O método científico

O método científico

Rogério, temos que publicar um artigo! Você tem que mostrar o que você achou!

Perco a conta das vezes em que ouvi frases como esta. Que teria de publicar algo, que precisava fazer artigos científicos. E quase sempre relevava este pedido porque não está naquilo que acho que sei fazer.

Pesquisa científica é difícil, e não me acho à altura para tal ação, além de pensar que não está no meu core-business. Penso que estou mais para um crítico do que é publicado do que para um pesquisador propriamente dito. Gosto do ensino, não gosto da pesquisa, ainda que, no ensino, na minha humilde opinião, exista a necessidade de pesquisar.

Pensando bem, não é “pesquisar” em si, o laboratório, a experiência.

Está mais para o estudar o que foi pesquisado, interpretar trabalhos e resultados, aplicar clinicamente o que é coerente (no meu ponto de vista), e por fim compilar, reduzir e explicar aquilo lá que pesquisei para que outros colegas possam replicar com mais facilidade o que demorei uma eternidade para absorver.

Dito isso, que sou professor e não pesquisador, é que vou entrar no tema deste artigo: o método científico e a sua importância na construção do Conhecimento.

A Ciência é feita de perguntas, não de respostas.

Como nos ensinou o sábio Douglas Adams na pentalogia do Guia do Mochileiro das Galaxias (leiam!),

É um erro acreditar que é possível resolver qualquer problema importante usando apenas batatas.

Portanto para (tentar) resolver todos os problemas importantes é que existe o método científico, ainda que possam ser usadas, eventualmente, batatas. Não que ele seja considerado unânime, mas é inegável que o método faz muito sentido, pelo menos para mim e maioria dos pesquisadores.

Ele pode ser separado em 8 estágios, a depender da área a ser pesquisada, que seriam mais ou menos estes:

Observação: A primeira etapa envolve observar cuidadosamente um fenômeno ou problema específico no mundo natural. Pode ser uma anomalia, uma pergunta sem resposta ou algo que desperte curiosidade.

Formulação da pergunta: Com base na observação, o formula-se uma pergunta clara e específica que deseja responder. Essa pergunta geralmente é focada em entender o que causa o fenômeno observado ou como ele ocorre.

Formulação da hipótese: Uma hipótese é uma suposição que tenta explicar a pergunta feita. É uma explicação possível para o fenômeno observado, que pode ser testada por meio de experimentação. Este ponto é essencial: se não pode ser testado não é científico. (Karl Popper disse: o que não é falseável ou refutável não pode ser considerado científico. Falaremos dele mais à frente)

Experimentação: Nesta etapa, experimentos são projetados e conduzidos para testar a hipótese. Isso envolve manipular variáveis e observar suas influências sobre o fenômeno em questão. Experimentos bem planejados são fundamentais para obter resultados confiáveis e repetíveis, e isso é algo dificílimo. Determinar a metodologia de um estudo, penso, é uma das coisas mais complexas a se fazer, já que ela deve responder, ou melhor, indicar o caminho, para esclarecer a pergunta lá de cima.

Coleta de dados: Durante o experimento, dados precisos e quantificáveis são coletados para registrar os resultados. Isso é importante para análise posterior e para determinar se a hipótese é válida.

Análise dos dados: Os dados coletados são analisados usando métodos estatísticos e outras técnicas relevantes. Isso ajuda a determinar se os resultados são consistentes com a hipótese ou se há evidências que a refutem. E aqui é interessante: um artigo pode validar ou invalidar a hipótese do pesquisador, e ainda assim não tem problema. Ou seja, a resposta sempre vai existir.

Conclusões: Com base na análise dos dados, o cientista tira conclusões sobre se a hipótese é apoiada ou rejeitada. As conclusões devem ser baseadas em evidências sólidas e serem capazes de responder à pergunta inicial.

Comunicação dos resultados: Por fim, os resultados do estudo são comunicados à comunidade científica e ao público em geral. Ainda que, idealmente, os achados devam ser publicados em revistas validadas e revisto por pares, existem outras formas, como apresentações, aulas,, conferências, cartas e editoriais, etc. ainda que estas não permitam uma coisa essencial à validação do artigo: a replicabilidade.

Um dos aspectos importantes para que algum estudo seja validado cientificamente é que, através dele é possivel a outros cientistas examinem, verifiquem e reproduzam os resultados.

Revisão por “Parças”

Outro ponto é que antes da publicação final, os resultados deveriam ser muitas vezes submetidos à revisão por pares. Situação em que outros especialistas no campo avaliam criticamente o estudo quanto à sua metodologia, resultados e conclusões. Muitos, mas muitos mesmo, artigos pulam esta parte, ou são avaliados por “parças”, não por pares, de modo a deitar por terra a sua credibilidade e replicabilidade.

O mais mágico da coisa toda é que este ciclo é interminável. Isso quer dizer que, ao final do ciclo, você NÃO TERÁ A RESPOSTA COMPLETA, mas você estará mais proximo dela (teoricamente): os resultados podem levar a novas observações, perguntas, hipóteses e demandar novos experimentos.

É um processo contínuo de investigação e que, a cada ciclo, vai “refinando” o conhecimento e permitindo o avanço do conhecimento científico. Ou até mesmo encerrando um ciclo, por exemplo, se no percurso para saber a aplicabilidade uma droga descobre-se que ela não funciona para aquilo que se propõe ou até mesmo mostra-se perigosa para utilização.

Quem inventou o Método Científico?

Ah, aí você está querendo saber demais.

Brincadeira, é que não existe um “inventor”. Existem muitas origens e influencias diversas que contríbuiram à formação da Epistemologia. Este nome bonito e agradável aos ouvidos é a também conhecida como a Teoria do Conhecimento, um ramo da filosofia que estuda como o ser humano adquire e justifica seus conhecimentos.

Vamos entender algumas destas correntes filosóficas, por ordem de aparecimento, não de importância:

Empirismo

Tendo John Locke como seu principal destaque (não o do seriado Lost, ainda que eles tenham uma correlação direta), o empirismo destaca a importância da experiência sensorial e da observação como base para o conhecimento. Por esta lógica, o conhecimento deve ser derivado da experiência e da observação cuidadosa dos fenômenos naturais. No método científico, a influência do empirismo veio na observação direta e na busca por evidências completas.

Racionalismo

Tendo René Descartes como seu principal destaque, o racionalismo enfatiza o papel da razão e do pensamento lógico na obtenção do conhecimento. Segundo seus teóricos algumas verdades podem ser conhecidas a priori, ou seja, sem depender da experiência sensorial. Eles argumentam que a razão é uma fonte fundamental de conhecimento e que os princípios racionais podem ser usados para deduzir conclusões sobre o mundo.

Positivismo

Pouco mais recente, e baseado nos trabalhos de Auguste Comte, o positivismo argumenta que apenas afirmações verificáveis empiricamente ou logicamente são válidas. O positivismo também advoga pela separação entre fatos observáveis e especulações metafísicas. O primeiro indubitavelmente deve ser objeto de estudo científico, enquanto o segundo não deve ser considerado científico.

Realismo Científico

Talvez o ramo mais importante que devemos considerar no método científico, é baseado nos estudos de Karl Popper. Para ele, o mundo é independente da nossa percepção e que a ciência pode descobrir verdades objetivas sobre a realidade. Ele argumenta que as teorias científicas devem ser entendidas como representações aproximadas da realidade, e não meramente como construções ou idealizações humanas.

Falibilismo

Ainda tendo Karl Popper como um dos autores principais, esta corrente filosófica reconhece que as teorias científicas podem estar sujeitas a revisões e ajustes com base em novas evidências. Ou seja, mesmo as teorias amplamente aceitas podem, a qualquer momento, ser questionadas e modificadas à medida que novos conhecimentos são adquiridos

Então entenda que o método científico é uma combinação de várias perspectivas filosóficas e não é estritamente limitado a nenhuma única abordagem em especial.

Tem sempre um do contra…

Paul Fayerabend era um anarquista. OU melhor, ele defende o que chamou de “anarquismo epistemológico”. Ele tem um livro, publicado em 1975, bastante incisivo: Contra o Método: Esboço de uma Teoria Anarquista do Conhecimento.

Ele argumenta que não existe um método único e universal que possa ser aplicado a todas as disciplinas científicas. Ele defendeu a ideia de que diferentes métodos e abordagens podem ser igualmente válidos e produtivos, dependendo do contexto específico de cada área de pesquisa.

Segundo Fayerabend é que o avanço científico pode acontecer mesmo não se compreendendo o porquê das coisas em um primeiro momento.

Mais ou menos assim: séculos antes da Era Comum os moradores de uma determinada região da Asia de lagum modo entenderam que macerar e ingerir uma flor que nascia nos campos perto da aldeia ajudava a dormir, relaxar e a acalmar crianças. A flor era a papoula e o principio ativo era o ópio. Então este uso medicinal da flor, ainda que seus efeitos e porquês não fossem compreendidos à época, não deixou de ser um avanço científico.

Ainda que Fayerabend tenha sua relevância, e sua  abordagem seja muito interessante, EU  ainda acho que o método científico é, até o momento, a melhor forma de tentar responder aos principais questionamentos científicos.

Concluindo

Apesar de não ser perfeito ou unânime, o método científico oferece um caminho estruturado para investigar fenômenos e responder a perguntas de forma sistemática e replicável. Portanto, seja você um pesquisador ávido ou um crítico cuidadoso como eu, o método científico oferece uma forma que pode ajudar a todos nós a abordar a vida, o universo e tudo mais.


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Publicado por:
Mestre em Medicina/Cirurgia de Cabeça e Pescoço, Especialista em Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial, Prótese Dentária, Prótese Bucomaxilofacial e em Harmonização Orofacial. Coordenador de cursos em Implantodontia e Harmonização Orofacial do Instituto Velasco, Diretor do Hospital da Face. Trabalha desde 2011 em harmonização facial.