Toxina Botulínica causa Reabsorção Óssea?

Toxina Botulínica causa Reabsorção Óssea?

Será que o uso continuado de toxina botulínica realmente causa alterações ósseas, ou melhor, perdas ósseas?

A resposta curta, incompleta e só parcialmente correta seria simplesmente : sim, pode causar reabsorções ósseas.

MAAAAAAS devemos acrescentar várias informações a este questionamento. Não pode parar por aí. Muitas vezes encontramos postagens em mídias sociais procurando criar polêmicas onde não se deve polemizar, tudo em troca de visualizações e compartilhamentos espontâneos.

Então vamos discutir o porquê desta alteração óssea, e entender se reabsorção óssea é deletéria ou é simplesmente uma adequação do tecido ósseo devido às “novas” forças musculares que incidem sobre a região.

O que a ciência mostra?

Existem uma infinidade de artigos científicos mostrando que o bloqueio da ação muscular usando toxina botulínica podem de fato levar ao quadro de osteopenia ou osteoporose no osso que dá origem ao músculo afetado.

Na grande maioria dos trabalhos que apresentam estes quadros deletérios, o bloqueio muscular é quase que integral. Como assim? A paralisia provocada é muito intensa, interrompendo qualquer movimentação muscular da área de estudo.

Por exemplo: utilizando-se cobaias e através da toxina botulínica, realiza-se uma paralisia completa dos músculos da perna da cobaia. Em algumas semanas, quando da análise histológica e radiográfica do fêmur, por exemplo, este apresenta características compatíveis com a osteopenia ou osteoporose. Ou seja, uma perda óssea importante e patológica.

Mas curiosamente, este efeito é reversível. Quando suspende-se o uso da toxina e aguarda-se o tempo de recuperação, nas mesmas análises o tecido ósseo retomou seus padrões pré-paralisia.

Muitos, muitos trabalhos apresentam metodologias de estudo e resultados semelhantes a isto que relatei acima, então é um ponto já reconhecido. Portanto a sequela da perda óssea, quando acontece devido à paralisia iatrogênica com toxina botulínica, é 100% reversível quando se suspende a terapêutica.

Não existe em experimentos semelhantes em humanos. Ainda bem… Mas existem muitas situações em que a toxina é utilizada, com terapêuticas 100% validadas, para diminuir a ação de um músculo que está muito ativo. O bruxismo, por exemplo.

Como acontece a Reabsorção Óssea?

Acho que cabe colocar aqui uma modificação do termo, e você vai entender porquê. Qual das duas frases dá a impressão de ser algo grave?

Frase 1: A toxina botulínica causa REABSORÇÃO ÓSSEA na cabeça da mandíbula!

Frase 2: A toxina botulínica causa ALTERAÇÃO ÓSSEA na cabeça da mandíbula!

Querem dizer essencialmente a mesma coisa, mas na primeira frase praticamente “enxergo” que depois da aplicação da toxina a cabeça da mandíbula sumiu porque foi reabsorvida. Me dá a impressão de ser notícia para vender revistas de celebridades, enquanto a segunda apresenta os fatos sem julgamentos.

O fato é que, o que existe de evidência científica sobre este assunto, mostra que acontece uma REDUÇÃO DA DENSIDADE ÓSSEA . Ou seja, toda a morfologia da cabeça da mandíbula se mantém, não desaparece como dá a impressão ao ler a primeira frase.

reabsorção óssea condilo toxina botulínica
Isto é uma reabsorção em côndilo, mas que nada tem a ver com toxina botulínica simplesmente porque a alteração óssea não acontece deste jeito quando usamos toxina.

Já é comprovado, de fato, que após aplicação da toxina botulínica para diminuição da ação do músculo masseter e temporal acontece uma diminuição da densidade óssea e da morfologia da medula óssea em região da cabeça da mandíbula, ou côndilo mandibular pra usar um termo antigo mas muito conhecido.

Mas antes vamos falar sobre homeostasia óssea. É sabido que um maior estímulo mecânico provocado pela musculatura promove um aumento da densidade óssea. Se nós compararmos a densidade óssea de um halterofilista com a de um paciente sedentário, possivelmente vamos encontrar maior densidade óssea no halterofilista. Afinal, ele realiza estímulo muscular constante e isto se reflete em todo sistema esquelético.

Levanto esta informação para nosso tema: o mesmo acontece com um paciente com bruxismo. É uma disfunção com características de espasticidade (maior força muscular) e de distonia (movimentos e contrações involuntárias) nos músculos mastigatórios.

Pacientes portadores desta alteração, tem ação muscular do masseter e temporal maiores e mais intensas quando comparados com os que não apresentam tal quadro. Ou seja: é de se esperar que a densidade da cabeça da mandíbula de um paciente bruxômano vai ser maior do que a de um paciente regular.

É fácil imaginar, portanto, que antes da aplicação da toxina botulínica, com a força de mastigação aumentada e os hábitos parafuncionais esta densidade excessiva responda quase que automaticamente quando da aplicação da toxina botulínica. É o objetivo da terapêutica: reduzir força muscular, oras.

Portanto com a redução da força muscular, espera-se que tenha uma redução da densidade óssea. Ou seja, o osso reabsorve. Mas esta reabsorção não pode ser definida como algo patológico ou iatrogênico. É a busca pela homeostasia, pelo equilíbrio.

Colocando os pingos nos Is

Então antes de fazer uma afirmação polêmica, temos que levar em conta muitas considerações sobre todo o assunto. Para isso, vamos fazer as perguntas certas para que isso seja bem entendido:

A toxina botulínica causa uma reabsorção ou uma diminuição da densidade óssea?

Sim, porque paralisa o músculo e este estimula menos suas origens ósseas.

A diminuição da densidade óssea, quando a toxina for aplicada de forma terapêutica, está relacionada a um processo patogênico ou iatrogênico?

Não, é a busca pelo equilibrio do organismo. Está relacionada à homeostasia óssea, ou seja, a retomada de um equilíbrio local que antes estava alterado devido ao bruxismo.

Concluindo

Gostaria que você entendesse esta questão de uma vez por todas e não caia nestas polêmicas.
Toda afirmação deve vir acompanhada de um questionamento do que aquilo pode ser, das causas, da interpretação correta das informações.

O mais comum hoje em dia é receber por meios errados, como Instagram, Facebook, Twitter, etc, uma afirmação solta e desvinculada dos fatos só pra causar comoção e viralização. Mas longe de serem verdades absolutas, como muitos acham.

Ponha em prática a máxima de Aristóteles: O ignorante afirma, o sábio duvida, o sensato reflete.

Até a próxima!

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Publicado por:
Mestre em Medicina/Cirurgia de Cabeça e Pescoço, Especialista em Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial, Prótese Dentária, Prótese Bucomaxilofacial e em Harmonização Orofacial. Coordenador de cursos em Implantodontia e Harmonização Orofacial do Instituto Velasco, Diretor do Hospital da Face. Trabalha desde 2011 em harmonização facial.