Ultrassom Microfocado: Aplicação na Estética

Ultrassom Microfocado: Aplicação na Estética

Antes de começar, é importante falar o seguinte: HIFU (High-Intensity Focused Ultrasound) não é o mesmo ultrassom utilizado na estética facial e corporal. Neste caso, o nome correto é MFU (Micro Focused Ultrasound), ou seja, não é o de alta intensidade. Utiliza-se o termo HIFU por uma questão comercial, pois a maioria das empresas assim nomeiam os proprios equipamentos. Neste texto vamos nos referir a tecnologia por MFU/HIFU, ou ultrassom microfocado, considerando que são os termos mais comuns utilizados para esta tecnologia.

Dito isso, o ultrassom microfocado emergiu como uma tecnologia essencial no campo da medicina estética, oferecendo uma abordagem não invasiva para o rejuvenescimento facial (e porque não corporal).

Vamos dar uma geral nesta tecnologia, explorando sua origem, mecanismo de ação, aplicações clínicas, eficácia e segurança. Além disso, falaremos dos equipamentos disponíveis no mercado brasileiro e as perspectivas futuras desta modalidade de tratamento.

A busca por procedimentos estéticos não invasivos tem impulsionado a inovação tecnológica na medicina estética nas últimas décadas. Entre as tecnologias emergentes, o ultrassom microfocado tem se destacado por sua capacidade de produzir resultados significativos sem a necessidade de cirurgia. Esta modalidade de tratamento utiliza energia ultrassônica focalizada para induzir alterações térmicas controladas em camadas específicas da pele e tecidos subjacentes, estimulando a produção de colágeno e promovendo o rejuvenescimento cutâneo.

Histórico e Desenvolvimento: Da neurocirúrgia à estética facial

O ultrassom microfocado tem suas raízes na medicina terapêutica. Inicialmente desenvolvido para o tratamento de tumores, a tecnologia permitia direcionar energia de ultrassom de alta intensidade para pontos específicos dentro do corpo, sem afetar os tecidos circundantes. Esta precisão abriu caminho para aplicações em diversos campos médicos.

Uma das primeiras aplicações clínicas do ultrassom microfocado foi na neurocirurgia. A tecnologia foi utilizada para tratar condições desde o tremor essencial a dores neuropáticas, oferecendo uma alternativa não invasiva à cirurgia tradicional. A capacidade de focalizar a energia em estruturas cerebrais profundas sem danificar o tecido saudável representou um avanço significativo nas abordagens clínicas.

O sucesso na neurocirurgia levou à adaptação da tecnologia para o tratamento de tumores em outros órgãos, como fígado, rins e próstata, especialmente para pacientes que não eram candidatos ideais para procedimentos cirúrgicos.

A transição do ultrassom microfocado para aplicações dermatológicas e estéticas ocorreu quando pesquisadores e médicos começaram a explorar seu potencial para estimular a produção de colágeno na pele. Os efeitos térmicos controlados produzidos pela tecnologia mostraram-se capazes de induzir a neocolagênese e remodelar os tecidos dérmicos e subdérmicos, como explicaremos no decorrer deste artigo.

Aprovação Regulatória

Um marco importante na história do ultrassom microfocado para aplicações estéticas ocorreu em 2009, quando o Food and Drug Administration (FDA) dos Estados Unidos aprovou o primeiro dispositivo de ultrassom microfocado para lifting não cirúrgico de sobrancelhas. Esta aprovação abriu caminho para uma rápida expansão da tecnologia no campo da estética.

Aqui no brasil, muitos equipamentos contam com a regulamentação na ANVISA desde 2015, e o mercado vem crescendo a passos largos desde então.

Como é o mecanismo de ação do ultrassom microfocado?

O mecanismo de ação do ultrassom microfocado envolve diversos processos biofísicos e biológicos, ainda que à primeira vista pareça algo simples. O dispositivo de ultrassom microfocado emite ondas sonoras de alta frequência, tipicamente na faixa de 4 a 10 MHz. Estas ondas são capazes de penetrar na pele e nos tecidos subjacentes sem causar danos à epiderme.

Uma característica fundamental da tecnologia é a capacidade de focalizar as ondas ultrassônicas em pontos muito pequenos, com uma precisão de até 0,1 mm. Esta focalização permite que a energia seja concentrada em áreas específicas, minimizando o efeito nos tecidos circundantes, e oferecendo ainda uma reparação mais rápida pois a lesão é fracionada.

Dependendo da frequência utilizada, as ondas ultrassônicas podem atingir diferentes profundidades na pele:
– 4 MHz: penetração de até 4,5 mm (SMAS – Sistema Músculo Aponeurótico Superficial)
– 7 MHz: penetração de até 3,0 mm (derme profunda)
– 10 MHz: penetração de até 1,5 mm (derme superficial)

Esquema de disparos do ultrassom microfocado. O cabeçote do MFU/HIFU concentra energia em profundidades para criar zonas de lesão térmica (ZITs) na camada do sistema musculoaponeurótico superficial (SMAS). O transdutor parabólico desliza no cabeçote para criar várias ZITs em uma profundidade fixa no tecido. Como um recurso de segurança adicional, o dispositivo de ultrassom não pode ser iniciado sem primeiro “armar” o dispositivo. Isso é semelhante a um laser no modo “standby”. A indica “armar”; T, tratar.

Esta capacidade de atingir múltiplas camadas permite um tratamento “tridimensional” por assim dizer, conseguindo evitar áreas de risco e atingindo exatamente as camadas anatômicas de interesse.

Efeitos Térmicos do ultrassom microfocado

Quando as ondas ultrassônicas convergem nos pontos focais, ocorre uma rápida geração de calor. A temperatura nesses pontos pode atingir 60-70°C em milissegundos. O calor intenso causa micro-lesões térmicas controladas nos tecidos alvo. Estas lesões são tão pequenas e precisas que não causam danos à epiderme ou aos tecidos adjacentes.

Com isso, esperamos respostas biológicas muito interessantes para o rejuvenescimento do local.

O calor gerado causa a desnaturação parcial das fibras de colágeno existentes. Este processo resulta na contração imediata destas fibras, contribuindo para o efeito de “lifting” observado logo após o tratamento.

  • Resposta Inflamatória

As micro-lesões térmicas desencadeiam uma resposta inflamatória localizada. Esta resposta é parte crucial do processo de cicatrização e remodelação tecidual.

  • Neocolagênese

Como parte do processo de cicatrização, os fibroblastos são estimulados a produzir novo colágeno, principalmente dos tipos I e III. Este processo de neocolagênese é responsável pelos efeitos a longo prazo do tratamento. Nos meses seguintes ao tratamento, ocorre uma remodelação gradual do tecido conjuntivo. Este processo resulta em maior firmeza e elasticidade da pele.

  • Estimulação da Circulação e Angiogênese

O tratamento também estimula a microcirculação na área tratada, tanto por novos vasos como pela ação inflamatória pontual, melhorando a oxigenação e nutrição dos tecidos.

Efeitos do ultrassom microfocado nas Células Adiposas

Em algumas aplicações, especialmente quando usado para redução de gordura localizada, o calor gerado pelo ultrassom microfocado pode afetar as células adiposas, causando sua ruptura (lipólise).

E este aspecto é um dos mais interessantes. Explico: Os adipócitos são compostos por uma grande gota lipídica central que ocupa a maior parte do volume celular, empurrando o núcleo e o citoplasma para a periferia. Esta gota lipídica é envolta por uma fina camada de citoplasma e uma membrana celular.

Uma característica fundamental dos adipócitos que os torna particularmente susceptíveis aos efeitos do MFU/HIFU é a fragilidade de sua membrana celular. Em comparação com outros tipos de células, a membrana dos adipócitos é mais fina e menos resistente a estresses mecânicos.

Isso se deve em parte à grande quantidade de lipídios insaturados presentes na membrana. Estes lipídios têm uma temperatura de transição de fase mais baixa, o que significa que a membrana se torna mais fluida e instável quando exposta a aumentos de temperatura.

Quando as ondas ultrassônicas de alta intensidade geradas pelo MFU/HIFU são focalizadas no tecido adiposo, elas causam um rápido aumento localizado da temperatura que causa uma transição de fase nos lipídios da membrana, tornando-a mais fluida e instável. Isso aumenta a permeabilidade da membrana e a torna mais susceptível a rupturas.

As ondas ultrassônicas também podem causar a formação de microbolhas de gás no tecido. Quando estas bolhas colapsam (um fenômeno conhecido como cavitação), elas geram ondas de choque localizadas que podem romper a membrana dos adipócitos adjacentes.

Por fim, as vibrações de alta frequência induzidas pelo MFU/HIFU também exercem um estresse mecânico direto sobre as células adiposas. Dado a fragilidade de suas membranas, este estresse pode ser suficiente para causar rupturas.

Quando a membrana de um adipócito é rompida, o conteúdo da célula, principalmente triglicerídeos, é liberado no espaço extracelular. Estes lipídios livres são então gradualmente eliminados pelo sistema linfático e metabolizados pelo fígado.

Aplicações Clínicas do ultrassom microfocado

O ultrassom microfocado tem encontrado uma ampla gama de aplicações na medicina estética, aproveitando sua capacidade única de tratar múltiplas camadas da pele e tecidos subjacentes.

  • Lifting Não Cirúrgico

Uma das aplicações mais populares é o lifting facial não cirúrgico. O tratamento pode melhorar significativamente a flacidez da pele, especialmente nas áreas da testa, sobrancelhas, pálpebras e pescoço.

  • Redução de Rugas e Linhas de Expressão

O estímulo à produção de colágeno ajuda a suavizar rugas finas e linhas de expressão, proporcionando uma aparência mais jovem e revitalizada.

  • Redução de Gordura Localizada

Em algumas aplicações, o ultrassom microfocado é utilizado para reduzir depósitos de gordura localizada, especialmente em áreas como abdômen, flancos e coxas.

  • Melhoria da Flacidez Corporal

O tratamento pode ser eficaz na melhoria da flacidez da pele em diversas áreas do corpo, incluindo braços, abdômen e coxas.

  • Contração do SMAS

A capacidade de atingir o Sistema Músculo Aponeurótico Superficial (SMAS) permite efeitos mais profundos e duradouros, similares aos obtidos com procedimentos cirúrgicos, mas sem a necessidade de incisões.

Numerosos estudos clínicos têm demonstrado a eficácia do ultrassom microfocado para diversas indicações estéticas com resultados duradouros por até 12 meses.

Segurança do ultrassom microfocado

O ultrassom microfocado é geralmente considerado um procedimento seguro quando realizado por profissionais qualificados. Os efeitos colaterais mais comuns são leves e transitórios, incluindo:

  • Vermelhidão temporária
  • Inchaço leve
  • Sensibilidade na área tratada

Complicações mais sérias são raras, mas podem incluir:

Queimaduras superficiais
– Alterações temporárias na sensibilidade da pele (parestesias) e/ou alteração dos movimentos faciais temporárias (paresias)
Contorno irregular em casos de tratamento para redução de gordura

O procedimento é contraindicado para:

– Gestantes
Pacientes com infecções ativas na área de tratamento
– Indivíduos com certos implantes metálicos na área de tratamento

Panorama do Mercado Brasileiro de ultrassom microfocado para estética

O mercado brasileiro de equipamentos de ultrassom microfocado tem experimentado um crescimento significativo nos últimos anos, refletindo a tendência global de busca por procedimentos estéticos não invasivos.

As marcas mais relevantes no mercado brasileiro incluem:

1. Ultraformer III (Classys)
2. Ulthera (Merz Aesthetics)
3. Ultrafocus (HTM)
4. Liftera (Jeisys Medical)
5. Liposonix (Solta Medical)
6. Nioo HIFU (Tonederm)

As marcas mais relevantes no mercado incluem uma mistura de empresas internacionais bem estabelecidas como Ulthera (Merz Aesthetics) e Liposonix (Solta Medical), e fabricantes nacionais emergentes como HTM e Tonederm. As empresas brasileiras têm ganhado espaço oferecendo equipamentos de qualidade a preços mais competitivos.

Os equipamentos apresentam diferenças importantes quanto ao tipo de cabeçote oferecido – alguns possuem cabeçotes com disparos limitados, enquanto outros permitem disparos livres. Essa característica tem implicações significativas na prática clínica e na experiência do paciente.

Os cabeçotes com quantidade de disparos limitados são projetados para garantir a segurança e a eficácia do tratamento, mas também apresentam algumas desvantagens como a necessidade de substituir os cabeçotes com mais frequência pode aumentar o custo geral do tratamento.

Por outro lado, os equipamentos com cabeçotes de disparos livres oferecem maior flexibilidade ao profissional. Eles permitem emitir uma quantidade ilimitada de pulsos (dentro do periodo indicado pelo fabricante), o que pode ser vantajoso do ponto de vista financeiro já que não há um custo por disparo, como acontece nos cabeçotes limitados.

Independentemente do tipo escolhido, é fundamental que o profissional tenha um treinamento adequado e siga as melhores práticas recomendadas para garantir a segurança e a eficácia do ultrassom microfocado. Com o equipamento certo e a expertise necessária, ambas as opções podem oferecer excelentes resultados na harmonização facial, atendendo às expectativas dos pacientes e agregando valor à prática clínica do profissional.

Algumas tendências observadas no mercado são a integração do MFU/HIFU com outras tecnologias como radiofrequência para melhorar os resultados, um foco crescente na precisão com tecnologias de visualização em tempo real, e uma demanda por equipamentos que oferecem múltiplas profundidades de tratamento permitindo protocolos mais personalizados.

Há um interesse crescente em explorar novas aplicações para o MFU/HIFU, incluindo o tratamento de cicatrizes, melhorias na textura da pele e aplicações médicas além da estética. A integração do ultrassom microfocado com outras tecnologias, como laser, radiofrequência e terapias injetáveis, pode levar a protocolos de tratamento mais abrangentes e eficazes.

Avanços na tecnologia de imagem e inteligência artificial podem permitir tratamentos altamente personalizados, adaptados às características únicas da pele e tecidos de cada paciente. Isso pode levar a resultados ainda mais impressionantes e satisfação do paciente.

Conclusão

O ultrassom microfocado representa um avanço significativo no campo da medicina estética, oferecendo uma opção não invasiva e eficaz para o rejuvenescimento.

À medida que a tecnologia continua a evoluir, espera-se que o MFU/HIFU desempenhe um papel cada vez mais importante no arsenal de tratamentos estéticos não invasivos. No entanto, é crucial que seu desenvolvimento seja acompanhado por pesquisas rigorosas e treinamento adequado dos profissionais para garantir resultados ótimos e seguros.

Referências

1. Alam M, White LE, Martin N, et al. Ultrasound tightening of facial and neck skin: a rater-blinded prospective cohort study. J Am Acad Dermatol. 2010;62(2):262-269.

2. Fabi SG, Joseph J, Sevi J, Green JB, Peterson JD. Optimizing patient outcomes by customizing treatment with microfocused ultrasound with visualization: gold standard consensus guidelines from an expert panel. J Drugs Dermatol. 2019;18(5):426-432.

3. Hitchcock TM, Dobke MK. Review of the safety profile for microfocused ultrasound with visualization. J Cosmet Dermatol. 2014;13(4):329-335.

4. White WM, Makin IR, Barthe PG, Slayton MH, Gliklich RE. Selective creation of thermal injury zones in the superficial musculoaponeurotic system using intense ultrasound therapy: a new target for noninvasive facial rejuvenation. Arch Facial Plast Surg. 2007;9(1):22-29.

5. Casabona G, Michalany N. Microfocused ultrasound with visualization and fillers for increased neocollagenesis: clinical and histological evaluation. Dermatol Surg. 2014;40 Suppl 12:S194-S198.



Publicado por:
Mestre em Medicina/Cirurgia de Cabeça e Pescoço, Especialista em Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial, Prótese Dentária, Prótese Bucomaxilofacial e em Harmonização Orofacial. Coordenador de cursos em Implantodontia e Harmonização Orofacial do Instituto Velasco, Diretor do Hospital da Face. Trabalha desde 2011 em harmonização facial.