Microagulhamento como Alternativa para o Tratamento de Cicatriz Hipertrófica

Microagulhamento como Alternativa para o Tratamento de Cicatriz Hipertrófica

É estranho pensar que uma agressão tecidual, ainda que controlada e dentro de parêmetros bem estabelecidos, pode ajudar a recuperar a saúde de algum tecido.

Na harmonização facial, isso é bem verdade, sobretudo quando falamos de técnicas ablativas como o uso do laser fracionado, do jato de plasma, do Plexr, entre outras técnicas.

O interessante é que o tal “fracionamento” criam ilhas de tecido saudável ao redor do pontos agredidos (a tal ablação), e este fato permite que a área lesionada se recomponha e se regenere a um melhor estado de saúde do que estava antes do tratamento.

E é mais ou menos como age uma técnica muito simples e barata, o microagulhamento. E esta semana trazemos um trabalho muito interessante com o uso desta terapêutica feito pela Dra. Simone Vilela Ferreira Rocha, nossa aluna, e hoje especialista em Harmonização Orofacial

Lembrando que o documento em PDF, com todas as imagens e ilustrações deste trabalho podem ser encontradas na nossa plataforma Instituto Velasco PLAY, de acesso gratuito a profissionais da saúde. Boa leitura!

1. Introdução

O tratamento e integridade da pele vem sendo um dos principais focos da Harmonização Orofacial até o presente momento. Uma busca cada vez mais incessante por procedimentos que tenham eficácia, segurança e além de tudo, que supere a expectativa do nosso cliente. Prima-se pela perfeição e excelência de procedimentos aplicados nos consultórios, e dentro da vasta gama de terapêuticas, o microagulhamento nos permite observar uma grande melhora na textura e na qualidade dérmica.

A perfusão cutânea ocorria por meio de um rolo cilíndrico cravejado de 192 a 1074 micro agulhas. Atualmente o procedimento utiliza-se de uma caneta, como a Dermapen®, que conta com agulhas descartáveis. O mecanismo de inflamação é ativado por tais perfurantes e, ao promover micro lesões, gera um processo de cicatrização local. (BRAGHIROLI E CONRADO, 2018).

Dessa forma, a técnica de indução percutânea de colágeno (IPCA), conhecida como microagulhamento, é um procedimento que estimula a produção de colágeno sem danificar totalmente a epiderme, contrariamente ao que ocorre em outras técnicas ablativas. (DODDA- BALLAPUR, 2009; FABBROCINI et al. 2009)

Esse procedimento é utilizado de forma abrangente e consolidado para o tratamento de cicatrizes atróficas causadas pela acne, se mostrando eficaz e seguro. (BESSA, 2022)

No presente relato, a técnica de microagulhamento com ácido clareador e infusão de ativos clareadores foi adaptada para o uso em uma cicatriz hipertrófica, visando uma melhora estética do aspecto da cicatriz e a redução dos impactos psicológicos que a mesma gera na vida da paciente. A técnica foi pensada e estruturada de acordo com as evidências que foram estudadas e mencionadas durante o trabalho.

O presente relato foi embasado na análise de 31 estudos, sendo observados revisões de literatura e relatos de caso. A pesquisa dos artigos foi realizada nos meses de abril à outubro de 2022, a qual selecionou estudos em inglês e português entre os períodos de 1995 a 2022.

2. Revisão da Literatura

2.1 Aspectos Gerais

Na revisão integrativa de literatura formulado por Ramos (2021), foram analisados oito artigos, nos quais foram observados de forma geral que a utilização do microagulhamento apenas trouxe diversos benefícios para a cicatriz atrófica causada pela acne. No entanto, quando se associa a técnica drug delivery de permeação de ativos ocorre uma potencialização do aspecto e da textura.

Nesse sentido, foi adaptado a mesma técnica para a paciente em questão, que diferentemente de uma cicatriz ocasionada por acne, teve sua origem em um acidente automobilístico. Com isso, a aplicação do microagulhamento, relaciona-se a técnica também utilizada por Ramos (2021) nas oito literaturas listadas, mostrando a credibilidade. Além disso, comprova-se que a perfusão dos ativos, que ocorreu nas sessões da paciente, traz maior benefício.

Ademais, na série de casos produzida por KALIL et al 2017, observou-se seis pacientes do sexo feminino que utilizaram do microagulhamento associado a técnica do drug delivery para tratar estrias e rejuvenescimento da pele da face e das mãos.

O método e os materiais utilizados foram similares ao do relato de caso, comprovando a veracidade da técnica. Percebe-se a utilização dos ativos como o ácido tranexâmico 0,4% e matrixyl 3000, no caso da paciente as concentrações desses ativos na fórmula foi 25mg para o ácido e semelhante para o matrixyl 3%.

Com essas evidências e o sucesso das séries de caso, foi possível perceber que os resultados foram potencializados com a aplicação dos ativos e a garantia de uma melhora da autoestima e da qualidade dérmica. Dessa forma, foi aplicado fórmula semelhante na paciente em questão, com a mesma aplicação na face e os resultados obtidos de forma satisfatória.

Nota-se que no relato de caso propiciado por AGOSTINHO et al. 2019 utilizou-se de uma comparação entre os pacientes que realizaram apenas o microagulhamento e outros que associaram a perfusão de ativos que clareavam o Melasma. Participaram da pesquisa 20 pessoas.

Nesse prisma, foram observados que nos 13 pacientes que fizeram a perfusão de ativos com o material clareador em três sessões foi observado um resultado potencializado em relação aos que realizaram apenas o microagulhamento. As melhoras foram significativas na textura, diâmetro dos poros da pele, presença de eritema, crostas, descamação, extensão e tonalidade do Melasma.

Utilizando os resultados observados na 3a sessão da paciente estudada podemos ver que as perspectivas foram semelhantes. Visto que, a cicatriz ao lado do lábio foi clareada, ocorreu uma diminuição na extensão e uma melhora na tonalidade, observando que a técnica empregada para o Melasma pode ser adaptada para o tratamento da cicatriz atrófica.

O estudo de caso realizado por MOURA et al, 2017 mostra um protocolo de microa- gulhamento relacionado mostrando os passos higienização, esfoliação, assepsia, os materiais utilizados e finalização do processo durante cada sessão de microagulhamento com a perfusão de ativos clareadores para o tratamento de manchas. A higienização, esfoliação e assepsia foram realizadas de forma semelhantes, o aparelho do estudo de caso foi uma Dermoroller® e na paciente a Tatupen®, com o descarte foi realizado em ambos os procedimentos. No entanto, a finalização com os ativos as concentrações e as soluções foram diferentes. O estudo possuiu uma nano loção clareadora com ácido kójico, ácido mandélico e ácido fítico, aplicado em toda a face. Na paciente, foi utilizado semelhantes sendo ácido kójico 1% + alfa arbutin 10mg/0,5ml / ácido tranexâmico 25mg/0,5 ml / niacinamida 10mg + tgp -2 1%/0,5 ml / vitamina a (retinol) 25.000ui/0,5ml / matrixyl 3%/0,5ml.

Os protocolos utilizados no estudo de caso exemplificado, foram repetidos de forma semelhante e adaptada na paciente para que fossem obtidos os resultados semelhantes na cicatriz atrófica. Ocorreu melhora no aspecto da pele, textura, uniformidade e as questões estéticas relacionadas a autoestima da paciente que estava abalada.

Na revisão integrativa de literatura ARAUJO et al., 2021 foram analisados 89 artigos e selecionados 5 para um maior aprofundamento dos casos de cicatrizes relacionadas a acne. Nos artigos foi mostrado que 18 pacientes fizeram a injeção intradérmica de plasma rico em plaquetas. Os resultados mostram que a efetividade do microagulhamento foi potencializada com a aplicação do PRP. O plasma rico em plaquetas foi aplicado na fase final da paciente estudada o que proporcionou melhora significativa da qualidade dérmica, proporcionou o sucesso das sessões realizadas e a conquista dos resultados desejados com a aplicação de ativos. O que também foi uma sugestão para próximos casos e com a paciente em questão.

Ademais, foi analisado o artigo feito por BESSA 2022, uma revisão integrativa de literatura com a inclusão de 6 estudos, que mostraram os protocolos realizados durante o tratamento, o intervalo entre as sessões, a periodicidade e os passos seguidos em cada encontro com o objetivo da melhora na qualidade dérmica de pacientes com acne. O protocolo seguido para a acne foi adotado de forma semelhante na paciente estudada, no entanto os materiais utilizados variaram com a caneta que foi aplicada Tatupen®, ao invés de Dermapen®. Os resultados obtidos foram importantes para que fosse repetido o sucesso do tratamento, os estudos trouxeram evidências para que fosse aplicado os protocolos das sessões de microagulhamento, trazendo exemplos de cicatrizes de acne e manchas de Melasma. Nesse sentido, os protocolos foram aplicados de forma adaptada para uma personalização do tratamento da paciente que possuía uma cicatriz na face por um acidente, formado por uma cicatrização atrófica.

Os protocolos diários, a ordem de manejo da técnica e o intervalo das sessões foram comparados em diferentes artigos e estudos para que fosse aplicado para a necessidade da paciente, com 3 sessões após o primeiro encontro no consultório. Manejos necessários e impor- tantes para que o resultado obtido na paciente fosse semelhante aos alcançados nos estudos. foi comprovado que os ativos que foram usados tiveram correspondência na literatura analisada, com concentrações e substâncias semelhantes. Foi ressaltado que a técnica do microagulhamento quando aplicada sozinha possui garantia de uma melhora. Entretanto quando esse manejo se atrela com os ativos potencializa a perspectiva da qualidade dérmica, com o clareamento da tonalidade da pele, fato que foi comprovado pelas literaturas estudadas.

Em suma, o relato foi produzido com o objetivo de abordar as questões de estética que impactam na autoestima da paciente. Nesse quesito, foi observado que o microagulhamento tem conquistado destaque nas técnicas que proporcionam os resultados que as pacientes esperam, auxiliando na melhora dos quadros psicológicos. Esses fatores foram comprovados nas literaturas com outros pacientes que também procuravam os profissionais com as queixas semelhantes. Por fim, observa-se que o procedimento realizado foi comprovado baseado nas evidências científicas nos diversos estudos analisados.

2.2 Microagulhamento

O microagulhamento (MA), conhecido como terapia de indução de colágeno, trata-se da realização de puncturas repetidas na pele utilizando microagulhas esterilizadas. (ALSTER et al 2018)

A técnica foi concebida em 1995, quando recebeu o nome “subcisão”, inicialmente mostrada por Orentreich et al (1995), com fins de promover a produção de colágeno no tratamento de cicatrizes cutâneas deprimidas. A técnica foi denominada como TIC – Terapia de Indução de Colágeno (CIT – Colagen Induction Therapy), tendo como base a quebra das traves fibróticas que estruturam o tecido cicatricial. A técnica foi aceita pelo Congresso de Cirurgia Plástica e Reconstrutora em Madri, na Espanha e pelo Congresso Internacional de Cirurgia Plástica e Estética em Paris, na França, ainda na mesma década. (ALBANO et al 2018)

Nessa mesma ocasião, Camirand (1997), objetivando camuflar cicatrizes com uma caneta de tatuagem, utilizando pigmentos da cor da pele, descreveu resultados em punturações feitas em duas pacientes que apresentavam cicatrizes hipercrômicas na face. Percebeu-se que uma nova síntese de colágeno saudável foi causada pelas microlesões geradas pelas agulhas. (ALBANO etal 2018)

Dando continuidade ao processo histórico, em meados de 2000, um aparelho apropriado para a indução de colágeno foi criado pelo cirurgião plástico sul-africano Dermond Fernands, o qual era constituído por um cilindro rolante, com microagulhas cravejadas em sua superfície, dando origem ao Dermaroller®, marca amplamente conhecida no âmbito do microagulhamento. O instrumento, possibilitou não só uma perfuração uniforme e rápida, como também a explo- ração de áreas maiores e com diferentes profundidades, estimulando a produção natural de colágeno (PNC), através da resposta ao processo inflamatório e facilitando o Sistema de Acesso Transdermal de Ingredientes (SATI), conhecido como drug delivery (DD). (ALBANO et al 2018)

As microagulhas da caneta, lesionam a camada cutânea provocando pequenos sangra- mentos, começando o processo de uma nova cicatrização, com o objetivo de restaurar o dano epidérmico. Após essa etapa temos a maturação, a qual o tecido é regenerado e ocorre a melhora da aparência da pele. Dessa forma, de maneira mais detalhada, a desagregação dos queratinó- citos em decorrência do microagulhamento promove a ruptura da barreira cutânea, liberando citocinas pró-inflamatórias, que atuam a favor da vasodilatação na região da derme e promovem quimiotaxia, estimulando a migração de queratinócitos para restauração da epiderme. (BACHA E MUDRIK 2016)

Nos últimos tempos aconteceu um aumento significativo na procura de procedimentos minimamente agressivos, o que sugere que o MA terá lugar específico para pacientes que desejam resultados clínicos em um período curto de recuperação. Esse procedimento é eficaz, de baixo custo, com raros efeitos adversos e é uma opção viável no rejuvenescimento de pacientes com fototipos mais altos. (AL QARQAZ 2018)

Em geral é bem tolerado apenas com o uso de anestésicos tópicos quando se utilizam agulhas de até 1 mm. Acima desse comprimento, deve-se medir a extensão da área a ser tratada, sendo bem normal a realização de bloqueio anestésico e/ou anestesia infiltrativa se necessário. (LIMA et al 2013).

Assim, desde a introdução por Orentreich et al (1995) com o conceito de subincisão, que evoluiu por intercessão de Camirand et al (1997) o microagulhamento ligeiramente transformou- se em um procedimento ativo com uso de equipamentos elétricos e manuais. Atualmente é utilizado de forma abrangente e consolidada para o tratamento de cicatrizes atróficas causadas pela acne. (ALSTER et al 2018) (BESSA 2022).

Segundo Baghiroli (2018) o microagulhamento é eficaz no tratamento de inúmeras patologias dermatológicas, dentre as quais podemos citar acne, cicatrizes, rítides e estrias. Assegura ainda que a técnica é minimente invasiva, garantindo sua segurança por meio de um pós operatório de recuperação rápida, efeitos adversos mínimos e eficácia clínica notória.

Associado a essa técnica, a utilização do drug delivery faz com que o microagulhamento tenha um potencial maior de sucesso. Esse processo, utiliza a permeação de ativos que são macromoléculas hidrofílicas, de carga positiva que são contrárias as propriedades da pele e permitem uma maior difusão das técnicas aplicadas. Além disso, a técnica tem a possibilidade de auxiliar em outras aquisições como na redução pigmentação de manchas, no aumento da produção de colágeno na área aplicada, na melhora do aspecto das rugas, linhas de expressão e cicatrizes, no auxílio do rejuvenescimento facial e no clareamento da pele.

A associação da estimulação de colágeno com a permeação de ativos se mostra como a melhor forma para a aquisição de resultados satisfatórios e de melhora da qualidade de vida do paciente. (LIMA ET AL., 2015).

A figura 1 ilustra de maneira esquemática como o microagulhamento funciona.

MICROAGULHAMENTO COMO ALTERNATIVA PARA O TRATAMENTO DE CICATRIZ HIPERTRÓFICA
Figura 1 – Representação esquemática do aumento na produção de colágeno decorrente do Microagulhamento no tecido cutâneo. ALBANO, R.P.S et al. Microagulhamento -a terapia que induz a produção de colágeno – revisão de literatura. Revista Saúde em Foco. 2018

2.3 Cicatrização

Apesar da crescente preocupação funcional e estética que circunda as medidas terapêu- ticas para tratamento de cicatrizes nos dias atuais, é importante ressaltar que os cuidados com a saúde do homem sempre foram uma preocupação ao longo da evolução da humanidade. Os manuscritos egípcios citados por Zimmerman et al (1961), que datam de 3000-2500 a.C, mencio- nam curativos à base de mel, graxa, fios de linho e diversos tipos de excrementos, utilizados na busca por melhora de lesões. Ainda sob a ótica histórica, Hipócrates, conhecido como pai da medicina, criou os conceitos de cicatrização por primeira ou segunda intenção, e recomendava a higienização de lesões por meio da limpeza com água morna, vinho e vinagre, além de preconizar que as mesmas fossem mantidas limpas e secas. (DEALEY 2001)

A cicatrização depende de uma complexa cascata, que envolve eventos e situações especiais que exigem conhecimentos básicos de diversas ciências, como anatomia, histologia, bioquímica, imunologia e farmacologia. (MANDELBAUM 2003).

Tal processo ocorre primeiramente com a hemostasia, posteriormente a inflamação e é finalizado com a reparação do tecido. A hemostasia vai atuar no processo de coagulação do sangue liberado na lesão. A inflamação consiste na liberação de citocinas e nutrientes que vão se direcionar para a área lesionada. Os mediadores químicos, que atuam como moduladores dos processos celulares, estimulam o crescimento e reparação tecidual. (FERREIRA 2006)

Para Albano (2018), a pele é não só um órgão, mas também reflexo da personalidade e comportamento do indivíduo, além de exalar odores e sensações de um indivíduo. Ademais, a pele é responsável por inúmeras funções corporais, como agir como barreira à prova d’água, manter a termorregulação, metabolizar vitamina D, proteger contra a agressões e agentes externos, secretar e absorver substâncias, além de seu caráter estético e sensitivo. (ALBANO et al 2018)

A pele é subdividida em 3 camadas básicas, sendo a mais externa a epiderme, a interme- diária a derme e a mais profunda a hipoderme. A epiderme é a porção epitelial, cuja espessura varia de 0,05 mm em áreas como as pálpebras até 1mm na região plantar. A derme é a porção conjuntiva, pelo menos 10 vezes mais espessa que a epiderme. Além disso, pele humana com- põe o sistema epitelial, formado também pelos fâneros (folículos pilosos, glândulas sebáceas, glândulas sudoríparas e unhas). (NICASTRI et al 2012)

A perda tecidual é o fator desencadeante para o início da cicatrização, a partir da qual a fisiologia volta-se para o reparo de um evento danoso ao organismo. Segundo Lima et al (2013) a cicatrização pode ser dividida em três fases. A primeira fase é a Fase inflamatória, que ocorre imediatamente após a lesão e dura de 1 a 3 dias. Nesse momento ocorre a formação de coágulos, visando a proteção tecidual, e também a liberação de fatores pró inflamatórios, promovendo a vasodilatação e quimiotaxia de células de defesa. O novo tecido depende de fatores de crescimento que incluem os fatores derivados de plaquetas (PDGF), os fatores transformadores alfa, beta, os interleucina-1 e fator de necrose tumoral, que tem papel importante na ativação das colagenases. (SETTERFIELD, 2010).

A segunda é a Fase proliferativa, na qual a ferida é fechada como consequência dos processos de epitelização, angiogênese, fibroplasia e depósito de colágeno. A fibroplasia ativa os fibroblastos e a produção de colágeno tipo I, além de formar a matriz extracelular, tendo inicio de 3 a 5 dias após a lesão (CAMPOS et al, 2007).

Nesse momento, o aumento de queratinócitos aumenta significativamente na presença dos fatores de crescimento epidérmicos, embasando a importância de se fazer associação de ativos durante o tratamento com microagulhamento. (SETTERFIELD, 2010).

A fase final é a fase de remodelamento, na qual ocorre aumento da resistência tecidual. Nessa fase o colágeno tipo I passa para o tipo III, o que gera aumento da força tensora do tecido. (CAMPOS et al, 2007).

Aprofundando um pouco mais no papel do colágeno, sua estrutura é rígida e helicoidal tripla de cadeia longa, e é a principal proteína da matriz extracelular. A cicatriz é criada a partir do seu crescimento desordenado, e com a perfuração ordenada do roller, um novo processo cicatricial é iniciado, de maneira ordenada e com orientação de forma saudável. (SETTERFIELD, 2010).

É importante ressaltar que o processo de cicatrização sofre interferências de múltiplos fatores de ordem geral ou local interferem em sua constituição e função, como por exemplo, a idade do paciente. (GUIRRO e GUIRRO 2004).

2.4 Cicatriz hipertrófica

As cicatrizes hipertróficas consistem em um dos tipos de cicatrização anormal. Esse quadro é originado por uma complicação no processo de cicatrização, o qual se desenvolve pelo excesso de matriz extracelular, de tecido fibroso denso e da proliferação de fibroblastos sendo que, esse tipo de anormalidade se deve principalmente por cirurgias e traumas. (BACHAE MUDRIK 2016)

A cicatrização é uma sequela em consequência do crescimento de tecido fibroso após ocorrência de uma lesão. Para Guedes, é importante ressaltar a diferença entre o processo de cicatrização e reparação, uma vez que nesta o tecido cutâneo volta a apresentar suas características originais. Após esclarecer essa diferença, pode-se dividir as cicatrizes três grupos: atróficas, hipertróficas e queloidianas. (GUEDES et al 2014).

Histologicamente, não se pode diferenciar cicatriz hipertrófica de quelóide, nem ao microscópio ótico nem ao eletrônico, ambos são compostos de tecido fibroso denso. (AZULAY, 2008).

Sob essa ótica, Steinbrech afirma que a diferença entre esses é que no último o crescimento fibroblástico extrapola as margens do trauma inicial e, portanto, atinge uma proporção maior, podendo chegar a grandes dimensões

CHEM et al (1971) apud Guedes et al. (2014) relata que a resposta exarcebada a uma injúria se relaciona intimamente com a formação de uma cicatriz hipertrófica, sendo consequência da deposição exagerada de fibras de colágeno. Em tais circunstâncias, o tecido em hipóxia selecionaria fibroblastos com maior capacidade de deposição de colágeno, aumentando as dimensões da cicatriz.

Com relação ao seu aspecto estético, as cicatrizes hipertróficas inicialmente se manifestam como placas de consistência fibroelástica, rosadas ou vermelhas, que posteriormente evoluem em tamanho maior do que o esperado, formando cicatrizes espessadas, que podem assemelhar-se a um quelóide, mas não se alastram para tecidos subjacentes. (GUEDES et al 2014).

É importante ressaltar qe diversos fatores podem interferir no processo de reparo tecidual, sejam fatores locais ou sistêmicos, como baixas temperaturas ou deficiências no suprimento sanguíneo comprometendo o processo de cicatrização. (AZULAY, 2008).

Kreisner et al. (2005) discorre sobre uma falta de homeostase com relação as fases anabólicas e metabólicas, com aumento contínuo da produção de colágeno, que ultrapassa à quantidade degradada. A ferida então eleva-se sobre a pele e se expande em todas as direções.

3. Relato de Caso

Paciente gênero feminino, 35 anos de idade, leucoderma, compareceu ao meu consultório na cidade de Patos de Minas interior de Minas Gerais, relatando ter sido vítima de acidente de carro aos 8 anos de idade o qual ocasionou uma cicatriz que causava muito incômodo, desconforto e lembranças desagradáveis ao se olhar no espelho. A cirurgia foi realizada no Hospital Regional e sob anestesia local, sendo respeitadas as técnicas de assepsia e antissepsia o que garantiu um primeiro sucesso na cicatrização. Apesar da cicatriz a incomodar muito sua principal queixa foi o selamento parcial do lábio direito.

Os lábios são unidades funcionais que interferem na alimentação, na fala e na interação social. Eles são um ponto de referência fundamental na face. Os lábios são símbolos sex e são para muitas mulheres responsáveis pela interação homem mulher. As maiores causas de estrago labial estão associadas com danos traumáticos e ressecções tumorais. Por apresentarem características e funções específicas, sendo assim desafiadora a reconstrução dos mesmos frente as sequelas que podem ser permanentes para o paciente. Para os defeitos labiais pequenos, a reconstrução pode ser muito eficaz. Mudanças sutis na aparência da borda do vermelhão, das comissuras orais ou do arco do cupido, são facilmente detectadas pelo observador casual. A perda da competência labial pode interferir com a capacidade de articulação, assobio, beijo e contenção de secreções salivares. É importante salientar que para a autoestima e vida saudável da paciente em questão, no aspecto psicológico a reconstrução do lábio e liberação da tração da cicatriz que parece simples é de grande estima para ela. A vítima de acidente de carro apresentou um resultado estético e funcional satisfatório, mas ainda faltava o refinamento para que ela finalmente pudesse se olhar sem traumas no espelho.

Durante anamnese a paciente ficou extremamente emocionada ao relembrar o acidente, relatando que quando olhava sua imagem no espelho recordava o dia da tragédia, deixando claro a importância do nosso papel na vida desse paciente. Ela ainda teve como queixa o selamento inadequado dos lábios, nunca quer evidenciá-los por estarem sempre entreabertos em apenas um dos lados da boca.

Ao exame clínico extrabucal, observou-se uma cicatriz ao lado direito do lábio inferior, entre a comissura labial direita e linha média do lábio inferir indo até o terço médio do mento, lado direito da face e assimetria do lábio superior direito ao selamento.

Inicialmente realizamos um plano de tratamento, onde foi sugerido ata safe 20% de concentração, microagulhamento com infusão de ativos clareadores, neste caso optamos pelo protocolo da Dra.Valéria Dall Col que contava com ácido kójico 1% + alfa arbutin 10mg/0,5ml / ácido tranexâmico 25mg/0,5 ml / niacinamida 10mg + TGP -2 1%/0,5 ml / vitamina a (retinol) 25.000UI/0,5ml / matrixyl 3% /0,5ml. , preenchimento labial com preenchedor de média reticu- lação ,para tentar selar os lábio e trazer maior conforto estético , toxina botulínica tanto para o terço inferior da face , região de marionete , para minimizando a aparência do sorriso triste .

Nossa expectativa era de melhorássemos tanto o aspecto da pele quanto a retração do sorriso. Foi utilizado a caneta Tatupen® com cartucho da Aston de 21mg para o microagulhamento além do preenchimento labial de 0,5ml para selamento total do lábio quando fechado.

A técnica de microagulhamento surgiu a partir de um ramo da medicina alternativa denominado acupuntura, foi difundido e aperfeiçoado, o qual na França foi utilizado como uma forma de rejuvenescimento facial. O microagulhamento tem a sua concepção original datada de 1995, com o conceito desenvolvido por Orentreich et al. de subincisão com uso de agulhas hipodérmicas para a quebra de traves fibróticas no tratamento de cicatrizes deprimidas. Em 1998 Camirand e Doucet reportaram melhora clínica e textura de cicatrizes por meio de dermoabrasão com agulhas utilizando aparelho de tatuagem trabalho de microagulhamento e distribuição de drogas.

Mas apenas em 2006 esse método foi utilizado com a indução de colágeno para a melhora de cicatrizes, sendo o equipamento criado por Desmond Fernandes. (NUNES, 2020)

Com base nessas informações a primeira sessão realizada em 14 abril de 2022 e pudemos observar após 30 dias grande diferença tanto na textura quanto na cor da cicatriz, suave melhora na retração inclusive na satisfação da paciente em questão.

A segunda sessão foi feita 60 dias após a primeira aplicação no dia 14 de junho do mesmo ano, seguindo a mesma aplicação da primeira sessão, com mesmos ativos e ainda usamos uma cânula 22 para descolar um pouco o tecido fibrótico. Observamos que após 30 dias a segunda sessão clareou ainda mais e trouxe um efeito de soltura delicada dessa cicatriz.

Estamos na terceira aplicação da técnica de microagulhamento com os ativos e esse trabalho relata os progressos alcançados com esse procedimento e o porquê de utilizamos tais ativos. O propósito era que a pele ficasse mais baixa, mais solta no local da cicatriz, deixando assim os lábios menos tracionados. O que conseguimos de fato foi uma melhora na qualidade de pele e uma cicatriz menos evidente e tencionada. Totalizando 6 meses de tratamento até a entrega do trabalho vinte e dois de novembro de 2022, a paciente está muito feliz ao ver o resultado obtido até agora, e ver como um pequeno investimento pode melhorar tanto sua autoestima e qualidade de vida, segue comprometida com seu tratamento e demonstra alegria em suas aplicações.

4. Discussão

O presente trabalho é uma somatória de pesquisas sobre a eficácia do procedimento adotado para melhorar a cicatriz hipertrófica através do microagulhamento e seus benefícios associados ou não com ativos de clareamento ou que potencializam suas benesses. Nesse contexto, foi ajustado a mesma técnica para a paciente em questão, que ao invés de uma cicatriz ocasionada por acne, foi desenvolvida por um acidente. Com isso, a aplicação do microagulhamento, relaciona-se a técnica também utilizada por RAMOS (2021), mostrando a credibilidade. Além disso, comprova-se que a perfusão dos ativos, que ocorreu nas sessões da paciente, traz maior benefício.

Os protocolos diários, a ordem de manejo da técnica e o intervalo das sessões foram comparados em diferentes artigos e estudos para que fosse aplicado para a necessidade da paciente e isso foi importante para que o resultado obtido na paciente fosse semelhante aos alcançados nos estudos.

Ademais, foi comprovado que os ativos que foram usados tiveram correspondência na literatura analisada, com concentrações e substâncias semelhantes.

Dessa forma, quando o microagulhamento se atrela com os ativos potencializa a perspec- tiva da qualidade dérmica e leva ao clareamento da tonalidade da pele, fato que foi comprovado pelas literaturas estudadas. A boa tolerância ao microagulhamento foi relatada pelos pacien- tes conforme os autores esperavam, assim como no presente relato. Além disso, não houve na literatura relatos de efeito colateral ou complicações, mostrando ser uma técnica segura e minimamente agressiva. Conforme já descrito, como a epiderme é mantida, o microagulhamento tem baixo risco de infecção e hiperpigmentação pós-inflamatória, além de seu curto tempo de recuperação. (HOGAN et al 2017).

Além disso, a literatura reforça a eficácia do microagulhamento em casos como o relatado no presente estudo, sendo reforçado por Silva et al 2020 ao afirmar que o procedimento utilizado no tratamento de defeitos cutâneos apresenta alta eficácia nos casos de cicatrizes.

O relato foi produzido com o principal objetivo das questões de estética de autoestima da paciente. Nesse quesito, foi observado que o microagulhamento tem conquistado destaque nas técnicas que proporcionam os resultados que as pacientes esperam, auxiliando na melhora dos quadros psicológicos. Esses fatores foram comprovados nas literaturas com outros pacientes que também procuravam os profissionais com as queixas semelhantes.

Por fim, observa-se que o procedimento realizado foi comprovado baseado nas evidências científicas nos diversos estudos analisados.

5. Conclusão

O microagulhamento é utilizado de forma abrangente e consolidada para o tratamento de cicatrizes atróficas. As cicatrizes hipertróficas consistem em um dos tipos de cicatrização anormal, originados por uma complicação que se desenvolve pelo excesso de matriz extracelular,de tecido fibroso denso e da proliferação de fibroblastos. Dessa forma, o objetivo do presente estudo foi avaliar a melhora clínica da cicatriz hipertrófica através do microagulhamento com ácido clareador e infusão de ativos clareadores, na busca de uma melhora estética e também psicológica para a paciente em questão.

Os achados mostraram que a técnica utilizada é segura, minimamente invasiva, com um custo acessível e eficaz para o tratamento da cicatriz hipertrófica, especialmente quando associado ao drug delivery que auxilia na potencialização dos resultados.

Como relatado no caso, percebe-se que a melhora da qualidade estética proporcionada pelo método auxilia nas questões estéticas e psicológicas, principalmente em pacientes com cicatrizes originadas por causas traumáticas. O microagulhamento vem sendo utilizado para diferentes patologias dermatológicas sendo eficaz para a melhora da maleabilidade e altura da cicatriz.

Contudo, faz-se necessária a aplicação de conhecimentos com outros estudos para chegara conclusões mais fidedignas quanto a manutenção dos resultados a longo prazo, bem como emrelação ao tecido reparado.


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Publicado por:
Mestre em Medicina/Cirurgia de Cabeça e Pescoço, Especialista em Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial, Prótese Dentária, Prótese Bucomaxilofacial e em Harmonização Orofacial. Coordenador de cursos em Implantodontia e Harmonização Orofacial do Instituto Velasco, Diretor do Hospital da Face. Trabalha desde 2011 em harmonização facial.