ao uso da toxina botulínica, como o surgimento de pontos inflamatórios nas áreas de aplicação, Uma reação de angioedema ao uso de um medicamento também se encaixa neste quadro.

Ao identificar um possível efeito adverso ou colateral indesejado, primeiro avalie o quadro:

  • É um fato prejudicial que acontece DEVIDO ao uso de um medicamento? OU seja, não foi por coincidência.
  • Só aparece quando o medicamento é utilizado?
  • É possivel substituir o medicamento por outro que cumpra as mesmas funções (por exemplo, não usar o Botox e usar o Xeomin no lugar)?

Isto entendido, caberá a você, profissional, tomar as devidas ações para que tudo se resolve da melhor forma possível!

Concluindo

Quantas e quantas vezes pego um paciente me ligando e falando algo tipo “isso aconteceu depois do que o doutor fez, não tinha antes”.

Não estou desmerecendo esta possibilidade, mas nem sempre o que acontece com o paciente tem uma relação de causalidade com o que o tratamento que você realizou. Mas  sempre falo para os aluninhos é que o culpado pela morte é sempre quem dá o último tiro.  E quem evita isto e proteje os profissionais são os consentimentos informados.

Nestes documentos você passa TODAS as informações aos pacientes e também se protege legalmente, já que o paciente, ao ler, compreender os termos e assinar, ele entende os riscos dos tratamentos estéticos da Harmonização Facial.

Uma coisa que você deve absorver como um mantra da harmonização facial: TUDO QUE VOCÊ FALA ANTES PARA O PACIENTE, É INFORMAÇÃO E ORIENTAÇÃO, TUDO QUE VOCÊ FALA DEPOIS DO ACONTECIDO, VIRA DESCULPA.

Quer saber fazer seus próprios consentimentos seguindo todas as normas para sua proteção? Conheça nosso curso que explica isso direitinho, e que te dá um modelo para que você personalize os próprios consentimentos! 

Até a próxima!


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Publicado por:
Mestre em Medicina/Cirurgia de Cabeça e Pescoço, Especialista em Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial, Prótese Dentária, Prótese Bucomaxilofacial e em Harmonização Orofacial. Coordenador de cursos em Implantodontia e Harmonização Orofacial do Instituto Velasco, Diretor do Hospital da Face. Trabalha desde 2011 em harmonização facial.