Degradação de Fios de PDO em Ácido Hialurônico

Degradação de Fios de PDO em Ácido Hialurônico

Os fios de PDO têm se tornado uma verdadeira revolução na área da Harmonização Facial, oferecendo uma abordagem minimamente invasiva para o rejuvenescimento facial. Esses fios absorvíveis, feitos de polidioxanona, são inseridos na pele para promover o levantamento dos tecidos ptóticos e estimular a produção de colágeno, resultando em uma aparência mais jovem e revitalizada.

No entanto, surge a pergunta: como os fios de PDO funcionam na presença do ácido hialurônico? O ácido hialurônico é amplamente utilizado como substância de preenchimento dérmico, oferecendo resultados notáveis na redução de rugas e restauração de volume facial. A associação desses dois tratamentos estéticos promissores tem despertado interesse na área da Harmonização Facial.

A combinação de fios de PDO com ácido hialurônico traz benefícios complementares. Enquanto os fios de PDO promovem o levantamento dos tecidos e estimulam a produção de colágeno, o ácido hialurônico preenche sulcos e rugas, restaurando o volume e a hidratação da pele. Essa sinergia entre os dois tratamentos pode potencializar os efeitos rejuvenescedores, proporcionando resultados mais duradouros e satisfatórios para os pacientes.

Estudos e relatos de casos têm demonstrado a eficácia dessa combinação. Mas será que presença do ácido hialurônico nos tecidos adjacentes aos fios de PDO acelera a biodegradação, ou hidrólise dos fios de PDO?

É esta pergunta que nossa aluna, hoje especialista em Harmonização Orofacial, Dra. Eliane Trevisan tentou responder com este trabalho. Lembramos que o texto a seguir é uma adaptação do artigo original, e recomendamos sua leitura no original. Você pode encontra-lo em nossa plataforma de ensino GRATUITA para profissionais da saúde, a Instituto Velasco PLAY.

Os fios de sustentação na Harmonização Facial

A Harmonização Orofacial (HOF) tem se tornado cada vez mais popular nos últimos anos, oferecendo melhorias estéticas rejuvenescedoras e intensificadoras que anteriormente só eram possíveis por meio de cirurgia. Além disso, a HOF possui um custo mais baixo e um tempo de recuperação limitado ou até mesmo nulo. O crescimento do mercado estético está diretamente relacionado ao aumento da expectativa de vida e à valorização dos padrões de beleza, que reforçam a necessidade de retardar os sinais de envelhecimento, impulsionando assim a busca por procedimentos estéticos.

Tradicionalmente, o lifting facial tem sido um procedimento complexo e demorado para se recuperar. No entanto, a introdução de suturas absorvíveis com formato de farpa pode oferecer uma alternativa viável a métodos mais invasivos. Essas suturas absorvíveis representam um avanço significativo, permitindo um procedimento menos invasivo e uma recuperação mais rápida para corrigir os sinais de envelhecimento facial.

Os fios de sustentação facial são uma opção minimamente invasiva, realizada em ambiente ambulatorial, com anestesia local e efeito imediato. Esses fios são capazes de reposicionar os tecidos faciais, além de apresentarem características como baixo nível de dor e recuperação rápida. Existem vários tipos de fios de sustentação disponíveis no mercado, sendo os fios de polidioxanona (PDO) os mais eficazes para fins estéticos. O PDO é um monofilamento sintético absorvível que possui resistência, maleabilidade e tenacidade adequadas. Além disso, ele é não alergênico e não causa reações inflamatórias significativas. Os fios de PDO são capazes de resistir à degradação por um período prolongado, mantendo sua força de tensão.

Os fios PDO podem ser utilizados para dois tipos de procedimentos: criação de um MESH (rede) e procedimento de levantamento. Eles são indicados para tratar várias questões estéticas, como rugas frontais, rugas glabelares, flacidez periocular, suspensão dos supercílios, suspensão do malar, sulco nasogeniano, entre outros. Esses fios permitem o reposicionamento dos tecidos faciais, a redefinição de ângulos e a bioestimulação do colágeno.

Com o surgimento dos fios absorvíveis feitos de polidioxanona (PDO), o lifting facial com fios voltou a ganhar interesse e popularidade. Esses fios não são uma alternativa cirúrgica nem uma solução mágica, mas podem proporcionar bons resultados para o rejuvenescimento e o lifting da pele, especialmente quando combinados com outros métodos de rejuvenescimento facial. Os fios de PDO permanecem nos tecidos pelo tempo necessário para iniciar a formação de novo colágeno e, em seguida, são absorvidos pelo organismo.

A colocação dos fios de sustentação de PDO envolve a passagem de suturas sob a pele da face e do pescoço para compensar a flacidez e a queda dos tecidos. Além de oferecer suporte imediato, esses fios estimulam a produção de colágeno e elastina, retardando o processo de envelhecimento da pele.

O ácido hialurônico (AH) é uma substância naturalmente presente no organismo, composta por açúcares que desempenham um papel importante na hidratação e elasticidade da pele. Quando utilizado em preenchimentos faciais, associado aos fios de sustentação, o AH pode contribuir para o rejuvenescimento cutâneo. A escolha do tratamento adequado depende da avaliação correta dos músculos faciais envolvidos no envelhecimento e pode proporcionar resultados instantâneos e satisfatórios.

Alguns estudos histopatológicos indicam que a inserção dos fios PDO pode causar uma reação de corpo estranho dérmica e subcutânea, resultando em inflamação, deposição de colágeno e formação de fibrose. Essa fibrose pode explicar o efeito de sustentação e a posterior melhora da aparência da pele.

Recentemente, tem havido discussões sobre a possibilidade de incorporar ácido hialurônico aos fios de PDO para reforçar os efeitos do lifting. No entanto, essa prática é controversa, uma vez que as suturas de PDO são hidrofílicas e a presença de ácido hialurônico pode acelerar a sua hidrólise.

Este estudo teve como propósito examinar a literatura existente sobre a degradação dos fios de polidioxanona (PDO) em presença de ácido hialurônico, investigando a interação entre esses dois materiais.

Formação de colágeno e lift facial com Fios de sustentação?

No final dos anos 1990, Sulamanidze e colaboradores introduziram o uso de suturas farpadas para o levantamento de tecidos faciais ptóticos, também conhecido como “lifting de fios”. Esse procedimento envolve a colocação de suturas farpadas subcutâneas ao longo de trajetórias específicas para levantar e fixar o tecido ptótico. Inicialmente, as suturas farpadas inabsorvíveis foram utilizadas, mas devido a complicações relatadas, houve uma transição para o uso de suturas absorvíveis feitas de polidioxanona (PDO). Essas suturas de PDO estimulam a produção de colágeno e fator de crescimento transformador β1 (TGF-β1) e são naturalmente degradadas em 4-6 meses (SPRING e CALLAGHAN, 2020).

No Brasil, os fios de polipropileno monofilamento de dupla convergência, conhecidos como Beramendi ou fios russos, são aprovados pela ANVISA, mas não pelo FDA. Geralmente, os fios permanentes são aprovados para correção de ptose facial e cervical, enquanto os fios absorvíveis são aprovados apenas para abordagem de tecidos moles e sutura de incisões. O material absorvente mais utilizado na produção dos fios é a polidioxanona (PDO) (TAVARES et al., 2017).

Um estudo realizado por Ali (2017) avaliou os resultados de dois anos de lifting facial com fios absorvíveis farpados. O estudo demonstrou que o procedimento proporcionou um levantamento da pele de 3 a 10 mm, alta satisfação dos pacientes e uma taxa de incidência de complicações de aproximadamente 4,8%. O rejuvenescimento facial significativo foi alcançado com o uso dos fios, e melhores resultados foram observados quando combinados com Botox, preenchimentos e/ou rejuvenescimento com plasma rico em plaquetas (PRP).

O que a literatura fala sobre a associação de Fios com Ácido Hialurônico?

Sudhir et al. (2018) publicaram a primeira experiência de combinar um fio de sutura com ácido hialurônico para reduzir a colonização bacteriana. Os resultados mostraram que o ácido hialurônico teve uma ação enzimática sobre as suturas, reduzindo significativamente a colonização bacteriana. O ácido hialurônico é absorvido pela sutura, ocupando os espaços entre os filamentos do fio e impedindo a colonização de bactérias.

De acordo com Wu (2019), a inserção e fixação adequadas dos fios são essenciais para o sucesso do procedimento de lifting facial com fios. A esterilidade durante o procedimento cirúrgico é crucial para evitar infecções e granulomas. Além disso, é importante encurtar adequadamente as extremidades das roscas para evitar complicações.

Suárez-Veja et al. (2019) demonstraram a degradação dos fios de sustentação de PDO em ácido hialurônico por meio de ultramicroscopia. Foi observado que o ácido hialurônico acelerou a biodegradação do fio de PDO, resultando em espaços vazios e desorganização das fibrilas do fio.

 

Degradação de Fios de PDO em Ácido Hialurônico
Fio de polidioxanona (PDO) após 24 h de imersão em AH. (A) Microfotografia de luz refletida do fio em 10×, que mostra os espaços interlaminar e interfibrilar alargados na coluna central do fio como faixas esbranquiçadas verticais paralelas correspondentes à dissolução da fase amorfa do polímero. (B) Microfotografia de luz refletida do fio em 4×, que mostra traços de pigmento sendo expelidos para a periferia do fio em um fundo central de espaços vazios interlaminar e interfibrilar correspondentes a zonas de hidrólise do fio.

 

Jung (2019) explicou que a polidioxanona dissolve-se gradualmente e estimula a produção de colágeno tipo III, enquanto o ácido hialurônico auxilia na retenção da forma por um período prolongado. Os fios de PDO geralmente permanecem no local por cerca de 6 meses, degradando-se em dióxido de carbono e água. O uso de ácido hialurônico tem sido utilizado para prolongar a vida dos fios, bloqueando a reação química entre o PDO e a água.

Oh e Lee (2020) descreveram o uso de fios de PDO e preenchimento de ácido hialurônico para corrigir narizes achatados e largos em duas pacientes coreanas. O tratamento utilizando hialuronidase para dissolver o preenchimento anterior seguido pelo uso de fios de PDO e preenchimento de ácido hialurônico restaurou a aparência desejada dos narizes.

Albuquerque et al. (2021) realizaram uma revisão de literatura sobre o lifting facial não cirúrgico com fios de PDO. O uso desses fios é considerado um método minimamente invasivo, com efeito imediato e recuperação rápida. Embora não substitua a cirurgia reparadora convencional, muitos pacientes optam pelo lifting com fios devido à sua segurança e resultados satisfatórios.

Santarosa et al. (2021) revisaram a eficácia do uso de lifting facial com fios de polidioxanona associado ao ácido hialurônico. O procedimento foi considerado minimamente invasivo, com rápida recuperação e poucos efeitos colaterais em comparação com cirurgias plásticas.

Martins e Moraes (2021) realizaram um estudo comparativo entre o uso de ácido hialurônico e fios de PDO para a rinomodelação estética. Os resultados mostraram que ambas as técnicas são satisfatórias, com baixos riscos. A escolha da técnica deve ser feita com base na análise preliminar de cada caso e nas habilidades do profissional.

Caysset e Cavallini (2022) descreveram um caso de correção de nariz alargado utilizando fios de PDO e preenchimento de ácido hialurônico. O tratamento foi eficaz e não apresentou efeitos colaterais adversos.

Stivanin et al. (2022) relataram um caso clínico em que os fios de PDO associados ao preenchimento dérmico com ácido hialurônico foram utilizados para tratar o envelhecimento facial. O procedimento resultou em melhora da sustentação facial, redução de marcas de envelhecimento e melhoria na harmonização facial.

Del Cueto (2022) realizou uma revisão bibliográfica sistemática sobre o uso de fios de PDO em medicina estética. Os resultados mostraram que cada tipo de fio produz uma reação tecidual específica e que a hidrólise dos fios é diferente, sendo o PDO pouco hidrofílico.

Alves (2022) conduziu um estudo experimental em ratos para avaliar o uso de fios de sustentação de PDO e PLA, associados ou não ao ácido hialurônico. Os resultados indicaram que os fios de PDO apresentaram melhores resultados do que os fios de PLA, e a associação com ácido hialurônico potencializou a formação de colágeno.

O que podemos entender sobre esta associação de Fios com Ácido Hialurônico?

Existem várias vantagens dos fios de PDO, como a facilidade de manuseio, o curto tempo de procedimento e o aumento preciso do volume. Além disso, eles distribuem a força ao longo de todo o comprimento, ao contrário de dispositivos com o mesmo mecanismo de ancoragem que não possuem essa característica (SANTOS, 2020). Embora a aplicação dos fios de PDO seja geralmente segura, minimamente invasiva, eficaz e tenha apresentado bons resultados e menos complicações, ainda podem ocorrer complicações (SAVOIA et al., 2014; SILVA et al., 2022).

De acordo com Wu (2018), é inegável que os fios de sustentação, sejam solúveis ou permanentes, podem promover o levantamento e a modelagem dos tecidos moles faciais. A duração do efeito ou a longevidade do resultado são frequentemente questionadas. A associação dos fios de sustentação de PDO com ácido hialurônico é um protocolo clínico que afirma potencializar os efeitos de skinbooster (SANTOS, 2020). Os materiais de sutura sintética, como o PDO, são absorvidos por hidrólise através da ação da água intercelular. A quantidade de água absorvida determina o grau de hidrólise do polímero (SUÁREZ-VEJA et al., 2019b).

Após a inserção do fio, o organismo reconhece e estabiliza-o por meio de mecanismos que envolvem infiltração linfocitária, deposição de colágeno e uma reação fibrótica ao redor do biomaterial, mediada por miofibroblastos. Portanto, o efeito lifting nos tecidos flácidos é resultado de caminhos fibróticos organizados durante a permanência do fio e o caminho residual após a reabsorção da sutura. A PDO começa a afetar a pele após duas semanas, quando a produção de colágeno se torna intensa (SANTOS, 2020).

Apesar do levantamento inicial dos tecidos devido à resistência criada pela rebarba do fio, a adesão resultante de um lifting com fios é considerada muito fraca para manter o tecido levantado em sua nova posição, e a maioria dos estudos sugere que o lifting com fios sozinho é altamente limitado em termos de efeitos e longevidade (JEONG et al., 2020).

No entanto, de acordo com Wu (2019) e Silva et al. (2022), com os fios de PDO, se houver enrugamento inadvertido da pele, ondulações ou amassados, o problema desaparecerá e o rosto voltará ao normal.

O ácido hialurônico é amplamente utilizado como substância preferencial para preenchimento dérmico devido às suas propriedades biológicas, biocompatibilidade e biodegradação (STIVANIN et al., 2022). O comportamento biológico do ácido hialurônico é bem conhecido, com estudos histológicos mostrando sua absorção gradual ao longo dos meses (SANTOS, 2020).

A captação constante de água pelas moléculas de ácido hialurônico dentro da sutura resulta em alterações estruturais que reduzem a resistência do fio até que ele falhe ou se parta, principalmente nas regiões amorfas da microestrutura fibrilar do material (SUDHIR et al., 2018; SUÁREZ-VEJA et al., 2019a).

De acordo com Suárez-Veja et al. (2019a,b), a combinação de fios de PDO com ácido hialurônico acelera a biodegradação da sutura. Santarosa et al. (2021) destacam que essa combinação potencializa o efeito de lifting facial, com procedimentos de rápida recuperação e mínimos efeitos colaterais em comparação com cirurgias plásticas. Além disso, contribui para a reposição de colágeno e elastina, melhorando a estrutura e elasticidade da pele, reduzindo rugas, restaurando o volume facial e a hidratação.

Este estudo conclui que o ácido hialurônico não reticulado pode ser indicado para resolver complicações decorrentes da colocação de fios de polidioxanona em planos muito superficiais, pois acelera a biodegradação do fio e induz a regeneração do tecido ao redor da sutura.


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Publicado por:
Mestre em Medicina/Cirurgia de Cabeça e Pescoço, Especialista em Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial, Prótese Dentária, Prótese Bucomaxilofacial e em Harmonização Orofacial. Coordenador de cursos em Implantodontia e Harmonização Orofacial do Instituto Velasco, Diretor do Hospital da Face. Trabalha desde 2011 em harmonização facial.