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O Uso de Fios de PDO na Harmonização Orofacial

Aqui você encontra a transcrição do Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Instituto Velasco, como requisito para obtenção do título de Especialista em Harmonização Orofacial da Dra. CASSIANA BRITO NOGUEIRA CABRAL DE MORAIS. Orientador: Professor Rogério Gonçalves Velasco.


Veja no final deste artigo como assistir à apresentação do trabalho e baixar o arquivo em PDF.


1 – Introdução

A passagem do tempo em nosso ciclo da vida é um processo inevitável e progressivo, a nossa face é o espelho desse ininterrupto processo. O envelhecimento facial afeta todas as camadas, desde a derme, ligamentos, músculos, tecido adiposo, até a estrutura óssea. Devido a grande procura, na atualidade, por terapias antienvelhecimento, a técnica do uso de fios absorvíveis tem sido cada vez mais procurada por pacientes que buscam por produtos e tecnologias que os levem para a eterna juventude.

Procedimentos para rejuvenescimento facial podem ser realizados tanto por intervenções cirúrgicas, como procedimentos menos invasivos, dependendo do grau de frouxidão do tecido, a avaliação do profissional e/ou a preferência do paciente (LYCKA et al., 2004).

Dentre os objetivos dos tratamentos de rejuvenescimento pode-se incluir a eliminação e suavização das rugas, a melhoria da cor, da elasticidade e textura da pele, restauração do seu volume e a eliminação da flacidez. Para alcançá-la é necessário estimular os processos fisiológicos de todas as estruturas da pele; restabelecer o volume perdido, corrigir o excesso de volume hipodérmico por lipolíticos, relaxar os músculos hiperativos da face e pescoço. Alguns procedimentos não cirúrgicos podem ser realizados para alcançar esses objetivos como: aplicação de toxina botulínica, aplicação de plasma rico em plaquetas, injeção de preenchedores e bioestimuladores, peeling, indução percutânea de colágeno, fototerapia e o uso de fios absorvíveis (LOPANDINA, I., 2018).

O interesse da população pelos fios absorvíveis de polidioxanona (PDO) tem aumentado constantemente, o que resulta no incentivo do desenvolvimento de técnicas para auxiliar no rejuvenescimento e proporciona um lifting facial menos invasivo. Vários dispositivos de PDO são comuns na Coreia do Sul, apesar de muitos estudos não serem publicados internacionalmente com tanta frequência (WU, W. E., 2004). O lifting facial com fios de sustentação é uma técnica cirúrgica minimamente invasiva de rejuvenescimento facial (ATIYEH, et al., 2010, TEJERO & GIL, 2018).

A necessidade de oferecer procedimentos menos invasivos em relação às cirurgias plásticas tornou o lifting facial com fios de sustentação um dos mais interessantes atualmente.

2 – Proposição

O objetivo deste trabalho é elucidar o uso de fios de polidioxanona (PDO) na harmonização orofacial por meio de uma revisão da literatura.

3 – Revisão da Literatura

YONGTRAKUL et al., 2016 realizaram um trabalho de revisão de literatura para verificarem as técnicas de lift de áreas específicas de acordo com o tipo de fio, com a seleção do paciente e como escolher o mais adequado para cada paciente. Eles observaram que existem várias técnicas que envolvem o uso de protocolos de fios lisos e espiculados simultaneamente, desenvolvidos para atender as expectativas e melhorar o grau de satisfação do paciente. Contudo, devemos sempre ter em mente que o foco principal deve ser a área de queixa principal do paciente, seguida da avaliação do profissional, que irá selecionar a técnica mais adequada para o paciente avaliado. Essas escolhas determinarão o quão positivos serão os resultados. De extrema importância ressaltar sempre aos pacientes as vantagens e desvantagens dos procedimentos, assim como, as limitações da técnica selecionada e possíveis complicações para o paciente.

KANG et al.; no ano de 2017 realizaram uma pesquisa buscando a melhor técnica para lifting facial nos orientais. Realizaram uma revisão da literatura em casos de flacidez facial tratada com fios curtos (60mm) espiculados bidirecionais. A pesquisa envolveu 39 pacientes sul coreanos, submetidos a uma única sessão de tratamento. Os resultados foram avaliados usando a fotografia de série e subjetivamente com base em índices de satisfação dos pacientes. Concluíram que o lift com fios de PDO do tipo espiculado curto bidirecional é seguro e eficaz para o rejuvenescimento facial em asiáticos. A conclusão foi que o procedimento é indicado para pacientes relativamente jovens, com grau moderado de flacidez. O ideal é que o paciente não tenha o malar proeminente. Vale ressaltar que essa técnica pode ser utilizada com sucesso em pacientes não asiáticos.

ALI Y. H.; em 2017 realizou um estudo comparativo com 63 pacientes divididos em 3 grupos, cada um contendo 21 pacientes. No primeiro grupo foi realizado o procedimento apenas uma vez utilizando fio espiculado 4D. No segundo grupo se utilizaram do tratamento combinado de fio de PDO, aplicação de toxina botulínica e aplicação de plasma rico em plaquetas (“PRP”) a cada 6 meses. Já o terceiro grupo foi submetido a três procedimentos de rejuvenescimento facial envolvendo: preenchimento, aplicação de toxina botulínica e PRP. O estudo teve por objetivo avaliar os seguintes três componentes em cada grupo: complicações durante todo o período de seguimento; grau de levantamento da pele em milímetros usando pontuação de elevação; e a satisfação do paciente durante todo o tempo de seguimento. O acompanhamento dos pacientes perdurou por 24 meses. Foram observados 3 casos de complicação durante os dois anos: um de quebra do fio no primeiro grupo; outro de superficialidade do fio no segundo grupo; e uma infecção no terceiro grupo. Os autores chegaram ao resultado de 100% de satisfação dos pacientes do grupo 2, concluindo que o uso combinado dos fios com outros procedimentos melhora significativamente os resultados no rejuvenescimento facial.

BORTOLOZO F., realizou no ano de 2017, um relato de 10 casos clínicos falando a respeito da técnica de elevação de sobrancelhas com fios de polidioxanona ancorados (PDO-A), chegando a conclusão que a técnica PDO-A de lifting com fios absorvíveis de PDO liso com ancoragem parece ser uma alternativa economicamente viável e com resultados comparáveis ou mesmo superiores aos fios absorvíveis atualmente existentes no mercado. Apesar de ainda necessitar seguimento de mais longo prazo, a técnica PDO-A é minimamente invasiva, com fixação e ancoragem promissoras no tratamento da flacidez em regiões de difícil abordagem (e.g.a região fronto-temporal).
A presença de fibrose dérmica no exame anatomopatológico confirma o conhecimento sobre a neocolagênse se relacionada ao uso de fios de PDO na sustentação facial. Este foi um trabalho preliminar. Novos estudos a respeito do uso do fio de polidioxanona na técnica PDO-A, com maior número de pacientes, com seguimento a longo prazo devem ser realizados para melhor compreensão e avaliação dos resultados obtidos com essa técnica alternativa de dermo-sustentação.

SHIN et al. em 2018, realizaram um estudo em ratos e compararam histologicamente a produção de colágeno promovida pelo uso de fios de PDO (polidioxanona) com diferentes números de filamentos, e pelo uso do fio de PLA (ácido poli-lático) monofilamento após 1, 2, e 12 semanas de inserção. Eles observaram uma maior produção de colágeno quando foram utilizados vários filamentos de fios de PDO em comparação com um fio único, e o aumento do número de fios conduz a uma maior síntese de colágeno. O auge da produção de colágeno ocorre após duas semanas da inserção até três meses. Com isso puderam concluir que os fios de PLA monofilamento apresentaram melhores resultados do que os fios de PDO monofilamento.

TANG, et al., 2018, relataram um caso clínico de um paciente do sexo masculino, 52 anos, que apresentava rugas estáticas, aprofundamento do sulco nasogeniano e ptose do terço inferior da face. Para tanto utilizou-se uma técnica inovadora com pequena incisão cirúrgica para ritidoplastia combinada ao uso de fios de polidioxanona (PDO). Foram inseridos 5 fios de PDO 19G, espiculado bidirecional, com cânulas de cada lado entre a prega lateral do sulco nasogeniano até a região pré-auricular, os fios foram puxados manualmente para reposicionar os tecidos e utilizando-se pressão digital sobre a pele para ancorar o fio no interior do tecido. No fim, foi realizado uma pequena incisão na região pré-auricular para remover o excesso de pele, fechando-o com fio de sutura prolene 6.0. Foi observado que essa técnica é segura e eficaz para o rejuvenescimento facial com a seleção adequada do paciente.

TEJERO e GIL, em 2018 após tratarem vários pacientes utilizando fios de PDO-COG baseados em projetos arquitetônicos de pontes suspensas, além da revisão de diferentes técnicas, propuseram a criação de alguns parâmetros para garantir uma maior ancoragem dos fios nos tecidos e otimizar os resultados utilizando pouco material. A técnica proposta é utilizar um único pertuíto para introduzir dois fios espiculados bidirecionais ou 3D, de preferência com cânula de modo que os vetores se encontrem no vértice superior. Uma vez colocados, torna-se necessário amarrar as extremidades livres, antes de cortá-las, para alcançar a máxima tensão e elevação do tecido subcutâneo. Ressaltou-se importância do nó permanecer completamente coberto pelo tecido cutâneo. Os autores observaram que o nó permite um resultado simétrico para distribuição adequada do peso dos tecidos em ambos os fios que conseguem reposicionar, trazendo o rejuvenescimento. Sempre nos lembram que os resultados serão bons desde que o profissional saiba selecionar o paciente: com ptose moderada; que tenham rejeição a técnicas mais invasivas e tenha aceitação do pós-operatório (desconforto, necessidade de dormir de costas; não gesticular muito ou massagear a área; e que efeitos adversos tais como hematomas, edemas e extrusão do nó podem ocorrer) e quando ocorre algum desses efeitos, eles podem ser facilmente solucionados, sendo esse o motivo de sua técnica ser consolidada.

Em 2018, GULBITTI, et al. fizeram uma revisão de literatura sobre os fios para lift facial, depois da busca inicial utilizando todos os termos técnicos para a pesquisa, o resultado foram188 artigos. Depois de filtrar os artigos duplicados e os artigos sobre procedimentos abertos, um total de 41 artigos permaneceu para a pesquisa. Destes, os artigos de revisão, relatos de casos clínicos e cartas ao editor foram posteriormente excluídos, da mesma forma foram excluídos os relatórios que lidam com fios, como Vicryl, Prolene e Gore- Tex. Isto resultou em um total de 12 artigos, 7 artigos adicionais desde os 5 artigos revistos por Villa et al. no ano de 2006. Com base na experiência clínica e a avaliação de Villa et al. há 11 anos, o uso de fios para realizar um lift facial minimamente invasivo destacou-se como uma técnica muito promissora. No entanto, essa análise demonstra claramente que, na última década, muito pouca evidência foi adicionada a literatura para apoiar tal afirmação. Todos as pesquisas incluídas nesta avaliação, exceto um estudo, demonstraram a durabilidade muito limitada do efeito lift. Apenas dois estudos, patrocinados por empresas fabricantes dos fios (Contour Threads e Silhouette Sutures), relataram resultados positivos. Um efeito direto e limitado de lifting e com pequena durabilidade foi a principal conclusão desta revisão sistemática do tratamento para lift facial.

KARIMI e REIVITIS, 2017, relataram um caso clínico de lift facial do terço inferior utilizando fio reabsorvível de polidioxanona (PDO) em uma paciente do sexo feminino, 52 anos, com flacidez de papada. Ela já utilizava cremes e preenchedores injetáveis (para as áreas peribucais), porém sem melhora. A paciente estava preocupada com sua aparência facial e tinha baixa auto-estima. Foi tomada a decisão de utilizar fios para levantar o terço inferior da sua face em três vetores diferentes, combinando com a injeção de agentes de preenchimento nas calhas lacrimais. Preenchedores foram utilizados para complementar os resultados obtidos pelos fios porque muitas vezes, quando o tecido era levantado, déficits de volume eram revelados. O procedimento foi realizado em menos de 30 minutos e foi bem tolerado, apresentando apenas um ligeiro inchaço nos pontos de inserção. A área de tratamento geral foi resolvida no prazo de 7 dias sem mais intervenções. Hematomas não foram observados. A paciente apresentou melhora notável 7 meses após o procedimento.

Karimi, K. realizou uma pesquisa em 2018, na qual relatou uma técnica não cirúrgica para procedimentos de lifting utilizando fios de polidioxanona. Essa técnica consiste em desenhar os vetores no rosto do paciente para o terço médio e inferior da face. Os fios espiculados com cânula são inseridos no tecido subcutâneo, a cânula é removida e o excesso do fio é cortado no ponto de inserção, com uma massagem suave realizada na direção do lift. O autor chegou a seguinte conclusão: fios de polidioxanona são uma nova ferramenta de lift desde que o paciente tenha indicação para realizá-la e que o uso de fios de polidioxanona auxiliam no resultado estético, especialmente quando combinado com neuromodulador e preenchimento. Na experiência do autor foi observado grande satisfação dos pacientes, o que tornou essa técnica de lift do terço médio e inferior da face com o uso de fios de PDO espiculados mais conhecida.

KIM et al., 2019, realizaram um estudo com o objetivo de determinar se a polidioxanona (PDO) pode ser efetiva como um estimulador de colágeno mesmo em forma de pó, o que iria permitir que ele fosse utilizado em forma injetável, da mesma forma que o acido poli-latico (PLLA). Por isso, comparou-se a resposta do tecido de um típico material de preenchimento biostimulatory PLLA com a polidioxanona em pó. Porque Sculptra® é composta por 150 mg de micropartículas PLLA, que variam de 40 a 63 μ m, 90 mg de CMC, e 127,5 mg de manitol. Misturou-se 150 mg de PDO em pó, em tamanhos que variam de 60 a 80 μ m, com 90 mg de CMC para comparar um produto PDO com a mesma composição que o produto de PLLA. A avaliação histopatológica revelou que os tecidos de ratos injetados com ambos PLLA e pó de PDO geravam reações granulomatosas, mas os tecidos injetados com apenas PLLA mostraram granulomas esclerosantes típicos que continham consideravelmente mais células gigantes do que os tecidos que foram injetados com o PDO. Observou que com o PLLA existe como uma forma cristalina de ácido polilático, e este estado de partículas induz granulomas de células gigantes. Já o pó de PDO formou menos células gigantes e mais histiócitos espumosos em reações granulomatosas. Na realidade, com o uso do PDO, foi observado nos tecidos corpos estranhos azulados de vários tamanhos e formas, rodeado por macrófagos, histiócitos e algumas células gigantes. Os resultados sugeriram que a injeção em pó de PDO induz a formação de colágeno mais eficaz do que injeção de PLLA, tornando o PDO uma boa opção para a formação de colágeno.

BASILE et al., em 2019 desenvolveu a técnica 3 S de verticalização da face com o objetivo de suspender, sustentar e suavizar os terços médio e inferior da face, reestruturando os tecidos e devolvendo a harmonia facial. Trata-se de um conjunto de procedimentos não cirúrgicos que envolvem o uso de fios de polidioxanona (PDO) e ácido hialurônico. Previamente, é aplicada Toxina Botulínica no músculo platisma, em suas bandas central, lateral e medial, a fim de reduzir a tração exercida pelo músculo e favorecer o efeito lifting alcançado com o protocolo da técnica. A avaliação funcional do paciente também poderá indicar a necessidade de bloqueio dos músculos da mastigação. Quinze dias após a aplicação de toxina botulínica, são inseridos os fios PDO.

4 – Discussão

Na busca por procedimentos mais seguros que sustentem o tecido flácido e que, ao mesmo tempo, provoquem efeitos colaterais limitados, surgiu o uso dos fios de sustentação absorvíveis. É importante ressaltar que tais fios não foram desenvolvidos para substituir ou competir com a ritidoplastia, eles complementam a cirurgia plástica ou a substituem somente nos casos em que a intervenção cirúrgica fica impossibilitada pelo estado de saúde geral do paciente (KUSZTRA, 2019).

A polidioxanona é uma substância sintética e biodegradável, usada há mais de duas décadas em forma de fios de sutura por cirurgiões de diferentes áreas e atualmente é empregada como material para fios de sustentação facial absorvível (KUSZTRA, 2019).

A polidioxanona é lentamente hidrolisada para um monómero de 2- hydroxyethoxyacetic que é principalmente excretada na urina. Tem sido muito utilizado como um fio de sutura e sem efeitos secundários significativos. Recentemente, a PDO também tem sido sugerida como um material para levantamento não-cirúrgico da face , tendo em vista seus efeitos benéficos, como por exemplo a síntese de colágeno, muito útil para o rejuvenescimento facial da pele em termos de flacidez e tratamento de rugas (Suh et al., 2015; Kim et al., 2019).

Segundo Yoon et al., 2018, a polidioxanona (PDO) é uma fibra sintética forte, sólida, biodegradável, e biocompatível. Os fios formados por esse polímero, quando inseridos no tecido subcutâneo, causam alterações específicas nos tecidos circundantes resultando na neocolagênese. O efeito Lifting e mudança na textura da pele observada com o uso desses fios devem-se a ativação e proliferação de miofibroblastos, o que torna a pele mais firme. O feixe fibroso formado a partir da inserção do fio de PDO une-se ao tecido conjuntivo fibroso pré-existente e provoca retração tecidual, contribuindo para o efeito lifting facial.

Os fios de PDO são multifilamentos estéreis sintéticos absorvíveis formados a partir da polimerização de monômero dioxanona, ele dá suporte à cicatrização por um período maior em comparação com outras suturas absorvíveis e tem excelente resistência à tração e flexibilidade. Sua absorção ocorre por hidrólise mínima de 180 dias da data do procedimento (YOON et al., 2018).

Segundo Lopandina I., 2018, para obter resultados visíveis no rejuvenescimento é necessário realizar estimulação patológica da síntese de colágeno, o que acarretará em renovar significativamente a estrutura da pele por meio de neocolagênese, isso é facilmente alcançado com o uso do fio de PDO, pois segundo Kusztra, 2019, a própria inserção dos fios irá causar um trauma localizado durante o percurso da agulha/cânula que vai desencadear um processo inflamatório imediato, seguido por produção de tecido reparador fibro colagenoso.

A resposta inflamatória imediata local é proporcional à espessura e/ou comprimento do fio inserido, assim como, o tecido atingido por esse procedimento que constitui o primeiro passo importante na formação da neocolagênese (LOPANDINA , 2018).

A inflamação localizada provoca hidrólise do fio de PDO, visando a desintegração do corpo estranho, em um processo que se completa depois de sete a nove meses. No lugar do corpo estranho, forma-se um tecido cicatricial composto por fibrina, elastina e colágeno. A duração do efeito benéfico, após a inserção do fio, é estimada entre 18 a 24 meses (YOON et al., 2018).

Na literatura (KUSZTRA, 2019;) foram relatadas algumas vantagens da utilização dos fios de PDO, como: não necessidade de anestesia geral; possibilidade de aplicação em ambiente ambulatorial; procedimento minimamente invasivo; rápido retorno ao convívio social do paciente; a reação inflamatória localizada e limitada; o estímulo da produção tecidual de colágeno endógeno; a simplicidade do procedimento e não exigência de equipamentos especiais; a possibilidade de poder ser utilizado em todos os fototipos de pele; reversibilidade dos efeitos, pois após a inserção do fio ocorre a degradação do filamento de forma lenta e gradual sendo completamente absorvido, além da obtenção de um efeito não cirúrgico de redução de flacidez da pele facial. O tratamento desta terapia pode ser realizado com intervalos de 3, 6, 12 meses (para avaliação dos resultados no paciente para correções ou tratamento de novas áreas) e os melhores resultados são obtidos a partir da inserção sistemática de vários fios.

Na tabela I é possível verificar quais os tipos de fios de PDO e suas características (LOPANDINA, 2018). Ela ressalta que para pacientes na faixa etária de vinte e cinco a trinta e cinco anos a indicação dos fios seria, principalmente para prevenir o envelhecimento e que para pacientes de trinta e cinco a setenta e cinco anos a indicação seria para tratar o envelhecimento.

Tabela I – Tipos de fios de PDO e suas características (LOPANDINA, 2018).
1 – Mono ou liso
2 – Mono duplo ou twin

Consiste em um fio liso. São usados, principalmente, para bioestimulação e blindagem do tecido. São dois fios, trançados ou torcidos entre si. Tem efeito duplicado quando comparado ao anterior. Consiste num fio espiral, torcido e enrolado ao redor da agulha em forma de espiral.

3 – Parafuso ou screw

4 – Parafuso duplo ou double screw

Consiste em dois fios torcidos entre si e enrolados ao redor da agulha em forma de espiral. Quando inserido no tecido preserva sua forma espiral. São mais traumatizantes e estimulam a neocolagênese mais efetivamente.

5 – Espiculados ou cog

São mais espessos formados com âncoras que são feitas de encaixe a laser na superfície dos fios. São significantemente mais grosso e mais forte, o que possibilita mover os tecidos moles do corpo e da face em qualquer direção.

No quadro abaixo se pode observar algumas indicações e contraindicações (ATIYEH, et al., 2010, KUSZTRA, 2019;) do uso dos diversos tipos de fios de PDO.

Indicações

  • Tratar/reduzir flacidez – rosto/pescoço Minimizar assimetria facial
  • Tratar/reduzir bolsas mandibulares, infraorbitárias e rugas periorbitárias
  • Levantar os cantos dos lábios corrigindo lábios caídos
  • Melhorar linha da mandíbula
  • Melhorar textura e luminosidade da pele
  • Melhorar sulco nasogeniano, rugas frontais e dorso nasal.
  • Tratar/reduzir linhas de marionete, rugas profundas ao redor das bochechas e bochechas caídas
  • Estimular a camada SMAS para dar firmeza à pele e aumentar elasticidade simultaneamente promovendo sua regeneração, ativando as proteínas da pele (colágeno, elastina)
  • Tratar flacidez das sobrancelhas e contorno dos lábios

Contraindicações

  • Infecção bacteriana ou viral cutânea na área a ser tratada
  • Utilização de isotretinoína nos 6 meses anteriores
  • Discrasias sanguíneas (anemia, coagulopatias…)
  • Pacientes com transtornos psiquiátricos
  • Hepatite B e C, infeção por HIV
  • Doenças autoimunes
  • Cútis laxa (doença do tec conjuntivo)
  • Pacientes portadores de doenças que excluam a opção cirúrgica
  • Histórico clínico de formação de queloides ou cicatrizes hipertróficas
  • Uso habitual de anti-inflamatório do grupo ibuprofeno (acelera absorção do fio)
  • Amamentação
  • Gravidez

Em 2008, Sulamanidze publicou um artigo sumarizando os tipos de fios e suas respectivas e apropriadas escolhas para cada região facial dependendo do tipo de paciente corroborando com o relatado por Yongtrakul et al., 2016.

Na figura 1 é possível observar a técnica e o tipo de fio mais indicada para cada caso dependendo do paciente (logaritmo com base no paciente retirado do trabalho de Yongtrakul et al., 2016).

Figura – 1 Logaritmo com base no paciente sugerido por YONGTRAKUL et al., 2016.

Shin et al. em 2018 relatou que a escolha do tipo de fio e técnica de inserção são fatores que interferem na qualidade dos resultados.

Como todo procedimento sério, se não for feito por um bom profissional, pode gerar várias complicações para o paciente.

Observar o plano correto de inserção do fio é de fundamental importância para alcançar os resultados desejados e evitar complicações. O plano correto para a inserção dos fios PDO é o tecido celular subcutâneo SMAS (sistema muscular aponeurótico superficial). Caso seja introduzido superficialmente poderá ser visível e doloroso ao toque e não irá estimular a produção de colágeno. Caso seja introduzido profundamente poderá lesar artérias, veias, o nervo facial ou qualquer estrutura profunda da face (RACHEL et al., 2010).

Os fios de sustentação de PDO, quando corretamente inseridos, resultam num efeito lifting mecânico, que será mantido devido ao efeito estimulador da formação de colágeno. Na maioria dois pacientes a aplicação conjugada de fios monofilamento, em espiral e com espiculados conduzem a um melhor resultado (RUFF, 2006).

Realizar a aplicação da toxina botulínica antes da inserção dos fios irá promover um relaxamento muscular e o colágeno que se forma durante esse período será mais uniforme e homogêneo, além de não exercer forças contrárias, o que poderia prejudicar os resultados, por isso, pode-se dizer que um procedimento complementa o outro (KARIMI, 2018).

Na literatura observamos algumas técnicas para inserção dos fios de polidioxanona.

A técnica proposta por Tejero e Gil, em 2018 é utilizar um único pertuíto para introduzir dois fios espiculados bidirecionais ou 3D, de preferência com a cânula, de modo que os vetores se encontrem no vértice superior. Uma vez colocados, os dois fios, é necessário amarrar as extremidades livres, antes de cortá- las, para alcançar a máxima tensão e elevação do tecido subcutâneo. Essa técnica pode ser visualizada na figura 2 que foi retirada de seu trabalho.

Figura 2 – Técnica proposta por TEJERO e GIL, 2018.

Karimi, em 2018, sugeriu uma técnica semelhante à de Tejero e Gil, porém sem amarrar as extremidades dos fios. Sua técnica consiste em desenhar os vetores (Figura 3 retirada de seu trabalho) no rosto do paciente para o terço médio e inferior da face. Os fios são inseridos no tecido subcutâneo, a cânula é removida e o excesso do fio é cortado no ponto de inserção e uma massagem suave é realizada na direção do lift.

Figura 3 – vetores para o terço médio e inferior da face (Karimi, 2018).

Basile et al., 2019, utiliza fios de PDO (COG 19G, 3D, de 160 mm com cânula) para reposicionar os terços médio e inferior da face em direções protocoladas em sua primeira etapa (Suspensão) da verticalização da face com a técnica 3S. Para tanto é realizada marcação da pele nos pontos de entrada e fim da trajetória dos fios. Após criação do pertuito, a inserção é feita com a cânula posicionada formando ângulo de 40° em relação à face até encontrar a hipoderme. A partir deste ponto posiciona-se a cânula em 10o, deslocando-a até a posição marcada. Esse procedimento é realizado após anestesia local aplicada com uma seringa de insulina no início, meio e fim da trajetória. O ponto de inserção dos fios, o pertuito, está no ponto médio da linha traçada do tragus à cauda da sobrancelha. Quatro outros pontos direcionam os fios em sua trajetória de inserção (figura 4). Após a inserção de todos os fios é preconizada a ativação, com tração ascendente promovendo o travamento na posição desejada, assim como, suave reposicionamento tecidual do terço inferior para médio. O fio deve ser sepultado em hipoderme com auxílio de uma tesoura. É recomendado minimizar a sobrecarga funcional, a mímica facial e excessiva abertura bucal por quinze dias.

Figura 4 – Marcação dos pontos de origem (A) e trajetória de inserção dos fios de PDO (B) na Técnica 3S. (BASILE et al., 2019). Ponto 1: Localiza-se anteriormente ao ponto médio da linha traçada da cartilagem alar até a comissura labial, anterior ao sulco nasolabial; Pontos 2 e 3: Localizados em uma linha que traçada da comissura labial ao mento, com espaçamento aproximado de 10 mm entre os mesmos; Ponto 4: Está no centro da bolsa de Jowls, 10 mm acima do contorno mandibular.

Nas figuras 5 e 6 é possível visualizar alguns resultados obtidos e cedidos pela Professora Ana Basile de em dois casos clínicos.

Pode-se dizer que o uso de fios de PDO na harmonização facial é relativamente recente e que mais estudos são necessários, o que também foi recomendado por diversos autores como: Sulamanidze, 2008; Yongtrakul et al., 2016 e Shin et al. em 2018.

5 – Conclusão

O uso dos fios de PDO na harmonização orofacial é um coadjuvante no rejuvenescimento e lifting facial, pois, estimula a formação de colágeno, contribuindo e potencializando os resultados, principalmente quando associado a outros métodos utilizados para alcançar a harmonia facial.


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Publicado por:
Mestre em Medicina/Cirurgia de Cabeça e Pescoço, Especialista em Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial, Prótese Dentária, Prótese Bucomaxilofacial e em Harmonização Orofacial. Coordenador de cursos em Implantodontia e Harmonização Orofacial do Instituto Velasco, Diretor do Hospital da Face. Trabalha desde 2011 em harmonização facial.