Sabe qual o problema de nós dentistas? É que não somos químicos e nem farmacêuticos, mas ainda assim o nosso dia é rodeado de informações que envolvem conhecimentos químico e farmacológico.
Voce já parou para pensar nisso? Quem entende o que são os dizeres de um frasco de anestesia em que está escrito 1:100.000 ou 1:200.00? E normalmente se algum “formador de opinião” diz que 1:100.00 é mais seguro, praticamente todos os demais acatam a informação sem qualquer argumentação. E mais: replicam tal informação de maneira categórica.
Vou contar um causo a vocês.
Assistindo a uma aula de um professor renomado em nossa área (HOF), escuto a seguinte frase:
Quando forem reconstituir a toxina, por favor verifiquem se estão utilizando de soro puro, pois um aluno utilizou soro glicosado para reconstituir a toxina e logo depois estava a paciente interna com 600!!!!
O primeiro questionamento que me surge é: 600 o que?
Obviamente que estava se referindo a glicemia do paciente que é representada por mg/dL (ou seja, quanto miligramas de glicose a cada 100ml de sangue). Mas porque não diz com todas as letras? Ajudaria muito na explicação…
E o segundo questionamento foi: será mesmo que isso é possível?
E me pus a fazer contas… Ahh, essa matemática tão importante para os profissionais da saúde e deixadas de lado…
Se fizermos uma conta rápida: a maior concentração que é vendida desses flaconetes de 10ml de soro glicosado é de 10%.
Ou seja: dentro de um flaconete de soro glicosado de 10 ml a 10% teremos 1g de glicose.
UM grama. UM.
Dai vamos pensar: ao reconstituir a toxina com a quantidade máxima indicada para um tratamento estético, estamos falando de 2,5 ml de soro. Ou seja: terei dentro do meu vidro de toxina o montante de 0,25g de glicose. Como cheguei nessa conta? Fazendo uma regrinha de 3:
10ml de soro glicosado – 1g de glicose
2,5ml de soro glicosado – X g de glicose
você vai descobrir que X=0,25g de glicose.
Pois bem: Pensando ainda no pior dos panoramas, o aluno teria aplicado o vidro todo de toxina, correto??? Isso envolveria injetar na paciente 0,25g de glicose. Agora a informação complementar:
0,25g de glicose é o mesmo que 250 mg de glicose, correto?
Agora… Uma pessoa de 70Kg tem 6 litros de sangue, talvez um pouco mais, talvez um pouco menos… Vamos colocar 5 litros. Isso dá 50 decilitros de sangue…
Então… Se você pegar 250mg de glicose e diluir em 50 decilitros de sangue, vai chegar a um número, grosseiramente, de 5mg/dl.
Agora, COMO o paciente citado pelo professor, do tal formador de opinião, foi internado com 600mg/dl é praticamente um milagre, concorda?
Se você pegar uma Uma bala 7 Belo tem 4 g de glicose/açucar. Você já viu alguém ser internado por causa de 1 bala 7 Belo?
Voces acham mesmo que 250mg de glicose seria capaz de alterar sobremaneira a glicemia de um paciente a ponto de interná-lo?
Se realmente aconteceu, mais me parece coincidência do que qualquer outra coisa, concorda?
Porque que estou contando essa história??
Porque quando envolve cálculos dessa natureza, nós dentistas, não questionamos muito, pois nos falta conhecimento a cerca disso tudo.
E é “fácil” ludibriar quem não se preocupa em fazer contas ou mesmo questionar o que nos foi arremessado, ainda mais vindo de um formador de opinião, que, supostamente, daria um aval “científico” à afirmação.
Esta foi só mais uma das fake news da Harmonização. Tem várias.
Entendendo diluição da toxina botulínica…
Já que o assunto o preparo do medicamento, fizemos um video curtinho tentando explicar as principais dúvidas sobre o assunto:
- Como preparar cada uma das marcas de toxina botulinica?
- Todas tem o mesmo efeito?
- Há alguma equivalência clínica, e se há, qual é?
Temos muitas marcas no mercado, mas vamos entender aspectos gerais nas diferentes reconstituições de toxina botulínica:
Até a próxima!!