Nesta semana um colega colocou uma questão interessante em um dos nossos grupos de discussão:
Tenho uma paciente vegana radical que me perguntou sobre as toxinas botulínicas, ácidos hialurônicos e bioestimuladores.
Eles possuem alguma substância de origem animal nas sua composições? Isto me gerou algumas dúvidas se poderia utilizar tais medicamentos nesta paciente. Poderiam me dar uma ajuda?
Dei a resposta a ele, mas vou colocar aqui várias considerações sobre o tema e se é possivel fazer tratamentos de Harmonização Facial em pacientes vegan.
Muito mais que uma dieta…
Quando você googla por aí para entender o que é veganismo, é de lei trombar com artigos explicando as diferenças entre um vegano e um vegetariano. Outros, detalhando várias outras “vertentes” como os flexitarianos, Ovolactovegetariano, Pescetariano, etc.
Em resumo, lidando como se o veganismo fosse uma escolha alimentar, uma dieta. Está certo que mudanças de hábitos alimentares estão cada vez mais frequentes e, penso eu, em um futuro próximo, toda alimentação que se utiliza de outros animais como base passará a ser questionada.
Eu mesmo reduzi muito meu consumo de derivados animais (motivos vários, de saúde até um pouco de empatia com os pobres animais digestíveis) e hoje poderia dizer que tendo à ser um Ovolactovegetariano com recaídas.
Mas na realidade o veganismo é um movimento. É um conceito em que seus adeptos evitam, na medida do possível e do praticável, excluir todas as formas de exploração e crueldade contra os animais não só na alimentação, mas também no vestuário ou qualquer outro tipo de consumo.
E justamente por isso existe uma consequência prática em vários aspectos da vida dos vegans: toda escolha deve ser pensada dentro deste conceito de ” não uso de derivados de animais”.
Aqui cabe compreender como a Harmonização Facial se encaixa neste contexto. Vamos lá?
Bactérias são animais?
Na verdade não são animais, mas são seres vivos, sem sombra de dúvida. Basicamente são unidades unicelulares e que tem ações/atuações bem específicas. Seja para o bem, seja para o mal.
Para o mal, todos sabemos das diversas infecções e doenças cujo agente causal é uma bactéria.
Mas sem sombra de dúvidas, elas (no sentido amplo da palavra) atuam para nos manter vivos. Seja para otimizar processos digestivos, seja para melhorar até nossa saúde mental, o fato é que existe uma simbiose entre nosso organismo e as inúmeras bactéria que nos “habitam”.
Não existiríamos sem elas.
E elas (juntos com outros seres unicelulares como as leveduras) são base de nossa alimentação desde que o humano passou a ser “humano”.
Vai comer um queijo? Olha lá a bactéria ajudando na preservação do alimento e apurando o sabor.
Vai tomar uma cerveja (que existe há tanto tempo quanto a “humanidade”), olha lá uma levedura agindo e deixando o ambiente livre de bactérias maléficas. Com benefício de dar uma calibrando no álcool presente na bebida!
Quer fazer um alimento durar por muitos dias sem ter geladeira? Manda bala em uma conserva rica em bactérias, tipo um chucrute ou picles.
Então, do ponto de vista do veganismo, bactérias não estão incluídas no movimento. O que é muito bom porque…
(Quase) tudo vem das Bactérias!
A toxina botulínica é formulada a partir da secreção de bactérias do gênero Clostridium. O Ácido hialurônico é produzido em biorreatores por bactérias… mas cada produto tem sua particularidade, porque existem os conservantes, excipientes, e um monte de outros produtos dentro de um frasco, então cabe entender o que tem junto com os principais produtos da Harmonização:
Toxina botulínica
Ok, você já viu que tem origem bacteriana, mas existem uma série de produtos para estabilização do medicamento. E aqui entra um problema (ou não, você deve avaliar): muitos destes produtos tem origem animal.
Praticamente todas as marcas utilizam da Albumina humana como excipiente (aqui desculpem minha ignorância, mas se é humano conta dentro deste conceito?). A exceção fica por conta do Prosigne, por exemplo, de origem chinesa, que utiliza gelatina bovina em substituição.
Outra informação vem por parte do Dysport, que tem em sua composição a presença de Lactose, açúcar derivado do leite.
Existem até questionamentos que sugerem simplesmente “existir traços de leite ou de lactose” não implicariam na exploração animal para produção de tal produto, ou seja, podem ser consumidos por veganos. Isto porque o material de origem animal aparece porque o produto foi manipulado em um mesmo equipamento e estes “traços” podem ser devidos a “contaminação cruzada” entre os produtos.
No caso do Dysport, a lactose é acrescentado INTENCIONALMENTE, é um pouco diferente desta lógica.
Então até agora, na minha interpretação, Dysport e Prosigne estariam fora dos produtos indicados para veganos. Mas leia até o final para entender mais sobre os testes em animais.
Ácido Hialurônico
O carro chefe na Harmonização Facial, o ácido hialurônico era, no passado, extraído da crista de galos, mas hoje está fonte não é mais utilizada pelas altas taxas de sensibilidade e alergias destes produtos.
Hoje o que temos é um ácido hialurônico produzido por bactérias da espécie Streptococos e que passa por uma série processos de purificação e filtragem para ser utilizado como medicamento.
Ao contrário das toxinas, os excipientes dos preenchedores são basicamente compostos por uma solução tampão (para equilibrar o pH) e lidocaína (um anestésico local), ou seja, cabem dentro do movimento vegan e podem ser utilizados em seus seguidores. Mas leia até o final deste texto.
Bioestimuladores de Colágeno
Via de regra, são produtos sintéticos derivados de polímeros (como é o caso do Sculptra e Rennova Elleva que vem do Ácido Poli-l-Láctico, ou do Ellansè, a base de Policaprolactona) ou de Hidroxiapatita de cálcio (um mineral).
Os excipientes podem ser derivados do glicerol (de origem vegetal ou petroquimica) e também carboximetilcelulose (também de origem vegetal) e não existem problemas em sua utilização por veganos.
Uma excessão fica a cargo de algumas marcas de PMMA (o infame polimetilmetacrilato) que pode ter colágeno bovino em sua composição, mas é um produto que está em desuso pela alta taxa de complicações atribuídas ao seu uso.
Fios de PDO
Também são feitos a base de polímeros sintéticos, sem problemas para um vegano utilizá-los.
Mas… se passou por testes em animais, continua sendo vegano?
Aqui vamos entrar em uma parte mais conceitual. TODOS os medicamentos e produtos citados acima tiveram, em algum momento do seu desenvolvimento, que passar por testes em animais.
TODOS.
Tal qual qualquer medicamento, existe um ciclo de estudos necessários para um produto ser considerado seguro para utilização em humanos, e em parte deste ciclo exige o uso de cobaias.
Mesmo existindo muito testes em que cobaias são substituídas por modelos digitais ou laboratoriais, ainda não é possível aprovar um medicamento sem antes testá-lo em um outro animal.
O uso de animais em pesquisas é uma parte da ciência (e da medicina) que envolve muita discussão, sobretudo no aspecto ético. Mas HOJE, é virtualmente impossível que 100% dos testes sejam feitos sem o uso de cobaias vivas.
Então se considerarmos que, mesmo um produto que não tem em sua composição materiais de origem animal, devemos entender que em algum estágio do seu desenvolvimento houve SIM sofrimento animal.
E aqui cabe o julgamento do seu paciente vegano: isto é perdoável?
Para medicamentos essenciais, vacinas, etc, a resposta é mais fácil.
Mas e na Harmonização Facial? Para um tratamento que, na maior parte das vezes, pode ser considerado supérfluo do ponto de vista da saúde. É um luxo, concorda?
Mas existe UM tratamento de Harmonização Facial 100% vegano.
Sim. Existe e é um dos mais acessíveis: o uso dos agregados derivados autólogos. Mesmo porque não são produtos, são TÉCNICAS.
O sangue coletado vem do próprio paciente, não existem compostos de origem animal em nenhum estágio de seu processamento, e eu diria que é um tratamento estético vegano por excelência.
Perceba que também temos pesquisas em animais usando e validando esta técnica, porém em essência o que você vai usar no seu paciente não foi usado em mais ninguém, concorda? O sangue é coletado, processado e aplicado no mesmo paciente, na mesma hora. Como disse, é uma técnica/tratamento, não um produto.
E um dos tratamentos mais interessantes, devo falar.
Curiosamente, os agregados plaquetários tem mais discussões do ponto de vista religioso do que ético.
Teoricamente, por exemplo, uma Testemunha de Jeová mais tradicional não poderia fazer o uso pois o sangue é retirado do corpo, processado e reinserido na hora da terapia, uma auto-transfusão, não permitido pelos dogmas desta religião.
Mas aqui não cabe julgamento e este é um assunto para uma outra postagem!
Ah, e se quer oferecer os tratamentos de harmonização para um publico vegano, que tal fazer nosso Credenciamento Online de Agregados Plaquetários autólogos?