Pipocou nos últimos dias que “surgiu o matador do Botox®”, um medicamento que promete mais tempo de duração na paralisia muscular e, consequentemente, na redução de rugas e marcas de expressão.
Mas… será que é isso mesmo? Quando estará no mercado nacional? O que ele tem de diferente das outras marcas de toxina?
Além destas perguntas mais comuns, você vai descobrir que a DaxibotulinumtoxinA-lanm já está em pesquisa há pelo menos 15 anos, e tem muitas coisas interessantes a ser falado sobre ela.
Curiosamente já tinha comentado sobre este medicamento e seus diferenciais em nosso curso online de toxina botulínica na estética facial em uma aula gravada em Julho de 2021, muito antes deste buzz que está hoje.
Então vou colocar aqui tudo que você precisa saber sobre esse medicamento “matador do Botox®”
É isso e muito mais que espero responder com este artigo. Bora?
Aprovação do Daxxify® pelo FDA
A Revance Therapeutics, Inc surgiu em 1999 e tinha em seu início duas linhas de pesquisa com medicamentos a base de toxina botulínica.
Uma para uso tópico e de indicação para marcas periorbiculares que acabou sendo deixada de lado lá por 2016 (mesmo depois de uma capitalização da empresa de 237 milhoes de dólares), ainda em sua fase inicial porque não mostrou a efetividade esperada. Sabemos que o tamanho da molécula da toxina não permite a absorção em região de pele ou mesmo em mucosa e a nanotecnologia associada a este medicamentonão melhorou este quadro…
A outra, seria injetável com uma tecnologia proprietária (falamos mais a frente sobre isso) que se mostrava bastante promissor e que iria bater de frente com o Botox®. Esta, teve no começo de 2017 o inicio de sua fase final de pesquisa, o passo final para ser aprovada para ser comercializada.
E isso demorou. Muito. Só em 7 de setembro de 2022, depois de muitos, muitos anos de pesquisa, o FDA (Federal Drugs Administration, a agência equivalente à ANVISA nos EUA) aprovou o o tal medicamento, agora já com nome comercial de Daxxify®.
Deve ter sido uma espera suada afinal a previsão era para que estivesse aprovado nos finais de 2020, mas com a pandemia da COVID-19, e a necessidade de adequações de alguns processos junto ao FDA, atrasou um tanto. Mas o importante agora é entender o quão restrita ficou esta aprovação:
Consta lá: Daxxify® é indicada para o tratamento de “rugas glabelares moderadas a severas, associadas com a atividade dos músculos corrugadores e/ou procero”.
Bemmmm específico, concordam? Isso quer dizer que utilizar este medicamento para marcas peri-orbiculares (os pés de galinha) ou mesmo em fronte já é um uso off-label do medicamento? Pois então: sim, é.
Segundo o FDA, é para região de glabela e só.
Isso não tira o mérito de um medicamento que, a meu ver, trouxe uma série de inovações a um mercado que estava estagnado (no que diz respeito às inovações, entenda bem) desde 2005 quando o Xeomin foi lançado.
Digo isso porque tudo que surgira desde então foram moléculas biossimilares ao Botox, sem grandes evoluções.
Mas Rogério, entraram muitas, muitas marcas no mercado mundial desde o Xeomin!
SIM! Dezenas, só aqui no Brasil temos 4 marcas diferentes . Todas com moléculas que se assemelham ao Botox®(Prosigne®, Botulift®, Botulim®, Nabota®). São só mais algumas marcas comerciais, não trazem de fato uma INOVAÇÃO neste campo das neurotoxinas.
Como diria o Cazuza: é um museu de grandes novidades.
Indicações Clínicas do Daxxify®
Pode parecer estranho, mas apesar de todas as marcas de toxinas buscarem o mesmo efeito (a paralisia muscular, dessensibilização nervosa, etc), elas não tem bulas, ou melhor, indicações de uso idênticas.
Isso acontece porque cada marca deve desenvolver pesquisas sobre a efetividade e segurança de seu efeito para cada “doença tratável” com a terapêutica.
Por exemplo. Em bula, no Brasil e aprovados pela ANVISA, o Botox® tem as seguintes indicações:
- Tratamento de estrabismo e blefarospasmo associado com distonia, incluindo blefarospasmo essencial benigno ou distúrbios do VII par craniano em pacientes com idade acima de 12 anos
- Tratamento de distonia cervical
- Tratamento de espasmo hemifacial
- Tratamento de espasticidade muscular
- Tratamento de linhas faciais hipercinéticas
- Tratamento de hiperidrose focal, palmar e axilar
- Tratamento de incontinência urinária causada por hiperatividade neurogênica do músculo detrusor da bexiga, não tratada adequadamente por anticolinérgicos.
- Tratamento da bexiga hiperativa com sintomas de incontinência, urgência e aumento da frequência urinária em pacientes adultos que obtiveram resposta inadequada ou intolerantes à anticolinérgicos
- Profilaxia em adultos de migrânea crônica* – enxaquecas crônicas e refratárias com comprometimento importante da qualidade de vida e das atividades diárias (laborativas, sociais, familiares e de lazer)
Já se pegarmos as instruções de uso do XEOMIN®, também aprovados pela ANVISA, encontramos:
- Tratamento sintomático do blefarospasmo e da distonia cervical com componente rotacional predominante (torcicolo espasmódico) em adultos
- Espasticidade dos membros superiores em adultos.
- Indicado para a melhora temporária da aparência das linhas faciais hipercinéticas.
Percebe que apesar de terem exatamente o MESMO mecanismo de ação e SUPOSTAMENTE as mesmas indicações clínicas, a aprovação de uso pode ser limitada em algumas marcas.
E porque acontece isso?
Porque o medicamento precisa ser estudado e validado tanto em sua efetividade como em sua segurança para a qual ele é uma potencial terapeutica a ser adotada.
Para fazer uma analogia, porque enquanto escrevo isso estou pensando no almoço: seria considerar todos os cogumentos iguais: Shitake, Portobelo, Shiimeji, Porcini ou Champignon. De fato, todos são cogumentos, mas cada um tem seu sabor, textura, umami, e cada um tem sua indicação. Não se faz um Strogonoff com Shiimeji, concorda?
O fato é que um medicamento só vai ter seu leque de indicações ampliados se ele provar que funciona. E isso toma tempo e dinheiro. Botox está no mercado desde 1991 (na verdade desde 1989 com o nome antigo de Oculinum), então pôde ser testado e validado em várias patologias nestas mais de 3 décadas, daí as suas indicações mais amplas que as outras marcas de toxina botulínica.
Então, até agora, podemos falar que SIM, a aprovação do Daxxify® ainda limita seu uso às marcas glabelares, mas isso vai mudar num futuro próximo, tenha certeza.
Um respiro de novidades
Edmund Burke já falou: Inovar não é reformar. E é aqui que vem o grande diferencial do Daxxify®: ela não tenta replicar as outras marcas sendo mais uma a fabricar um medicamento biossimilar.
Ela agrega uma nanotecnologia à toxina botulínica que tem o potencial de promover a maior entrada do medicamento nas terminações nervosas e, consequentemente, aumenta o tempo de efetividade em até 50%.
Vamos chegar nisso.
Por enquanto falaremos dos nomes oficias das toxinas. Cada molécula ativa das diversas marcas recebe um nome oficial quando passa pelo processo de aprovação do FDA (lembre-se: é a ANVISA dos EUA):
- Botox® tem, pelo FDA, uma molécula chamada ONAtoxinbotulinumA
- Dysport® tem a molécula chamada ABOtoxinbotulinumA
- Xeomin® chama-se INCOtoxinbotulinumA
Estas são as principais, mas veja que este nome só existe para medicamentos que são vendidos nos EUA, não para todas as marcas. o Nabota®, por exemplo, é vendido lá como Jeuveau® e tem o nome de PRAtoxinbotulinumA. Já o Botulift® ou o Botulim®, por exemplo, não tem registro no FDA então o nome genérico de suas moléculas ficam sendo somente BTX-A, a abreviatura de Toxina Botulínica tipo A
E na Daxxify? O nome oficial é DAXItoxinbotulinumA-lanm
Então tem duas coisas: DAXI de identificação da molécula de toxina botulinica (daí o nome Daxxify®), e um “sobrenome” que só ela tem: -lanm
E é este -lanm que faz a diferença: é um peptídeo que supostamente faz a toxina ser mais efetiva. Peptide Exchange Technology® é o nome que a Revance Therapeutics, Inc., criadora do medicamento, utiliza para mostrar seu diferencial.
Então nada de “durar mais” porque é de uma cepa bacteriana diferente (o que é mentira, vem da mesma cepa Hall de TODAS as demais toxinas) como ouvimos alguns falando em redes fossiais.
Mas é de fato uma nova tecnologia, ainda não tão explicada (mesmo porque deve estar cercadas de patentes e proteções) mas que pode ser realmente oferecer um grande potencial.
E, importante, tal qual todas as demais toxinas botulínicas no mercado, os seus efeitos são irreversíveis!
O que mudou com a DaxibotulinumtoxinA-lanm?
As primeiras marcas de toxina botulínica como o Botox® e o Dysport® tem, em sua composição, um envoltório proteico ao redor de cada molécula ativa de toxina, formando um complexo hemaglutinina–neurotoxina, que funciona como uma proteção para que a porção mais importante não seja atacada pelo organismo.
Mas esta proteína de proteção também tem suas desvantagens, pois deixam o peso molecular total muito maior, entre 500KDa e 900 KDa (Kilodaltons, o indice que aponta o peso molecular de estruturas grandes como as proteínas), o que aumentam a possibilidade de serem reconhecidos pelo organismo e induzir a formação de anticorpos e o tal “efeito vacina”. Já falei sobre este mecanismo em outro artigo, você pode ler clicando aqui.
Como alternativa a isto, o Xeomin® em 2005 entrou no mercado com uma ação de marketing bem específica: era a toxina botulínica “pura” (ou seja, sem o complexo de proteção) e que teria menor potencial de apresentar tal efeito vacina. De fato, a molécula do Xeomin® tem um peso molecular menor, beeeem menor, de somente 150Kda, reduzindo a formação de anticorpos.
E de fato, o índice de formação de anticorpos no uso do Xeomin® é muito menor, 4 ou 5 vezes menos que o Dysport® ou Botox®, dependendo do estudo.
Mas esta perda veio acompanhada de um problema: menor halo de ação, menor tempo de efetividade clínica. Isso é encontrado em profusão na literatura: Dysport® tem maior halo de ação e tempo de efetividade que o Botox®, que por sua vez tem mais efetividade que o Xeomin®.
Isso pode ser justificado, ainda que de forma imprecisa, por outro artigo que escrevi sobre subdosagem. O Xeomin, talvez, se disperse muito rápido e pouco entra nas terminações nervosas, podendo eventualmente subdosar o músculo daí a justificativa de que a duração seja menor. Isso é especulação mas pode ser uma das justificativas sobre isso.
Aí entra-se em um dilema: Menos formação de anticorpo, mas menor efetividade.
E, ao que parece, este dilema começou a ser resolvido com o Daxxify® porque, olha só: ele usa a molécula pura, tal qual o Xeomin®, sem o complexo hemaglutinina–neurotoxina, mas COM o tal Peptide Exchange Technology® como um agente estabilizador. Este peptídeo (sintético, ou seja, não tem origem animal) é utilizado em substituição à albumina humana ou à gelatina bovina que é utilizada como excipiente em outras marcas.
Aparentemente este peptídeo pode potencializar a entrada da toxina e sua ação intracelular. Ele aumenta a afinidade da neurotoxina pela membrana nervosa, aumentando a internalização do medicamento, daí justificando seu maior tempo de ação.
Aqui veio a inovação: Não existe, ainda, outra empresa farmacêutica que adota esta tecnologia dentro do uso de neuromoduladores.
Se você nos acompanha, já nos viu comentando sobre o tal peptideo botulínico, o (BoLCA+® ou o Meiskin Swiss® que de Swiss não tem nada…) que também traz um conceito similar: é um peptídeo (ou seja, não é a toxina botulinica completa) que é associado a uma molécula carreadora para supostamente melhorar a permeação do medicamento em pele.
Não é a mesma coisa (aliás, este peptídeo botulínico tem funções totalmente diferente da toxina botulinica), mas é a mesma lógica, entende?
Mas… Daxxify® dura mais que o Botox®?
Pelos artigos publicados, ainda poucos, sim, mostra maior efetividade clínica. Até porque o medicamento passou pelos testes clinicos e pela aprovação do FDA, mas ainda não está a venda.
Como comparar algo que ainda sequer está a venda com os mais de 100 milhoes de frascos de Botox® vendidos até hoje? Isso pra falar só do lider de mercado. Fora as outras dezenas de outras marcas a venda por aí.
Difícil, né?
Todas especulações estão ainda em um campo de possibilidades que este medicamento trará, mas o Aristóteles falou algo importante: A única verdade é a realidade. E não existe ainda a realidade clínica do Daxxify®. Ainda.
Claro que os estudo se mostram promissores, veja este gráfico:
Comparando 20 U de ONAtoxinbotulinumA (Botox®) com 20, 40, 60U de DAXItoxinbotulinumA-lanm (Daxxify®) percebe-se uma maior efetividade do novo medicamento, né?
Mas veja: e se tivesse sido utilizado 40U ou 60U do Botox? Será que teria tanta diferença assim? Seria significativo a ponto de justificar a sua adoção?
Estas perguntas começarão a ser respondidas a partir do momento que o produto entrar no mercado e houver produção científica que faça e busque responder, pelo menos em parte, estas dúvidas.
E mais: será que um tempo maior é desejável? Esta é a pergunta principal.
Por isso é que achamos importante que você assista nossa aula que explica estes trabalhos publicados sobre o Daxxify®, os conceitos envolvidos nesta toxina e se justifica a sua adoção quando ela aportar aqui em na terra brasiliensis:
Além disso, através do Instituto Velasco PLAY, nossa comunidade de estudo você pode baixar toda a literatura mais relevante que temos sobre este medicamento, e assim se aprofundar nos estudos.
Daxxify® está a venda no Brasil?
Não existe previsão para venda do Daxxify® no Brasil. E mesmo nos EUA a venda só começa em 2023. Vamos aguardar ansiosamente!
Até a próxima!