Aqui você encontra a transcrição do Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Instituto Velasco, como requisito para obtenção do título de Especialista em Harmonização Orofacial da aluno MARCELO PERES QUEIROZ DOS SANTOS. Orientador: Professor Rogério Gonçalves Velasco.
Veja no final deste artigo como assistir à apresentação do trabalho e baixar o arquivo em PDF.
1.Introdução
Desde os primórdios da humanidade podemos observar a preocupação dos nossos antepassados em deixar registrado para as futuras gerações: histórias, acontecimentos, descobertas; seja por meio de figuras, desenhos em cavernas, esculturas em pedra, escritas em papiro, etc., ou seja, há muitos séculos o homem entendeu a importância de registrar fatos, conhecimentos, para que estes não fossem perdidos ao longo do tempo.
É frequente acharmos na literatura referencias à história da humanidade, pinturas rupestres, pinturas em quadros, esculturas, ou seja, símbolos que conseguiram transmitir informações importantes entre povos geograficamente distantes e entre diferentes gerações.
Com o surgimento da fotografia, há quase 200 anos (a primeira fotografia reconhecida remonta ao ano de 1826 e é atribuída ao francês Joseph Nicéphore Niépce) a comunicação entre as pessoas aprimorou-se muito rapidamente. Na odontologia a fotografia tornou-se um importante recurso, sua utilização é cada vez mais utilizada durante o diagnóstico e o planejamento de casos clínicos, contato multiprofissional entre as mais diversas especialidades e comunicação entre profissionais e técnicos de laboratórios (MACHADO et al., 2005).
O recurso fotográfico enriquece de informação o trabalho do cirurgião-dentista, desperta a atenção e interesse dos pacientes (OLIVEIRA et al., 2011). Segundo MACHADO et al., 2006 e OLIVEIRA et al., 2011, as fotografias intra e extrabucais são recursos indispensáveis para o diagnóstico clínico, pois apresentam, de forma bastante clara e objetiva, uma gama de informações.
As fotografias exercem um papel muito importante para o planejamento e acompanhamento do tratamento proposto, tanto pelo profissional como pelo paciente. Ela possibilita a análise comparativa das várias fases do tratamento.
As fotografias devem estar padronizadas para que possam ser comparadas umas com as outras, ou seja, a documentação de imagens na pesquisa científica pode tornar seus resultados passíveis de mensuração, podendo ser analisados de forma objetiva e precisa.
Na Harmonização Orofacial isso é de fundamental importância para se observar a evolução e mudanças proporcionadas pelos procedimentos realizados.
2. Proposição
O objetivo deste trabalho é relatar um protocolo, para tentar estabelecer uma padronização das imagens utilizadas como instrumentos de verificação na evolução dos procedimentos realizados na harmonização orofacial.
Para isso: será descrito os equipamentos necessários para a realização das fotografias; serão indicadas as tomadas fotográficas necessárias; e serão indicadas as posições do cirurgião dentista, da câmera e do paciente para o correto alinhamento da fotografia.
3. Revisão da Literatura
BOCK, M., 2001, por meio de um estudo comparativo, avaliou a qualidade das fotografias entre duas câmeras similares, sendo uma analógica e a outra digital. Nesse estudo ele concluiu que, em termos de qualidade, a fotografia tradicional ainda supera a digital, principalmente quando essas são impressas em papel fotográfico.
SOMMER e MENDELSOHN, 2004, investigaram como o posicionamento variado de um objeto pode levar a uma alteração da aparência e, consequentemente, ocasionar avaliações diferentes dos achados. Eles concluíram que até mesmo uma pequena variação do posicionamento, tal como flexão ou extensão da cabeça, pode ocasionar alterações na imagem de maneira geral. Eles relataram ainda, que uma documentação fotográfica cientificamente adequada requer que o objeto a ser registrado seja fotografado de vários ângulos e perspectivas e o plano horizontal de Frankfurt desempenha um papel particularmente importante para alcançar a padronização, com imagens frontais, laterais e em um ângulo de 45º. Assim, forma-se uma linha imaginária entre a borda superior do tragus e da borda infraorbital.
HOCHMAN, B. et al., 2005, nesse trabalho, tiveram como objetivo transmitir os princípios desenvolvidos na especialidade da cirurgia plástica e outras da área clínico-cirúrgica. Foi descrito o equipamento fotográfico básico para um pesquisador na área cirúrgica, e propostos padrões de apresentação e posicionamento do paciente, assim como de sistematização fotográfica e enquadramento utilizando pontos de referência anatômicos. Essa padronização resultou numa fiel comparabilidade entre fotografias pré e pós-operatórias.
LOPES NETO D. F., 2008, realizou um estudo comparativo para avaliar a qualidade de três sistemas fotográficos: fotografia digital, fotografia analógica com filme negativo e fotografia analógica com filme positivo digitalizada. Foram realizadas quatro fotografias de cada sistema (duas faciais e duas intrabucais). As câmeras eram similares e utilizavam o mesmo sistema de flash e objetiva. Todas as fotos foram realizadas pelo mesmo operador. As imagens foram reveladas pelo mesmo processo e agrupadas aleatoriamente, em seguida foram examinadas por sessenta examinadores sendo eles ortodontistas, leigos e fotógrafos, divididos igualitariamente. Após analisar os três grupos fotográficos, concluiu que o digital ainda é inferior em relação ao analógico, as maiores notas foram dadas ao grupo fotografia analógicas com filme negativo e fotografia analógica com filme positivo digitalizado, respectivamente.
AMARAL, V. e THOMAZ, C. E., 2008, fizeram um relatório propondo uma sequência de processamento de imagens para normatização de fotos frontais de face. Para isso, desenvolveram um arcabouço computacional capaz de minimizar os desvios gerados no processo de captura. Foi fundamentado na proposta de interação mínima do usuário, e para a execução do procedimento apresentado era necessário apenas a definição das dimensões de edição em unidades de pixels e a identificação manual da posição das pupilas como pontos de referência para realização dos cálculos. Os resultados iniciais demonstraram o aumento da nitidez em pontos específicos da face média e o aumento da correlação matemática entre as faces normalizadas, o que, para eles justifica a aplicação dos métodos sugeridos.
MANINI, M. P., 2011, relatou em seu trabalho que a fotografia orbita em torno de três eixos conceituais: imagem, memória e informação, o que foi chamado de tripé fotográfico. Dividido – não de maneira absoluta – também em três partes, quais sejam fotografia como Imagem, fotografia como memória e fotografia como informação, o trabalho reuniu esta tríade que conforma o documento fotográfico presente não só em arquivos, mas em outras instituições reconhecidas como lugares de cultura e memória. Em fotografia como imagem, a abordagem gira em torno dos signos constituintes e observáveis na imagem fotográfica a partir de análises orquestradas por Charles Sanders Peirce, apresentadas por Philippe Dubois, e passando também pelo crivo semiológico de Roland Barthes. Em Fotografia como memória, trabalha-se o aspecto do registro perpetuador do referente, resultante da abordagem acima, que torna a fotografia um objeto do passado e, portanto, um objeto de memória, fazedor de lembranças, provocador de rememorações e ponto inicial de narrativas memorialistas. Em fotografia como informação, voltaram ao tema da representação e da análise documentária de fotografias, ferramenta da ciência da informação e da documentação no acesso e compartilhamento de memórias.
CODARIN, G. F. et al., 2012, mensuraram o erro das medidas angulares em imagens fotográficas com diferentes resoluções digitais em um objeto com ângulos pré-demarcados, utilizaram uma esfera de borracha com 52 cm de circunferência. O objeto foi previamente demarcado com ângulos de 10º, 30º, 60º e 90º, e os registros fotográficos foram realizados com o eixo focal da câmera a três metros de distância e perpendicular ao objeto, sem utilização de zoom óptico e com resolução de 3, 5 e 10 Megapixels (Mp). Todos os registros fotográficos foram armazenados, e os valores angulares foram analisados por um experimentador previamente treinado, utilizando o programa ImageJ. As aferições das medidas foram realizadas duas vezes, com intervalo de 15 dias entre elas. Posteriormente, foram calculados os valores de acurácia, erro relativo e em graus, precisão e Coeficiente de Correlação Intraclasse (ICC). Os autores observaram que na analise do ângulo de 10º, a média da acurácia das medidas foi maior para os registros com resolução de 3 Mp em relação às resoluções de 5 e 10 Mp. O ICC foi considerado excelente para as três resoluções de imagem analisadas e, em relação aos ângulos analisados nos registros fotográficos, foi verificado maior acurácia, menor erro relativo e em graus e maior precisão para o ângulo de 90º, independentemente da resolução da imagem, com isso, concluíram que os registros fotográficos realizados com a resolução de 3 Mp proporcionaram medidas de maiores valores de acurácia e precisão e menores valores de erro, sugerindo ser a resolução mais adequada para gerar imagem de ângulos de 10º e 30º.
FERNANDES, E. M., 2013, em sua monografia, realizou uma revisão de literatura e sugeriu um protocolo fotográfico de documentação clínica para cirurgiões-dentistas. Foram abordados os principais conceitos fotográficos, as particularidades de uma câmera fotográfica e suas principais funções: objetiva; abertura do diafragma; profundidade de campo; corpo da câmera; foco; etc. Foram apresentadas algumas funções da fotografia na área odontológica, como planejamento, marketing, documentação, comunicação e demanda legal. Discutiram, também, as principais diferenças entre a fotografia convencional e a digital, como a qualidade da imagem, o armazenamento da fotografia, a visualização, a validade jurídica e a sensibilidade ISO. Ele concluiu que a fotografia odontológica é um método eficiente não só de documentar casos clínicos como também pode servir de amparo legal em alguma questão judicial e que a diminuição do custo da tecnologia, aliado ao aprimoramento dos equipamentos disponíveis que vêm sendo experimentados nos últimos anos, transformou a fotografia num recurso que pode ser utilizado no cotidiano dos profissionais das várias especialidades e ressaltou que o uso de um protocolo inteligente, objetivo e abrangente facilita a execução e a padronização das fotografias além de ampliar as possibilidades de aplicação.
DIAS, N. M. Z. et al., 2017, fizeram um levantamento bibliográfico para estabelecer um protocolo de foto documentação de tratamentos faciais de forma simples, porém, respeitando princípios básicos de um bom registro fotográfico. O protocolo foi realizado em uma voluntária e concluíram que é fundamental que se estabeleça normatização para registro fotográfico facial padronizando posições e ângulos fotográficos, controlando a iluminação, distâncias do fotógrafo e fundo, e com equipamento ideal, pois os registros permitiram a análise comparativa dos resultados durante todo o tratamento estético da face.
4. Material e Método
Foi criado um conjunto de normas a serem seguidas para padronizar as fotografias faciais, com critérios pré-estabelecidos como, por exemplo: a facilidade de acesso aos materiais e equipamentos, a simplicidade para se seguir um padrão de posicionamento correto do paciente, bem como o controle do ambiente no momento do registro fotográfico.
Isso é necessário para que a comparação do antes e depois não seja afetada por condições diferentes no momento do registro (KEDE e SABATOVICH, 2009).
Para o processo de registro fotográfico é fundamental seguir uma sequência para alcançar a padronização das ações do registro fotográfico nos diferentes momentos do tratamento estético.
Sequência dos passos estabelecidos para alcançar a padronização das fotografias em diferentes momentos.
1 – Escolher a câmera fotográfica.
A máquina fotográfica utilizada foi Nikon, modelo D-7000 (figura 1), a mesma foi regulada no modo automático e a distância focal foi padronizada em 60mm;
Figura 1 – câmera fotográfica – Nikon, D-7000.
2 – Escolher o espaço para o posicionamento do paciente.
O espaço escolhido para o posicionamento do paciente não deve ter luz que incida diretamente sobre sua face para não produzir sombras.
3 – Preparar o ambiente.
– Escolher o fundo fotográfico (o fundo utilizado foi preto);
– Determinar a iluminação (foram colocados dois iluminadores de led, um de cada lado, na posição de quarenta e cinco graus em relação ao paciente, ambos devem estar na mesma altura e ter a mesma potência de luz). Na figura 2 é possível visualizar o fundo preto e os iluminadores de led utilizados.
Figura 2 – Fundo preto e iluminadores de led utilizados.
– Demarcar o grid no solo para o posicionamento do paciente. Foi realizada uma marcação com fitas diretamente no solo (figura 3), de tamanho suficiente para que a pessoa possa se movimentar dentro dele, sem deslocar o eixo da cabeça.
Figura 3 – Grid no solo para posicionamento do paciente.
Demarcou-se no piso 40 cm à frente do fundo fotográfico uma linha paralela ao mesmo, e a partir do meio desta traçou-se, perpendicularmente, uma segunda linha e entre ambas as linhas anteriores demarcou-se, uma terceira e quarta linha a 45 graus de cada lado da linha anterior, respectivamente.
E, a partir da intersecção das linhas do grid demarcou no piso a distancia de um metro para o posicionamento da câmera, dessa forma, o paciente ficaria 1 metro distante do fotógrafo. (figura 4).
Figura 4 – Demarcação no grid da distância do fundo fotográfico e do posicionamento da câmera fotográfica ate o posicionamento do paciente.
Esse procedimento foi realizado para minimizar imprecisões em relação à angulação e a movimentação do modelo para tentar obter os registros fotográficos das posições oblíquas e perfil. – Posicionar o tripé (a posição do tripé foi previamente demarcada no solo (figura 5), para mantê-lo sempre no mesmo local, e não ocorrer à movimentação da maquina fotográfica).
Figura 5 – Demarcação no solo para posicionamento do tripé.
4 – Determinar as posições das fotografias a serem registradas.
As fotografias da face registradas foram nas seguintes posições: Cefálica Anterior; Cefálica Oblíqua Direita e Esquerda, Cefálica Perfil Direito e Esquerdo (figuras 6, 7, 8, 9 e 10 respectivamente) – fotos retiradas do trabalho de DIAS et al., 2017.
Figura 6 – Fotografia na posição Cefálica Anterior
Figura 7 – Fotografia na posição Cefálica Oblíqua Anterior Direita
Figura 8 – Fotografia na posição Cefálica Oblíqua Anterior Esquerda
Figura 9 – Fotografia na posição Cefálica Perfil Direito
Figura 10 – Fotografia na posição Cefálica Perfil Esquerdo
5 – Enquadrar a face.
O enquadramento da face foi realizado de modo que a mesma ficasse centralizada e as distâncias laterais iguais, entre o lado esquerdo e o direito da cabeça. Para o registro das fotografias nas diferentes posições a paciente deve girar em torno de si dentro do espaço demarcado (figura 11) e se posicionar na angulação correta para o registro da fotografia, de modo a não sair do centro da demarcação e não mudar o eixo da cabeça.
Figura 11 – Espaço demarcado para posicionamento do paciente.
Para registros de fotografias de perfil, o posicionamento da cabeça deve ser neutro com a pessoa posicionada de lado;
– Para a posição oblíqua, solicitar leve rotação lateral a quarenta e cinco graus à direita e depois à esquerda, para esta rotação o paciente deve mover o corpo e não somente a cabeça, utilizando como guia as marcações do grid no solo. Na figura 12 (retirada do trabalho de HOCHMAN, B. et al.,2005) é possível visualizar o posicionamento dos pés para cada incidência das fotografias.
Figura 12 – Esquema de posicionamento dos pés nas fotografias. A. incidência anterior; B. incidência em perfil direito e esquerdo; C. incidência oblíqua esquerda; D. incidência oblíqua direita.
Nas figuras 13, 14 e 15 é possível visualizar o posicionamento dos pés dentro do grid marcado no chão.
Figura 13 – Posicionamento dos pés dentro do grid para incidência fotográfica anterior.
Figura 14 – Posicionamento dos pés dentro do grid para incidência oblíqua.
Figura 15 – Posicionamento dos pés dentro do grid para incidência em perfil.
No momento do registro da fotografia, solicitar ao paciente que se mova, sem sair de dentro do grid, obedecendo ao posicionamento de noventa e de quarenta e cinco graus para as poses de perfil e oblíqua, respectivamente.
6 – Verificar posição da cabeça.
O posicionamento da cabeça deve estar em posição neutra de modo a não alterar o formato do rosto. O pescoço e o dorso devem estar eretos (sem flexão ou extensão da coluna cervical), e o olhar do paciente deve estar direcionado horizontalmente para os pontos de referência que foram demarcados previamente nas paredes da sala com base em sua altura (figura 16).
Figura 16 – Demarcação do ponto de referência para o olhar do paciente.
7 – Posicionar a câmera fotográfica.
A câmera deve ficar na posição frontal em relação ao paciente e estar fixada no tripé. Ela não poderá ficar inclinada para cima ou para baixo. Deve-se posiciona-la o mais frontalmente possível, em linha reta em relação à face do paciente.
8 – Certificar o posicionamento do paciente e efetuar o disparo para a tomada fotográfica.
Depois de verificado o enquadramento, apertou o botão do disparo em meio curso para fazer o foco, certificou que o posicionamento do paciente estava correto e apertou o botão do disparo até o fim para a tomada fotografica.
9 – Transferir os arquivos da câmera fotográfica para o computador.
Para minimizar os efeitos causados pelo fotógrafo, sem alteração da fidelidade da imagem, o arquivo da câmera foi transferido para o computador a fim de se usar o programa Adobe Photoshop, que é um programa editor de imagens, para que as mesmas fossem padronizadas em relação ao tamanho e centralizadas de forma mais precisa. O padrão de arquivo escolhido para o trabalho foi o JPEG (Joint Photographic Experts Group).
5. Resultados
A padronização descrita ao longo do trabalho contribuiu de forma efetiva a não ocasionar diferenças entre as imagens registradas em diferentes momentos, possibilitando o uso das mesmas como instrumentos de verificação na evolução dos procedimentos realizados na harmonização orofacial. As figuras 17, 18, 19, 20 e 21 retratam as fotografias obtidas de uma paciente, em momentos diferentes, seguindo o protocolo descrito nesse trabalho.
Figura 17 – Fotos da paciente em posição cefálica anterior realizadas em momentos diferentes.
Figura 18 – Fotos da paciente em posição cefálica perfil esquerdo realizadas em momentos diferentes.
Figura 19 – Fotos da paciente em posição cefálica perfil direito realizadas em momentos diferentes.
Figura 20 – Fotos da paciente em posição cefálica obliqua direito realizada em momentos diferentes.
Figura 21 – Fotos da paciente em posição cefálica obliqua esquerdo realizada em momentos diferentes.
6. Discussão
A finalidade da fotografia na área da saúde, não é o resultado sob o ponto de vista artístico, com técnicas sofisticadas de laboratório ou efeitos de iluminação de estúdio para se obter um “falso resultado positivo”, ela representa uma documentação ou um exame e, como tal, tem que ser o mais real e sem interferências possível.
A diferença entre a fotografia para as diferentes áreas da saúde e a fotografia para fins artísticos ou jornalísticos é que na primeira deve-se retratar o real e não aquilo que se deseja transmitir. Em contrapartida, na fotografia jornalística não se pode eliminar nenhum componente do quadro fotográfico real, já na fotografia da saúde, devem-se eliminar objetos estranhos que interfiram na atenção do assunto fotografado, como por exemplo, as mãos dos cirurgiões ou compressas cirúrgicas, uma vez que o intuito da documentação não é expor ou evidenciar algum fato polemico, mas sim dar atenção ao foco do problema para assim documenta-lo no intuito de uma futura reavaliação, proservação ou comparação com a imagem inicial.
A maioria das especialidades cirúrgicas visa o restabelecimento da função de algum órgão ou aparelho, com exceção da Cirurgia Plástica, que tem como objetivo também a manutenção e melhoria da forma/estética. Por isso, desde 1954, durante o I Congresso Internacional de Cirurgia Plástica em Estocolmo (Suécia), quando Harold Guillies afirmou que o avanço mais importante da especialidade na época era a fotografia, o cirurgião plástico tem estado na vanguarda da fotografia médica cirúrgica (HOCHMAN, B. et al., 2005).
A maioria dos trabalhos realizados por cirurgiões-dentistas é feita em áreas de difícil visualização, portanto boas fotografias podem transformar o paciente em um divulgador do trabalho do profissional.
Uma forma de marketing interessante é sugerir que o paciente leve consigo um comparativo entre o antes e o depois de seu tratamento. Os pacientes frequentemente mostram essas imagens a parentes e amigos, realizando um marketing de forma natural.
Outra ação interessante é deixar à disposição na recepção do consultório fotografias de tratamentos realizados. Isso faz com que o paciente conheça mais sobre o trabalho do dentista, desperte o interesse em realizar algum tipo de tratamento e gere maior confiança do paciente no profissional.
Ações como essas são importantes, baratas e eficientes (MLADENOVIĆ et al, 2010; MASIOLI, 2012). Na harmonização orofacial, para fins de demonstrar a evolução do tratamento, o uso do registro fotográfico é cada vez mais requisitado pelos profissionais como instrumento de avaliação das fases do procedimento e dos resultados alcançados, além de monitorar a qualidade e a longevidade do tratamento realizado. (SANDLER e MURRAY, 2002; CHRISTENSEN, 2005; MLADENOVIĆ et al. 2010; MCDONNELL e NEWSOME, 2011).
Dessa forma, a tendência é que cada vez mais os profissionais utilizarem a fotografia como ferramenta eficaz que contribua para que seu trabalho seja avaliado e sua evolução acompanhada. As fotografias devem ser datadas, nomeadas e facilmente recuperadas, quando necessário, para visualização e avaliação do profissional e paciente.
E não se pode esquecer que em toda e qualquer campanha que use documentação de pacientes é necessário o consentimento por escrito do mesmo (MCDONNELL e NEWSOME, 2011). Segundo Garcia e Borges (2010) para a realização dos registros fotográficos há necessidade de ter como referência alguns parâmetros indispensáveis para o registro ser realizado com maior fidelidade, e de forma a não ocasionar diferenças entre as imagens nos diversos momentos do tratamento, fazendo assim, com que as mesmas sirvam de instrumentos de verificação da evolução de um determinado tratamento estético.
Com relação às câmeras fotográficas, atualmente as mais utilizadas são digitais, sendo que não precisam ser de última geração para atender às necessidades do registro fotográfico durante os procedimentos estéticos (MARTINS, 2010).
A máquina fotográfica digital se estabelece como uma ferramenta que reduz custos, permitindo múltiplas tomadas e aumenta a versatilidade, possibilitando a visualização imediata e possibilita fidelizar a imagem mais próxima da realidade além de facilitar a formatação de arquivos para consultas (MACHADO et al., 2005; MIOT et al., 2006; MORAES et al., 2010).
Sua desvantagem é em relação à qualidade da imagem, pois segundo Lopes Neto (2008) a fotografia convencional continua sendo superior quando comparada com a fotografia digital. Existem câmeras digitais comuns que são pequenas, portáteis e com preços mais acessíveis, indicadas para diversos tipos de fotografias; possuem sistemas automáticos satisfatórios que conseguem extrair a melhor imagem em diversas situações.
De acordo com Costa (2005), deve-se observar qual a resolução da máquina digital escolhida, pois esta corresponde à sua capacidade de representar os detalhes da imagem que se quer registrar. A resolução da imagem é dada pelo número de pixels ou megapixels (MP) que vem descrito na máquina. Para reprodução das fotografias em papel com imagens de até dez por quinze centímetros, o ideal é que se tenha um equipamento a partir de cinco MP para impressão de alta qualidade (quanto maior a quantidade de pixels melhor será a qualidade final).
Para a escolha do equipamento, o profissional deve se basear no que será fotografado e dentro de seu próprio orçamento, pois nos dias atuais está à disposição diversos tipos de equipamentos, marcas e preços. (PINHEIRO, 2013).
E graças a essa grande oferta pode-se afirmar que todas as câmeras funcionam bem e são confiáveis dentro de suas especificações (ANG, 2012). Qualquer que seja a escolha é necessário ter conhecimentos básicos das técnicas de fotografia, sendo o mais importante independente do avanço da tecnologia é a observação do controle da luz no momento da fotografia a fim de evitar sombras. (MARTINS, 2010).
Para iniciar a tarefa de foto documentação científica é necessário o preparo adequado do ambiente, mesmo que este seja uma sala improvisada. É importante que se tenha o controle da iluminação para obter uma boa fotografia. Luz demais ou de menos interfere no resultado final do trabalho, luz em excesso pode marcar os sulcos da face, rugas ou cicatrizes ao passo que pouca iluminação poderá gerar a incidência de sombras acentuando as pregas ou cicatrizes (HOCHMAN et al., 2005.)
Nesse trabalho o paciente foi colocado em uma posição sem incidência de luz direta, para se evitar sombras o que não favoreceria a análise no registro fotográfico. Para evitar a formação das sombras foi utilizado luz indireta, colocando dois iluminadores de led, um de cada lado, na posição de quarenta e cinco graus em relação ao paciente, ambos na mesma altura e com a mesma potência.
Além da iluminação, o fundo fotográfico também é um ponto importante a ser considerado devendo ser de cor neutra e opaca para não haver reflexos como em um fundo de textura lisa sem a interferência de objetos que desviem a atenção do observador (HOCHMAN et al., 2005; GARCIA e BORGES, 2010), dessa forma o fundo preto foi o escolhido para esse trabalho.
Após a escolha da câmera, é necessária a adoção de alguns critérios para escolha da posição ideal para as fotografias, no caso de fotografias da face para acompanhamento da evolução de um tratamento se faz necessário o registro em várias posições. O primeiro critério para escolha destas posições é evidenciar a área que está sendo tratada (STOCCHERO e TORRES, 2005), sendo mais apropriado posicionar a câmera para um enquadramento na vertical (GARCIA e BORGES, 2010).
A recomendação é registrar uma fotografia de cada posição: Cefálica Anterior, Cefálica Oblíqua Anterior Direita, Cefálica Oblíqua Anterior Esquerda, Cefálica Perfil Direito e Cefálica Perfil Esquerdo. Lembrando, sempre, de observar o posicionamento da cabeça, pois um posicionamento inadequado pode alterar o formato do rosto; com isso, a posição deve ser neutra, sendo o mesmo princípio adotado para fotografias de enquadramento de face oblíquas e perfil (STOCCHERO E TORRES, 2005).
Segundo Kede e Sabatovich (2009) a posição em pé do paciente é a melhor para fotografar a face. Todos esses relatos justificou a escolha das posições do paciente, padronização para o posicionamento da cabeça e direção do olhar para um ponto pré-determinado em nosso trabalho. Para o protocolo estabelecido, foi realizado uma marcação no solo e determinado uma distancia de 1m entre o centro do posicionamento do paciente até a posição da câmera para que os enquadramentos da face estejam sempre da maneira mais semelhante possível, o que também é recomendado por por Hocham et al., 2005.
Para CHRISTENSEN, 2005 e MACHADO et al., 2006, as fotografias padronizadas e bem realizadas possuem diversas vertentes na área odontológica para: documentação e avaliação dos trabalhos executados; comunicação entre profissionais e orientação aos pacientes; planejamento; marketing; e elucidação de demandas legais. Fotografias de boa qualidade passam credibilidade do profissional ao paciente.
Com uma documentação padronizada podemos criar bibliotecas com imagens de tratamentos anteriores, que servirão como referência para tratamentos futuros. Essas imagens ajudarão na aceitação dos pacientes e lhes apresentarão alternativas de tratamento, facilitando o entendimento sobre os procedimentos e ajudando na escolha do que irá ser executado (CHRISTENSEN, 2005; OLIVEIRA et al., 2011).
Para alcançarmos a padronização e fotografias de boa qualidade é fundamental a utilização e o domínio de protocolos bem definidos, tornando as tomadas fotográficas mais rápidas, práticas e padronizadas, o que também foi relatado por Yoshio e Calixto, 2011.
A expressão facial do modelo no momento do registro fotográfico dependerá do tipo de tratamento que esteja sendo realizado na sua pele.
No caso do tratamento de rugas dinâmicas e linhas de expressão, pode-se solicitar ao modelo que execute contrações dos grupos musculares da face, fotografando-o em todas as poses, e repetindo depois as mesmas poses com a face relaxada.
Com o protocolo descrito nesse trabalho, foi possível estabelecer uma padronização, e foi observado que mesmo seguindo todos os passos é muito fácil ocorrer um desvio na posição do paciente, principalmente na posição de 45º.
7.Conclusão
Com base nos relatos acima descritos, concluímos que existe a necessidade de se estabelecer um protocolo para o registro fotográfico dos pacientes submetidos às diferentes terapias da harmonização orofacial, padronizando posições e ângulos fotográficos, controlando a iluminação, distâncias do fotógrafo e fundo, pudemos observar que a técnica apresentada foi eficaz, pois os registros permitiram a análise comparativa das fotos realizadas em diferentes momentos, o que é um grande auxílio para os cirurgiões-dentistas na obtenção de imagens que possam ser utilizadas de forma precisa e objetiva permitindo a análise da evolução dos tratamentos realizados na harmonização orofacial, além de satisfazer plenamente a finalidade como documentação.
Conheça o nosso curso Online Fotografia Odontológica e na Harmonização Orofacial e domine a técnica da fotografia com telefones celulares, máquinas compactas e maquinas profissionais!
Como pedir para seu paciente enviar uma foto na Harmonização?
Agora que você sabe tirar as fotos no consultório, que tal orientar seus pacientes como fazer as próprias fotos?
Pacientes gostam de mandar fotos para quem faz harmonização facial, né? Mas é cada foto que recebemos que não dá nem pra ver o que precisa ser visto. Até tudo bem, um paciente não precisa saber tirar fotos técnicas e corretas.
Então um video rapidinho para explicar como os pacientes podem enviar as suas selfies e permitir melhor diagnóstico dos problemas pelos profissionais, sem nada muito técnico!