Penso que a toxina botulínica é um dos medicamentos mais versáteis que se tem notícia.
Posso exagerar, mas ao lado do Canabidiol, deve ser um dos medicamentos que tem maior potencial de uso clínico. Não é a toa que em meados de 2017 o Botox (ou melhor, a toxina botulínica) mereceu uma reportagem de capa, indicando que naquele momento haviam mais de 790 estudos clínicos em andamento para os mais diversos usos da toxina.
Mas o que nos interessa é o seu uso estético, afinal trabalhamos na harmonização facial (ou orofacial...). Com a principal ação ter a capacidade de bloquear s liberação de acetilcolina nas terminações nervosas e causar uma paralisia muscular pela falta de estímulo nervoso, a toxina botulínica é um medicamento chave na Harmonização Facial e na estética.
Mas, sinto informar, que toxina botulínica “não é tudo igual”. Os objetivos com os tratamentos são os mesmos, sim, mas precisamos fazer uma divisão em medicamentos referência e medicamentos biossimilares. Do mesmo modo, não sendo tudo igual, não podemos dar um tempo exato de duração para cada marca, então aqui caberá somente entender o que cada medicamento oferece e para o que ele está aprovado para uso.
Uma informação importante: Não existe o termo medicamento “genérico” no caso dos produtos de origem biológica (imagine que o que usamos como remédio nada mais é do que um pequeníssima fração do veneno, ou toxina, produzida por uma bactéria nada amistosa chamada Clostridium botulinum, veneno este que é uma das substâncias mais letais conhecidas).
Então o termo correto é biossimilar (este infográfico explica com detalhes esta definição).
TODAS as marcas de Toxina Botulínica aprovadas pela ANVISA
Independente se for a marca referência ou biossimilar, o principio ativo do medicamento sempre é Toxina Botulínica do tipo A (TXB-A), já que é a única disponivel para uso estético. Existe uma Toxina Botulínica do tipo B (TXB-B), mas cujo uso está bem distante da estética facial, e não aprovado pela Anvisa.
Então para separar melhor as coisas e falar de cada medicamento, agora vamos colocar primeiro os medicamentos “REFERÊNCIA” (os medicamentos de referência são também conhecidos como “remédios de marca” por terem marca comercial e, principalmente, que possuem eficácia e segurança cientificamente comprovadas). Neste grupo, encontramos 3: Botox®, Dysport® e Xeomin®.
E depois falaremos dos medicamento biossimilares (pela ordem de registro na ANVISA): Prosigne®, Botulift®, Botulim® e finalmente o Nabota®.
Tem uma oitava marca, a Israderm, que é comercializada abertamente em midias sociais e afins, mas está completamente irregular. Já chegaremos lá.
E vou ainda colocar um bônus. Uma marca que gostaria muito de ter no mercado nacional, a Innotox® e que vale algumas palavras sobre ela, mesmo (ainda) não estando no mercado nacional.
Vamos lá, por partes, primeiro os medicamentos referência:
Botox®
Botox® é praticamente a toxina Hors Concours na hora do paciente pensar em tratamento usando Toxina botulínica.
Basta falar este nome e há um vínculo direto entre a marca e o que ela pode oferecer no tratamento. Eu ouso dizer que esta marca se vende sozinha aos pacientes, quase sem necessidade de perguntar mais nada por parte do interessado.
E essa metonímia é tão grande e tão corrente que eu mesmo me pego as vezes falando Botox ao invés da marca que estou utilizando. Possivelmente já aconteceu com você também tamanha a penetração no mercado.
O lançamento internacional foi em 1991 e desde então já se espalhou por mais de 100 países, em alguns deles também chamado de Vistabel®. Chegou no Brasil no começo dos anos 2000 e foi pioneira por aqui também.
Produzida pela Allergan e disponibilizado em frascos de 50U, 100U ou 200U, em artigos ela é descrita como OnaBotulinum Toxin A, é o medicamento que tem a maior indicação clínica dentre todas as marcas:
Espasticidade (rigidez muscular) do pescoço, braços, mãos e pernas, do estrabismo e blefaroespasmo (de onde se originou), distonia cervical, espasmo hemifacial, hiperidrose (suor excessivo) focal, das axilas e das palmas das mãos, incontinência urinária, bexiga hiperativa, migrânea crônica (enxaqueca crônica) e refratárias, além claro das das linhas hipercinéticas da face.
Dysport®
Dysport® teve um desenvolvimento em paralelo ao Botox® e podemos dizer que tiveram focos e objetivos distindos em um primeiro momento. Até o nome Dysport® vem de Dystonia Porton Product, em tradução livre, seria algo como Produto da Porton para Distonia, sendo Porton Down um centro de pesquisa Inglês muito reconhecido Internacionalmente.
Desde 1993 este medicamento pertence à gigante farmaceutica francesa IPSEN, e é vendida no Brasil pela Galderma a partir de 2001 (sim, a mesma que vende o Restylane® e o Sculptra®). Disponibilizado em frascos de 300U ou 500U (importante lembrar que não dá pra “parear” as aplicações de toxina botulínica pensando somente em números), é um medicamento muito apreciado pelos profissionais da Harmonização Facial.
Hoje, o medicamento está em mais de 70 países, e pode ter o nome de Azzalure® também. E nos artigos é referida como AboBotulinum Toxin A.
As indicações são muito semelhantes: blefarospasmo, distonia cervical, espasticidade muscular, linhas faciais hiperfuncionais e hiperidrose palmar e axilar em adultos. O foco da empresa sempre foi muito mais uma linha terapêutica do que estética, apesar de ser possível ótimos resultados clínicos para este fim também.
Ao contrário de outras marcas, o Dysport®, ou melhor, a Galderma, sempre teve um pé atrás com os tais “não-médicos” e durante muito tempo era bastante difícil de comprar este medicamento por vias “oficiais” (digo, direto com o laboratório). Estão tentando reverter essa abordagem nos últimos anos.
Xeomin®
O Xeomin® entrou no Brasil em 2009 com um discurso diferente das demais: pelo fato de não ter as proteínas acessórias, é uma toxina mais pura e que induz menos reação imunológica e reduziria, supostamente, possíveis “efeitos vacina”“. Em alguns países pode ser encontrada também com o nome de Bocouture®. Nos artigos científicos, o termo que se utiliza para esta marca é IncoBotulinum Toxin A.
Produzido pela Merz Pharmaceuticals, é comercializada pela Biolab Sanus, está disponibilizado em frascos de 100U. e curiosamente é o único medicamento do gênero a dispensar o uso de geladeira ANTES da reconstituição. Depois de pronta, é outra história.
Justamente por termos uma logística confusa, e acesso limitado, é um produto com muita penetração no mercado nacional, podendo enviadas mesmo sem cuidados de temperatura. Há uma grande quantidade de profissionais leais à marca.
Com uma atividade biológica menor que as demais, o processo de reconstituição deve ser personalizado para que se tenham efeitos adequados, mas nada que invalide o produto em sua efetividade e resultados.
Agora vamos para os medicamentos biosimilares:
Prosigne®
Prosigne® é feito pelo laboratório chinês Lanzhou Biological Products Institute, que lançou o produto em 1994 com o nome de Hengli® e hoje está em inúmeros paises asiáticos e aqui no Brasil desde 2003. Nos artigos é referida como lanbotulinum toxin A.
Diferente das demais toxinas, a Prosigne® não utiliza albumina humana como agente estabilizador, mas sim gelatina de origem bovina, o que pode justificar uma maior frequência de efeitos adversos, porém sem afetar a efetividade do produto quando comparado com os demais medicamentos referência, muito menos inviabilizar o uso.
No Brasil é comercializada pela Cristália e é disponibilizado em frascos de 50U e 100U.
Botulift®
Fabricada pelo laboratório sul-coreano Medytox, o Botulift® é chamado fora daqui de Medytoxin® ou Neuronox® e tem uma base científica bem interessante (mas se põe como um biossimilar, identificando-se simplesmente como BTX-A (ou toxina botulinica do tipo A).
É um produto utilizado em muitos paises, sobretudo os asiáticos. O laboratório se envolveu em algumas polêmicas sobre vendas irregulares para a China e Tailandia, mas isso não refletiu aqui no Brasil e as vendas continuam regularmente.
Oferecido em frasco-ampolas de 50U, 100U, 150U e 200U, foi o segundo medicamento biossimilar a entrar no mercado, ainda em 2010 e conseguiu uma penetração muito boa no mercado nacional e ao mercado da Harmonização Orofacial (ou seja, no mercado odontológico) por forte empenho da Dermadream, empresa que a representa aqui no Brasil.
Botulim®
Fabricado na Coréia pelo laboratório Hugel, e chamada oficialmente pela empresa de Botulax® (mas que pode estar no mercado internacional com vááááários nomes: Regenox®, Zentox®, Reage®, Magnion®, Hugel Toxin®, Juvenlife®, Botulim® e Botoshot®), é comercializada no Brasil pela Blau Farmacêutica com o nome de Botulim®.
Haja globalização, né?
Foi lançada em 2018 depois de muitos anos sem novidades no mercado (o Botulift tinha entrado há mais de 8 anos quando surge o Botulim®). Hoje também é vendida pela Croma entre outras empresas.
A indicação primária do uso do Botulim® é para blefarospasmo, marcas em região de glabela e olhos além de uso em distonias dos membros superiores e pé torto equinovaro em crianças com paralisia cerebral.
Entrou no mercado com uma idéia que o frasco era “low-vacuum”, para que os profissionais não estranhassem o vácuo menor no frasco, e, supostamente, uma formulação com mais de 99% de pureza da toxina botulínica e pequena quantidade de albumina por frasco.
Disponibilizado em frascos de 50U, 100U e 200U.
Nabota®
Nabota® é a mais jovem das toxinas a entrar no Brasil, em 2020, e chegou causando grande comoção, graças a um marketing bastante agressivo da Rennova, empresa que o comercializa por aqui (e que tem vários produtos interessantes).
Também produzida na Coréia do Sul (temos 3 de origem sul coreana!), é feita pelo laboratório Daewoong Pharmaceutical, nos EUA é vendida com o nome de Jeuveau® e oficialmente chamada de PraBotulinum Toxin A. Esta empresa se meteu em um rolo com a Medytox e as vendas chegaram a ser suspensas nos EUA, mas já está normalizado.
Vem apresentada em 4 versões: 50U, 100U, 150U e 200U e ainda está tentando mostra ao que veio, mas baseado no que acompanhamos é um mediamento promissor.
Medicamentos com vendas proibidas:
Innotox®
Tirando a toxina botulínica original e pioneira que também vinha pronta para uso (Oculinum, de 1989), este medicamento produzido pela Medytox, é a primeira toxina botulinica pré-reconstituida e que está em vias de entrar no mercado mundial.
Simplifica bastante aquela questão de qual a preparação ideal, e ela vem com uma reconstituição padrão de 2,5ml para cada 100U. É apresentada em frascos com 25U, 50U e 100U com foco em estética facial, exclusivamente.
Vamos ver quanto tempo demora pra chegar por aqui! Existe a venda porém de forma irregular. Não utilizem ainda! Aguardem uma importação oficial!
E uma marca que é vendida irregularmente e deve ser evitada.