Injeção Anterógrada ou Retrograda?

Injeção Anterógrada ou Retrograda?

Taí um assunto pouco discutido… Vimos anteriormente sobre o formato com que o preenchedor é depositado (bolus, leque, linear, etc) mas não falamos sobre as técnicas de injeção, e aqui entra um assunto interessante.

Nas técnicas de injeções lineares, em leque e no cross-hatching, a injeção do preenchedor acontece com a cânula ou agulha em movimento, e este movimento também pode apresentar uma variação.

Podemos injetar ao mesmo tempo em que a cânula é inserida, técnica chamada de injeção anterógrada (que significa algo como “estender à frente”), ou podemos colocar a cânula na posição desejada e injetar quanto se faz o movimento de remoção, que é a chamada técnica retrógrada (que significa algo que retrocede).

Mas qual vantagem de uma sobre a outra? Qual é a melhor?

Vamos entender isso por algumas imagens, primeiro falando sobre a

Retroinjeção

Ao inserir o dispositivo, sobretudo as agulhas ou cânulas cujo calibre é menor/igual a 27G, o tecido não chega a ser afastado, ele é perfurado. Isso significa que se houver no caminho do dispositivo um vaso, um nervo ou qualquer outra estrutura, esta será danificada.

inserção da agulha
Ao colocar o dispositivo podem acontecer lesões por trauma em diversas estruturas que esteja no caminho da agulha (e em menor grau, da cânula)

Uma vez na posição em que se deseja o preenchedor, com o movimento de remoção do dispositivo associa-se a injeção do material, e este passa a ocupar o espaço em que o dispositivo estava posicionado.

retroinjeção de preenchedores
O material passa a ocupar o caminho que o dispositivo criou

Diria que é uma técnica precisa pois conseguimos colocar exatamente onde desejamos o preenchedor, e é a mais indicada para quem está começando.

Outra informação importante é que nesta técnica não aproveitamos completamente as características analgésicas dos preenchedores que têm lidocaína associada, uma vez que o preenchedor só será injetado quando o dispositivo está sendo removido, ou seja, quando não há muitas chances de doer.

Em oposição a esta técnica descrita, que é a mais conhecida e divulgada, temos a Injeção

Anterograda

Vamos entender:

injeção anterograda
O material vai sendo injetado à medida em que o dispositivo adentra no tecido, afastando as estruturas locais.

Nesta situação, o dispositivo vai sendo inserido e ao mesmo tempo o material passa a se extruir da ponta ativa, então o preenchedor vai ocupando seu espaço ao mesmo tempo que o dispositivo está chegando no local de interesse.

Pode parecer contra-intuitivo porque faz pouco sentido para colocar o preenchedor assim, pode dar a impressão que o material se movimenta e não fica no local de interesse, mas lembre-se que este método deve ser aplicado para as técnicas de leque ou cross-hatching, em que desejamos a volumização de toda uma área.

Mas se pensarmos direito, somente nesta técnica é que podemos falar que os materiais com lidocaína teriam o efeito anestésico desejado, já que seu efeito se inicia logo que o material começa a ser depositado deixando mais confortável o processo do preenchimento.

Outra situação interessante é que o material preenchedor passa a ser um agente de segurança porque (supostamente) ele afasta estruturas como os vasos e nervos do local antes da passagem do dispositivo.

injeção anterograda
No movimento de retorno, pode-se complementar o volume planejado também

Considero a injeção anterógrada  uma forma de aplicação mais avançada, bem mais elaborada e difícil. Hoje existem aplicadores digitais que permitem uma maior precisão técnica e podem popularizar o uso, com um grau de segurança interessante.

Mas, vamos pensar, a questão da segurança faz algum sentido se formos utilizar uma cânula ou agulha associada a um preenchedor mais viscoelástico, que tenha capacidade de afastar o tecido adjacente. Mas se estivermos utilizando uma agulha, com um material pouco visco-elástico que não afasta as estrutura, pode envolver em um risco grande de embolizar um vaso, já que quem está mandando neste momento é o fio da agulha e onde o injetor a está posicionando.

E nesta situação, se estivermos utilizando uma cânula de maior calibre? A segurança é pelo afastamento pelo preenchedor ou é devido às propriedades da cânula?

Curiosamente, a técnica quando do uso de cânula dentro do MD Codes é com injeção anterógrada, justamente para aproveitar as características dos preenchedores associados à lidocaína.

O fato é existem argumentos a favor e contra às duas técnicas, e a escolha da técnica deve ser do profissional, sempre pensando que  o planejamento clínico é essencial também neste aspecto: saber a quantidade, o local, o plano vai orientar a forma de aplicação, e o quanto de volume de preenchedor, seja por injeção anteograda ou retrógrada a ser depositado, avaliando as estruturas e zonas de risco, que é o assunto para a um próximo artigo!

Leitura complementar

  • Galadari H, Mariwalla K, Delobel P, Sanchez-Vizcaino Mengual E. Pain and Bruising Levels After Lip Augmentation: A Comparison of Anterograde and Retrograde Techniques Using an Automated Motorized Injection Device. A Blinded, Prospective, Randomized, Parallel Within-Subject Trial. Dermatol Surg. 2020 Mar;46(3):395-401. doi: 10.1097/DSS.0000000000002055.
  • Tansatit T, Apinuntrum P, Phetudom T. An Anatomical Study of the Middle Temporal Vein and the Drainage Vascular Networks to Assess the Potential Complications and the Preventive Maneuver During Temporal Augmentation Using Both Anterograde and Retrograde Injections. Aesthetic Plast Surg. 2015 Oct;39(5):791-9. doi: 10.1007/s00266-015-0529-1.


Publicado por:
Mestre em Medicina/Cirurgia de Cabeça e Pescoço, Especialista em Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial, Prótese Dentária, Prótese Bucomaxilofacial e em Harmonização Orofacial. Coordenador de cursos em Implantodontia e Harmonização Orofacial do Instituto Velasco, Diretor do Hospital da Face. Trabalha desde 2011 em harmonização facial.