Fechamento de Espaços Interdentais com Ácido Hialurônico

Fechamento de Espaços Interdentais com Ácido Hialurônico

Abordaremos neste artigo a problemática dos “triângulos negros” interdentais, que podem surgir devido a várias condições, como perda de inserção periodontal, contornos de restauração inadequados, diastemas, entre outros. Desde a descriçao da estrutura e a importância da papila interproximal na estética e saúde bucal, detalhando suas características em diferentes áreas da cavidade oral até as as consequências de sua perda, como problemas estéticos, fonéticos e de retenção de alimentos.

Vamos apresentar as dificuldades de restaurar esteticamente a papila interdental, mencionando procedimentos complexos com resultados muitas vezes limitados. Neste ponto, o ácido hialurônico pode ser uma solução potencial, dada sua capacidade de retenção de água e promoção da estrutura tecidual, propondo uma técnica não invasiva com gel de ácido hialurônico para mitigar os desafios estéticos dos triângulos negros.

Temos uma vasta revisão de literatura sobre o uso de ácido hialurônico no fechamento de espaços interdentais, indicando uma nova abordagem para este problema comum.

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Boa leitura!

Porque usar o Ácido Hialurônico?

Em 1934, Karl Meyer e John Palmer identificaram uma substância química, até então desconhecida, do corpo vítreo dos olhos de bovinos. Descobriram que a substância continha duas moléculas de açúcar, uma das quais era ácido urônico, e nomearam-na “ácido hialurônico”. O nome é derivado de “hyalos”, que é a palavra grega para vidro, somada ao ácido urônico. A relevância dessa substância em termos de macromoléculas naturais se confirmou ao longo do tempo. O ácido hialurônico começou a ser comercializado em 1942, quando foi solicitada uma patente para usá-lo como substituto da clara do ovo em produtos de panificação.

O ácido hialurônico é um componente da matriz extracelular, e a maioria das células pode produzi-lo em várias fases de seu ciclo celular. Sua função mais relevante é a participação no processo de cicatrização e reparo tecidual, onde estimula a proliferação celular, migração e angiogênese, reepitelização e proliferação de queratinócitos basais, além de reduzir a formação de colágeno e tecido cicatricial.

O ácido hialurônico é um polissacarídeo longo e não ramificado, composto por dissacarídeos repetidos de D-glucurônico e N-acetil-D-glucosamina, com peso molecular que pode chegar até 2 × 107 Da. Sua estrutura foi descrita somente em 1970, apesar de ter sido isolado inicialmente em 1934. Devido às suas propriedades viscoelásticas, atividade fisiológica e biocompatibilidade, é considerado um material ideal para aplicações farmacológicas, sobretudo em oftalmologia, reumatologia e dermatologia. Além disso, a modificação química de suas moléculas resulta em biomateriais à base de ácido hialurônico biocompatíveis e biodegradáveis, amplamente utilizados para cobertura de feridas e engenharia de tecidos.

Embora seja considerado principalmente uma molécula extracelular, também foi encontrada no interior das células, na área perinuclear das células do músculo liso aórtico durante os estágios pré-mitóticos e mitóticos e nas estruturas do citoplasma, relacionada ao ácido hialurônico extracelular.

Apesar do ácido hialurônico ser reconhecido como seguro e eficaz, diversas de suas funções no organismo ainda são desconhecidas. Contudo, tem demonstrado efeitos condroprotetores in vivo e in vitro. Além disso, sua interação com receptores e proteínas da matriz extracelular da cartilagem articular, junto com suas propriedades reológicas, ajudam a explicar os efeitos benéficos a longo prazo na cartilagem articular.

Recentemente, foi proposta uma técnica não invasiva que utiliza gel de ácido hialurônico, com resultados imediatos. Este tratamento pode substituir os procedimentos cirúrgicos invasivos e pode ser utilizado com sucesso para a reconstrução da papila dentária na zona estética.

O ácido hialurônico também é encontrado no ligamento periodontal, embora em proporções menores, o que é relevante para as movimentações ortodônticas. Seu uso tem se mostrado benéfico no tratamento de diversas terapias periodontais.

Em comparação com outros preenchedores, o ácido hialurônico tornou-se o material de escolha para fins estéticos e terapêuticos na harmonização facial, sendo usado em mais de 80% do mercado desde que foi aprovado pela Food and Drug Administration (FDA). No entanto, é fundamental que seu uso seja conduzido por profissionais qualificados para o controle da ação do ácido hialurônico, reversão de efeitos adversos e tratamento de intercorrências oriundas do uso de preenchedores. A enzima hialuronidase é utilizada para tais fins.

Os Espaços Interdentais (Triângulos Negros)

Em 1985, Shapiro explorou a possibilidade de regeneração de papilas interdentais por meio da curetagem periódica. Segundo ele, a raspagem repetida, alisamento radicular e curetagem do tecido papilar a cada 15 dias por 3 meses poderiam desencadear uma reação inflamatória hiperplásica proliferativa da papila, auxiliando na reconstrução de papilas destruídas por gengivite ulcerativa necrosante aguda.

No mesmo ano, Takei e colaboradores descreveram a técnica de preservação da papila para cirurgias periodontais, postulando que, se a papila for preservada durante um procedimento cirúrgico, a probabilidade de se manter após o tratamento é significativamente maior.

Em 1992, Tarnow e sua equipe analisaram o efeito da distância entre o ponto de contato até a crista do osso sobre a presença ou ausência da papila dentária interproximal. Concluíram que a papila estava presente em quase todos os casos em que essa distância era menor que 5 mm.

Em 1995 e 1999, Cortellini propôs uma modificação do retalho convencional de preservação da papila, a técnica de preservação da papila modificada e simplificada. De acordo com o autor, a técnica modificada é mais adequada para dentes anteriores onde o espaço interdental é maior que 2 mm, enquanto a técnica simplificada é mais aplicável em áreas onde o espaço interdental é menor que 2 mm.

Em 2001, Cortellini inovou a cirurgia periodontal com a adoção de uma abordagem microcirúrgica para a regeneração periodontal. Essa abordagem, que utiliza instrumentos microcirúrgicos, otimizou os resultados clínicos em termos de taxa de sucesso e estética, pois proporciona um acesso cirúrgico melhorado aos tecidos interdentais e está associada a uma alta capacidade de obtenção e manutenção previsível de um fechamento primário dos tecidos interdentais sobre as barreiras de membrana.

A papila interdental (PID) ocupa o espaço formado entre dois dentes adjacentes, funcionando como uma barreira biológica que protege as estruturas periodontais subjacentes, além de ter um papel relevante na estética. A perda da PID, denominada “triângulo negro”, pode ser causada por doença periodontal, trauma, preparação mecânica ou química, ou procedimentos de alongamento da coroa. Os triângulos negros representam um desafio estético e funcional, pois além de comprometerem a estética do sorriso, também podem levar ao acúmulo de alimentos.

As causas comuns de perda de gengiva interdental incluem: perda de inserção devido a doença periodontal, idade do paciente, biótipo gengival, tratamento ortodôntico prévio, morfologia e forma do dente anormal, posição anormal de contato do dente e extração dentária pós-traumática.

O estudo de Al-Zarea e colaboradores (2015) aponta que os ortodontistas consideram uma recessão gengival aberta de 2 mm visivelmente menos atraente do que um sorriso ideal com recessão gengival normal. Abrasões gengivais abertas ligeiramente maiores que 3 mm são consideradas menos atraentes tanto pelos dentistas gerais quanto pela população em geral. (Krishnan, et al., 2006).

O Ácido Hialurônico Injetável para Fechamento de Espaços Interdentais

Becker et al. (2010) lançaram a base experimental para a utilização do ácido hialurônico (AH) como método para diminuir ou eliminar pequenas deficiências papilares. Em seu estudo piloto com 11 pacientes, evidências preliminares foram obtidas sobre a eficácia do gel de AH em melhorar as papilas deficitárias, com resultados positivos observados em todos os locais de implante e de dente tratados.

Mansouri et al. (2013) validaram a eficácia da aplicação clínica do gel de ácido hialurônico para a reconstrução da papila interdental na zona estética. Concluíram que a aplicação do gel é benéfica até certo ponto para a reconstrução da papila interdental, sendo, portanto, recomendada como método não invasivo.

Dall’Magro et al. (2016) avaliaram a eficiência do ácido hialurônico como um indutor na formação de papila gengival. O estudo evidenciou a eficácia e biocompatibilidade do ácido hialurônico com os tecidos, demonstrando ser um método simples, seguro e eficaz para o preenchimento de lacunas interpapilares.

Sanchéz et al. (2017) apresentaram um caso clínico de reconstrução de papila interdental com infiltração de AH. Afirmaram que o AH é uma das raras técnicas não cirúrgicas para regenerar as papilas interdentais.

Ficher (2018) fez uma revisão bibliográfica da reconstrução de papilas interdentais perdidas com ácido hialurônico. A autora concluiu que a aplicação do ácido hialurônico em papilas dentárias é uma boa opção de tratamento para pequenas deficiências, mas ainda é necessária mais investigação para confirmar a eficácia e durabilidade desse tratamento.

Monet-Conti et al. (2018) realizaram um ensaio clínico prospectivo para examinar a reconstrução estética da perda de papila interdental usando um gel de ácido hialurônico injetável. Observaram que a terapia com gel de AH para tratar a perda de papila interdental resultou em melhorias significativas após 6 meses.

Al Habashneh e Khaleel (2018) conduziram um estudo para avaliar a eficácia do ácido hialurônico como tratamento para a perda de papila interdental na zona estética. Concluíram que o ácido hialurônico pode ser utilizado com sucesso para a reconstrução da papila ausente em mulheres com perda papilar maxilar, recomendando seu uso em áreas esteticamente relevantes.

Teixeira Neto et al. (2018) ilustraram em seu relato de caso o uso bem-sucedido do ácido hialurônico injetável para aumentar as papilas deficientes. A abordagem não cirúrgica, ao longo de 8 aplicações em 5 meses, resultou em um aumento observável de 1,0 mm na papila gengival.

No estudo de revisão de Sacramento et al. (2019), a aplicação do AH foi verificada como um material eficaz para induzir a formação de papila gengival. Eles concluíram que o AH tem tido sucesso notável como alternativa no tratamento do envelhecimento facial e que sua aplicação na reconstrução das papilas interdentárias tem demonstrado resultados eficientes.

Em uma pesquisa experimental, Singh e Vandana (2019) avaliaram a eficácia de diferentes concentrações de gel de AH no aprimoramento das papilas interdentais deficientes. Seus resultados sugeriram que o uso de 5% de AH foi eficaz, com rebote mínimo observado após 6 meses.

Firkova (2020) mostrou o efeito do gel de AH nas injeções em papilas deficientes, registrando um ganho estatisticamente significativo de 77% em 6 meses. Kim et al. (2020) também observaram resultados favoráveis, destacando alterações morfológicas e histológicas positivas na papila interdental após a aplicação de AH em um modelo de camundongo.

Um estudo de Patil et al. (2020) evidenciou que a injeção de um gel de AH em pequenas deficiências papilares entre os dentes pode levar à sua potencialização, enquanto Campos et al. (2021) mostraram a eficácia do AH no tratamento dos chamados “triângulos negros”.

Sanchez-Perez et al. (2021) destacaram a eficiência do AH injetado nas papilas interproximais, com uma média de preenchimento de 0,7 mm na altura da papila interdental após 6 meses da injeção. Ni et al. (2021) confirmaram que a injeção de AH pode aumentar a altura das papilas gengivais e melhorar os defeitos da papila gengival, embora tenham notado que o efeito não era superior ao da solução salina fisiológica.

Ni e colaboradores (2021) realizaram um estudo comparativo in vivo e in vitro para avaliar a eficácia da injeção de ácido hialurônico (AH) versus solução salina na restauração de papilas gengivais deficientes. Observou-se um incremento significativo na altura das papilas gengivais após a injeção de AH. Ademais, os fibroblastos gengivais exibiram maior proliferação e migração com o tratamento de AH, destacando o seu potencial no reparo de papilas gengivais deficientes.

No trabalho de Patil et al. (2021), avaliou-se a eficácia clínica do aumento da papila interdental deficiente através da injeção de gel de AH. Houve uma reconstrução notável da papila interdental, especialmente quando o ponto de contato e a crista óssea atingiram 6 mm. O estudo sugere que o gel de AH pode ser uma opção viável para o tratamento da deficiência papilar.

Božic e colaboradores (2021) apresentaram os resultados clínicos de uma abordagem inovadora para tratar defeitos intraósseos profundos utilizando técnicas de preservação de papila com uma combinação de AH e mineral ósseo desproteinizado suíno. Os resultados mostraram ganhos clinicamente relevantes em relação aos valores basais.

A pesquisa sistemática da literatura de Castro-Calderon et al. (2021) avaliou a eficácia e segurança das injeções de AH para restaurar a papila interproximal perdida. Os resultados sugerem que a injeção de AH pode ser eficaz na reconstrução da perda de papila interproximal, embora possam surgir complicações pós-operatórias.

Por fim, Pitale et al. (2021) em um ensaio clínico in vivo, demonstraram que o gel de AH injetável é uma terapia minimamente invasiva promissora para melhorar a estética papilar. Observou-se uma diferença estatisticamente significativa em várias medidas, incluindo a altura do triângulo preto e a largura interproximal após a aplicação do gel de AH.

Em suma, vários estudos destacam o potencial do AH para a restauração e reconstrução de papilas interdentais deficientes. No entanto, são necessárias mais investigações para estabelecer protocolos de tratamento claros e para melhor entender os possíveis efeitos adversos associados ao seu uso.

Fechamento de Espaços Interdentais com Ácido Hialurônico, preenchimento de papilas dentárias
Fotografias clínicas de pacientes representativos tratados com injeções de solução salina fisiológica (grupo controle) e gel de ácido hialurônico (grupo teste). Uma papila gengival deficiente entre o incisivo superior direito e o incisivo lateral superior direito é mostrada após o tratamento com injeção de soro fisiológico na linha de base (A) e após 6 meses (B) e 12 meses (C). Uma papila gengival deficiente entre o incisivo superior esquerdo e o incisivo lateral superior esquerdo é mostrada após o tratamento com uma injeção de gel de ácido hialurônico na linha de base (D) e após 6 meses (E) e 12 meses (F)

É uma abordagem clínica viável?

O propósito final da terapia periodontal reside em interromper a progressão da doença periodontal e regenerar o suporte periodontal que se perdeu. A recessão periodontal tem etiologia multifatorial, incluindo variáveis externas e anatômicas. Vários estudos têm abordado a estética dental com o intuito de atingir um sorriso agradável, buscando harmonia e simetria. Uma abordagem multidisciplinar torna-se essencial para um resultado clínico bem-sucedido. Tanto os fatores etiológicos como as alternativas de tratamento devem ser apresentados e discutidos com o paciente antes do início do tratamento.

A reconstrução da insuficiência papilar constitui um dos desafios mais notórios no tratamento periodontal. A papila interdental é uma região pequena e frágil, com baixa vascularização, o que a torna um desafio para técnicas cirúrgicas e de aumento. Esta região também está relacionada a problemas estéticos e fonéticos, quando comprometida, podendo levar a alterações na alimentação e na fala.

Diversos procedimentos cirúrgicos e não cirúrgicos foram propostos para recriar o tecido interproximal perdido, com particular destaque para os procedimentos mucogengivais microcirúrgicos. Isto se deve, em parte, à vascularização limitada da papila, que apresenta desafios a qualquer forma de enxerto.

O ácido hialurônico surge como uma potencial solução para a regeneração da papila interdental. Este composto exerce papel crucial no crescimento celular e na função de receptores de membrana, e demonstrou efeito significativo na regeneração do tecido periodontal. Tem sido usado para diversas aplicações biomédicas, incluindo aplicações intra-articulares, cosméticas e tópicas. Além disso, mostrou-se eficaz no tratamento de recessões papilares inferiores a 4 mm.

No entanto, as técnicas cirúrgicas devem ser consideradas com cautela devido às potenciais complicações pós-operatórias. A literatura evidencia principalmente resultados clínicos isolados, com a ausência de estudos longitudinais. A interferência estética e funcional na vida do paciente, associada ao seu conhecimento e aceitação do tratamento, constituem aspectos importantes a serem considerados.

Há também a necessidade de se considerar os efeitos adversos relacionados ao uso de ácido hialurônico, como vermelhidão no local da aplicação, edema leve e sensação de sensibilidade, que geralmente desaparecem após 24-48 horas. Além disso, a hialuronidase, uma enzima que pode reverter os efeitos adversos do ácido hialurônico, deve ser utilizada com conhecimento por profissionais.

A satisfação do paciente com o tratamento, conforme observado em várias pesquisas, é um indicador promissor da eficácia do ácido hialurônico na melhora da estética dental.

A perda de tecido mole interproximal pode resultar em prejuízos estéticos e alterações fonéticas. O ácido hialurônico tem ampla aplicação em diversas terapias periodontais e a estabilidade do ácido hialurônico reticulado para minimizar os triângulos negros interdentais se mostra um tratamento não invasivo, seguro, rápido e simples. A injeção de gel de ácido hialurônico apresenta-se como uma abordagem não cirúrgica para regenerar a papila, demonstrando resultados significativos e satisfatórios.


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Publicado por:
Mestre em Medicina/Cirurgia de Cabeça e Pescoço, Especialista em Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial, Prótese Dentária, Prótese Bucomaxilofacial e em Harmonização Orofacial. Coordenador de cursos em Implantodontia e Harmonização Orofacial do Instituto Velasco, Diretor do Hospital da Face. Trabalha desde 2011 em harmonização facial.