Aqui você encontra a transcrição do Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Instituto Velasco, como requisito para obtenção do título de Especialista em Harmonização Orofacial da Dr. Rafael Junqueira Faenza. Orientador: Rogério Gonçalves Velasco
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1. INTRODUÇÃO
A ozonioterapia é um tratamento médico e odontológico que se utiliza o gás ozônio O3, na forma de mistura com o oxigênio puro O2, com a função terapêutica, atuando com oxidante direto ou indireto, presccrito para uma série de doenças e demandas clínicas. De acordo com o documento Declaração de Madrid sobre Ozonioterapia, 3a ed. (ISCO3, 2020), até o ano de 2020 havia cerca de 3.329 artigos científicos e estudos e ensaios clínicos sobre a aplicação do ozônio, na base de dados da Pub Med, enfocando as possibilidades e indicações como terapia complementar, e não alternativa, não sendo recomendada a suspensão do tratamento alopático, ou sua substituição (ISCO3,2020).
Desde a descoberta e nomeação do ozônio pelo médico holandês Martinus van Marum em 1871, a publicação pelo químico alemão Chtistian Friederich Shönbein, em 1840, seu uso terapêutico em 1880 pelo Dr. John H. Kellog, até a presente data, muito se desvendou sobre o ozônio, sua prescrição, contra-indicações, formas de aplicação e efeitos adversos, com base em pesquisas sérias e suporte de médicos e profisisonais. Tais profisisonais se organizaram e fundaram o Comitê Científico Internacional de Ozonioterapia, organismos de pesquisa científica independente, denominado ISCO3 em 2010, com o objetivo de determinar os méritos científicos da aplicação do ozônio, criar um código de boas práticas, recomendação de padronização de modo a desenvolver o conhecimento fundamentado e evitar os usos indevidos e negligentes. O então Comitê ISCO3, publicou em 2010, a compilação desses conhecimentos e recomendações, no documento intitulado Declaração de Madrid sobre Terapia Ozônica. Hoje (ano de 2022), encontra-se disponibilizada a 3a edição do documento, apoiando e disciplinando o uso terapêutico do ozônio, para benefício de milhares de pacientes (ISCO3, 2020).
A terapia com ozônio, nesses anos de pesquisas, não se restringiu apenas à área clínica como tratamento complementar, mas avançou na direção da estética e harmonização facial, ganhando espaço nos protocolos de beleza.
Muitas são as aplicações e técnicas na área estética, objetivando desde a atuação antibiótica, antiinflamatória nos casos de acne, redução de estrias e cicatrizes, perda de peso, celulites, métodos para crescimento de cabelos e o efeito lipolítico facial, visando a restauração e harmonização do rosto. (AM, s/d). Se, por um lado, se desenvolveram os métodos e técnicas de uso da ozonioterapia, por outro, as pesquisas clínicas e ensaios descortinaram uma série de efeitos adversos e contraindicações.
O presente trabalho procura descrever o histórico da ozonioterapia, sua ação no segmento de harmonização facial, indicações e contraindicações, com bases em alguns desses estudos científicos, de modo a servir de fundamentação teórica para futuros especialistas em harmonização facial.
2. OBJETIVOS
Os objetivos do presente trabalho são: Apresentar alguns estudos científicos sobre a ozonioterapia, explanando o histórico do uso de ozônio, usos da ozonioterapia na harmonização facial, indicações, técnicas de aplicação, indicações e contraindicações, reações adversas e protocolos mundialmente difundidos.
3. METODOLOGIA
Trata-se de um trabalho descritivo, fundamentado em livros, artigos científicos, referências de sites idôneos, Pub Med, ISCO3, materiais de aula de professores do Instituto Velasco, São Paulo.
4. JUSTIFICATIVA
Muito se propaga sobre os benefícios da ozonioterapia, no entanto, há de se respeitar os procedimentos corretos e protocolos, seja no uso terapêutico ou estético, de modo a evitar negligências e erros profissionais que possam causar riscos e danos aos pacientes que desta forma desfrutarão dos melhores resultados e mínimo risco.
5. DESENVOLVIMENTO
5.1 Histórico do ozônio e da ozonioterapia
O ozônio é um gás naturalmente formado na atmosfera, pelas descargas elétricas de alta potência dos raios e relâmpagos que fundem as moléculas de oxigênio gás O2, ao átomo de oxigênio O, formando uma molécula de ozônio O3. O ozônio é muito instável e logo volta ao estado de oxigênio gás (Fig.1).
Na atmosfera, desempenha um importante papel, formando uma camada nas elevadas altitudes atmosféricas (de 20 km a 35 km acima do solo), tal camada de ozônio que protege o planeta dos raios solares ultravioletas, UVB, os quais são responsáveis pelo desenvolvimento de formas de câncer de pele nos humanos, danos à visão (catarata), envelhecimento precoce e supressão do sistema imunológico. Quando presente nas baixas altitudes, na Troposfera, o ozônio é perigoso à nossa espécie, pois atua como forte oxidante, causando problemas respiratórios, além de sua alta toxicidade, alteração do crescimento vegetal e problemas de pele nos animais mais sensíveis (aves e mamíferos). Nas vias respiratórias pode causar diminuição do volume expiratório, inflamação das vias aéreas, episódios de tosse, opressão torácica, formação e acúmulo de muco nas vias aéreas e hiperatividade bronquial, com sintomas semelhantes à asma (MMA, 2022).
De acordo com ISCO3 (2020), o gás ozônio foi descoberto e nomeado pelo médico holandês Martinus van Marum em 1871, pois havia sentido um cheiro característico do ar, ao redor de um equipamento eletrificador, que descreveu como um “odor na matéria elétrica do ar”. O químico alemão Chtistian Friederich Shönbein, em 1840, percebeu o mesmo odor durante ensaios e o batizou de “ozon”, que em grego significa “aquilo que cheira”.
Em 1857, Ernst Werner Von Siemens desenvolveu o primeiro gerador de ozônio (Figura 2), o que permitiu seu uso no tratamento de água, como agente desinfetante, (PHILIPPI, 2018).
Em 1870, o Dr. Lender, publicou um estudo sobre a ação antibiótica do ozônio na água. E em 1873, Sr. Cornellius Benjamin Fox confirmou a ação biocida do ozônio, que passou a ser utilizado como desinfetante, à partir de 1881, com a publicação do Dr. John H. Kellog. Em 1885 foi publicado um livro pela Florida Medical Association, sobre as aplicações médicas do ozônio, obra do Dr. Charles J. Kenworth.
O grande inventor Nikola Tesla emitiu a primeira patente de um gerador de ozônio e criou sua empesa TESLA OZONE CO., primeira fábrica de equipamentos de ozônio, no mundo (Figura 3).
Figura 2 – Primeiro equipamento gerador de ozônio e o inventor Ernst Werner Von Siemens.
Fonte: Mason Filho, Site Myozone.
Figura 3 – Invento de Nikola Tesla – equipamento gerador de ozônio
Fonte: Mason Filho, Site Myozone.
De acordo com Mason Filho (2022):
Mais tarde, no ano de 1907, na cidade de Nice na França, Marius-Paul Otto criou a “Companhia Geral de Ozônio”, agora “Companhia de Água e Ozônio”, a primeira empresa que utiliza o ozônio para aesterilização da água. Desde então, o ozônio foi aplicado continuamente em Nice na França, fazendo com que cidade fosse chamada de “local de nascimento” do ozônio para o tratamento da água potável.
O ozônio passou a ser utilizado na área médica e terapêutica muito recentemente, embora em 1896, Nikola Tesla já vendesse óleo ozonizado para uso médico (Figura 4).
Na primeira guerra mundial, entre 1914 e 1918, o ozônio foi muito empregado no tratamento de gangrenas, feridas e desinfecção de cirurgias. Entre 1916 e 1917 foram publicados na revista científica The Lancet, mais de 80 casos de úlceras tratadas com ozônio. Note-se que somente em 1928 a penicilina foi descoberta, pelo bacteriologista francês Alexander Fleming, quando pesquisava substâncias que pudessem combater microrganismos em feridas.
Figura 4 – Óleo ozonizado de Nikola Tesla
Em 1929 foi publicado o livro “Ozone and its therapeutic action”, escrito por 40 profissionais de saúde, listando 114 doenças e seu tratamento com o ozônio. E, em 1930 o Dr. Fisch, dentista suíço, passou a utilizar o ozônio no segmento da odontologia.
No entanto, havia na classe médica uma grande divisão, entre os adeptos do ozônio e os que se posicionaram contra e, em 1933, nos Estados Unidos, a Associação Médica Americana – AMA publicou um ato no jornal da associação, que eliminou todos os tratamentos médicos que fossem competir com os medicamentos sintéticos. Infelizmente, o Dr. Morris Fishbein autor desse ato, esteve à frente do Jornal da Associação Médica Americana por 26 anos, coibindo o uso médico da ozonioterapia. No entanto, nos demais países não influenciados pelos Estados Unidos, tais como Alemanha, China, Cuba, Espanha, Itália, Grécia, Brasil e Portugal continuaram a avançar seus estudos e aplicações da ozonioterapia, a qual é reconhecida, empregada nos sistemas públicos e hospitais governamentais.
O ato de restrição ao uso de ozônio, como se fosse um concorrente aos medicamentos alopáticos não tinha fundamentação, pois o ozônio não é uma substância manipulada e produzida, mas faz parte dos processos da natureza e está presente no metabolismo humano.
No Brasil, a regulamentação da ozonioterapia pelo Conselho Federal de Odontologia foi publicado na Resolução CFO No 166, de 24/11/2015, para os usos no tratamento de cáries, ação biocida, prevenção de quadros inflamatórios e infecciosos, melhoria da sanitização de canais, auxílio na reparação tecidual pos-cirurgia, analgesia, antálgica e tratamento de necroses ósseas dos maxilares.
A ozonioterapia pode ser conceituada de acordo com Dr. Lamberto RE (PHILIPPI, 2018) como:
…a administração em diferentes vias, de baixas doses de ozônio, em sua forma de gás, no objetivo de modular a maioria das funções protetoras da célula, principalmente em nível mitocondrial. Não é um remédio, e sim agente condicionador que ativa um sistema de sinalização que ajuda nosso corpo a curar por conta própria.
Foi somente em 1915, em Berlim, que o Dr. Albert Wolff empregou o ozônio na estética, para tratamento de doenças de pele, embora na Primeira Guerra Mundial já tivesse sido usado para efeitos cicatrizantes e anti-inflamatórios (ABOZ, 2017).
5.2 Ozônio no organismo humano
O ozônio é considerado uma biomolécula, pois nosso organismo produz uma molécula com as mesmas características químicas e papel, no processo fisiológico de ativação dos anticorpos, em casos de inflamação e infecções.
Os pesquisadores Wentworth Jr., Mcdunn et al., publicaram na Revista Science de novembro de 2002 (WENTWORTH JR., MCDUNN et al., 2002), evidências de que os anticorpos são catalisados pelo ozônio produzido na célula, promovendo a morte de bactérias e o combate à inflamação:
Recentemente mostramos que os anticorpos catalisam a geração de peróxido de hidrogênio (H2O2) a partir de oxigênio molecular simples e água. Aqui, mostramos que esse processo pode levar à morte eficiente de bactérias, independente da especificidade do antígeno do anticorpo. A produção de anticorpo por si só não foi suficiente para a morte bacteriana. Nossos estudos sugeriram que a via de oxidação da água catalisada por anticorpos produziu uma espécie molecular adicional com uma assinatura química semelhante à do ozônio. Esta espécie também é gerada durante a explosão oxidativa de neutrófilos humanos ativados e durante a inflamação. Essas observações sugerem que podem existir caminhos alternativos para a morte biológica de bactérias que são mediadas por potentes oxidantes anteriormente desconhecidos pela biologia.
Na figura 5 observa-se a geração da biomolécula de ozônio e sua importância na ativação de anticorpos para início da fagocitose (PHILIPPI, 2018).
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Figura 5 – Ação da biomolécula de ozônio na ativação dos anticorpos humanos.
De acordo com Philippi (2018), o ser humano possui uma complexa rede biológica intrincada sob a forma de sistemas interligados e interdependentes.
Nosso organismo inicia seu processo de envelhecimento por meio do stress oxidativo, pela ação de espécies reativas de oxigênio (O2-, NO-, H2O2, HOCl e HO-), os quais, somados a outros radicais livres resultantes das reações metabólicas, promovem ações lesivas nas células, reduzindo sua capacidade funcional e o desenvolvimento do envelhecimento (WOLPE SIMAS, GRANZOTI, PORSCH, 2019).
Os antioxidantes existentes classificam-se em não enzimáticos e enzimáticos. Os antioxidantes não enzimáticos ou exógenos são a vitaminas C e E, carotenoides, flavonoides etc. Os antioxidantes enzimáticos ou endógenos são: superóxido dismutase – SOD, catalase – CAT, glutationa peroxidase – GPx. O ozônio auxilia na adaptação ao stress oxidativo, impulsionando os mecanismos antioxidantes endógenos, levando a produção de SOD, catalase e GPx. Desta forma, prepara as células para enfrentar as ações das espécies reativas do oxigênio e radicais livres.
Também atua na ativação do metabolismo das hemácias, para a síntese de ATP – adenosina trifosfato, molécula energética. Alguns estudos apresentados por Philippi (2018) demonstraram que baixas doses de ozônio estimulam a atividade mitocondrial e a transcrição nuclear, importantes para a duplicação celular. O ozônio também atua na diminuição de biomarcadores inflamatórios e ameniza sintomas da dor nos pacientes com osteoartrite de joelho.
No entanto, certos cuidados devem ser adotados no uso de ozônio exógeno, pois o gás quando inspirado, se dissolve nos líquidos do sistema respiratório, causando diminuição do volume de ar expirado, ativa as reações bronquiais, com sintomas semelhantes a asma, provocando tosse, opressão torácica e produção de muito muco (PHILIPPI, 2018).
Por outro lado, o gás ozônio possui comprovada ação antimicrobiana, analgésica e anti-inflamatória, sendo importante seu profundo conhecimento antes de aplicação e cálculo correto da dosagem.
5.3 Ozonoterapia na estética e na harmonização facial
5.3.1 Detalhamento da ozonioterapia na estética
5.3.1.1 Acne
A acne é definida por Cerqueira (in KEDE e SABATOVICH, 2004) como uma doença crônica e inflamatória que tem várias causas, danificando a pele, devido às complicações histológicas e as lesões, chamadas de comedões. Embora seja mais frequente na puberdade, a acne pode estar presente em bebês, adultos de qualquer idade e exacerbado na menopausa (Figura 6).
Em relação às causas, são multifatoriais: hereditariedade, alteração da flora microbiana da pele (dando espaço e oportunidades da proliferação de Propioniobacterium acnes – Fig. 7), alterações hormonais, stress, períodos de transição etc.
Na unidade pilossebácea da pele as células mortas e queratina se acumulam (Fig.6), causando a obstrução do poro e elevação da pele, formando os microcomedões. Quando aumentam podem arrebentar a camada superficial da pele e manterem-se abertos. Nessas condições, a bactéria Propioniobacterium acnes, oportunistas presentes na pele, causam as lesões inflamatórias, pápulas ou nódulos, com hiperpigmentação.
Figura 7 – Bactéria presente na acne vulgar – Propionibacteriun acnes
Nesse processo inflamatório, a hiperplasia sebácea e a hipercornificação do ducto folicular são fundamentais para o surgimento de mediadores inflamatórios ao redor da derme que favorecem a proliferação do Propioniobacterium acnes. O sebo excretado é composto por colesterol, cera, ésteres e triglicérides, alimentos para as bactérias. A bactéria produz enzimas, no seu processo de alimentação, como a lipase, contribuindo com a lise das células da pele, ruptura da membrana da célula e alteração da barreira dérmica. Em resposta, o sistema imunológico direciona as células neutrófilos e linfócitos para as primeiras respostas ao processo inflamatório.
A evolução do processo inflamatório gera a formação subcutânea de nódulos, sendo que a ausência de tratamento favorece o surgimento de cicatrizes e manchas de dificíl remoção.
A acne pode ser classificada de acordo a sua gravidade:
- Acne grau 1: presença dos cravos, alguns comedões, sem lesões inflamatórias;
- Acne grau 2: presença de pápulas, comedões e pústulas;
- Acne grau 3: além das pústulas, existem os nódulos duros sob a pele;
- Acne grau 4: os comedões e as lesões maiores se conectam pela pele, formando manchas contínuas e túneis.
A abordagem terapêutica para a acne deve ser criteriosa, seja qual for, mas
que leve em consideração os casos de sensibilidade a cosméticos, pois os produtos devem ser adequados para os diversos tipos de pele, condições de clima locais, evitando a estimulação das glândulas sebáceas. Por exemplo, os sabões de pH alcalino, tensoativos alquilsulfonados, tensoativos não-iônicos são desaconselháveis, pois podem promover o aumento da produção de sebo (CERQUEIRA in KEDE e SABATOVICH, 2004).
Em relação aos tratamentos tópicos, o uso de peróxidos de benzoíla são muito recomendados, em especial o ozônio O3, devido ao seu grande poder biocida. No caso dos géis a base de peróxidos de benzoíla, existe alguns efeitos adversos, em função das partículas em suspensão, entre eles, a irritação na pele e o resíduo branco que fica no local, dando uma aparência envelhecida à pele. Neste sentido, a aplicação da ozonioterapia se mostra mais eficaz e mais estética.
5.3.1.2 Olheiras
De acordo com a Sociedade Brasileira de Dermatologia, as olheiras são as áreas perioculares que possuem uma coloração arroxeada ou marrom, que podem ter causas vasculares (congestão dos vasos na região), pigmentar (aumento da concentração de melanina na região), constituição genética (envelhecimento e placidez local) e étnica (origem indiana, asiática, árabe), residual de processo inflamatório, causa profunda (anatomia óssea e preenchimento com camada de gordura) e causa edematosa (bolsas de gordura e mudanças que causaram edemas na região periocular) (Figura 8).
Existem quatro tipos de olheiras, classificadas pela Dra. Pomerantzeff (s/d):
- Olheiras pigmentares: excesso do depósito de melanina, gera olheiras de cor marrom, presente em pessoas de fototipio elevado e tendências genéticas, também em pessoas com rinite alérgica;
- Olheiras estruturais: provocadas pela falta de tecido abaixo dos olhos, ou
pela presença de uma profunda goteira lacrimal; - Olheiras vasculares: o acúmulo de hemossiderina ou a vascularização
excessiva no local promove a formação de olheiras arroxeadas, azuladas ou avermelhadas, podem aparecer depois de uma noite mal dormida, em pessoas cansadas ou que coçam muito essa área suborbital. - Olheiras mistas: surgem pela soma de alguns dos fatores mencionados, além de tabagismo.
Figura 8 – Olheira típica
5.3.1.3 Rugas e rejuvenescimento fácil
O envelhecimento facial é resultante do ciclo natural fisiológico das células da pele e das transformações fisiológicas graduais, ao longo da vida (OLIVEIRA, PEREZ In LACRIMANTI, 2008). O envelhecimento pode ser dividido em duas categorias:
- Categoria I: envelhecimento histológico, devido ao estado das células, fisiológico, que se relaciona com as funções e aparente ou exterior, devido às condições de conservação da pele;
- Categoria II: processos intrínsecos, quando relacionado aos processos de desgastes naturais do organismo e, extrínsecos, quando envolvem os efeitos da radiação solar, luz UV, agressões provocadas por fatores externos.
Como consequência do envelhecimento cutâneo surgem as rugas, linhas demarcadas, promovidas principalmente pela diminuição das fibras elásticas, aumento da rigidez do colágeno, desidratação da pele, diminuição do fator de reposição do tecido conjuntivo de preenchimento e redução da oxigenação local. Os tratamentos de rejuvenescimento são variados, mas deve-se considerar se as rugas são dinâmicas (surgem com o movimento), estáticas (fadiga da pele), profundas ou superficiais, para que seja traçado um plano adequado de tratamento (Figura 9).
Figura 9 – Rugas e linhas de expressão
5.3.1.4 Queixo duplo
De acordo com Dr. Carvalho (s/d), a papada ou queixo duplo é resultante do acúmulo de gordura sob o queixo, causando a distensão das células da pele e formação de excesso de tecido entre o queixo e o pescoço. Normalmente surge entre os 35 e 40 anos na mulher, em função da perda de elasticidade e flacidez, durante o envelhecimento.
Também é frequente em pessoas obesas e as que emagreceram rapidamente, ou que possuem uma predisposição genética. Existem alguns tratamentos, desde cirurgias até os tratamentos menos invasivos, todos selecionados de acordo com as características do paciente, e a experiência do profissional que o realizará (Figura 10).
Figura 10 – Queixo duplo
5.3.2 Ozônio na harmonização facial
5.3.2.1 Tratamento de pele com ozônio
Antes mesmo que iniciar o tratamento com o ozônio, a pele deve ser limpa, higienizada, tendo-se o cuidado para não ferir a pele lesionada.
De acordo com a gravidade das lesões, pode-se adotar algumas formas de tratamento: aplicação de cremes ozonizados, óleos ozonizados, vapor de ozônio, uso da água ozonizada, aplicação subcutânea do gás ozônio e a hidrozonioterapia.
Nos protocolos de uso tópico do ozônio, prepara-se a água ozonizada, que é uma água bidestilada submetida a uma saturação de ozônio de 20 μg por mililitro de água, à temperatura ambiente. A água ozonizada aplicada topicamente tem efeitos em curto prazo, nos casos de lesões e infecções das acnes, além de queimaduras, úlceras de decúbito, micoses, herpes simplex e zoster, cicatrizes cirúrgicas, edemas bacterianos.
Outro protocolo para tratamento anti-inflamatório da pele de rosto e corpo é o preparo do banho de hidrozonioterapia. Recomendado para pré e pós-operatório, pois auxilia na cicatrização e desinfecção de cortes, reduz a retenção de líquidos e ameniza as dores. A hidrozonioterapia também é recomendada nos casos de cansaço físico, insônia, depressão, fibromialgia e problemas circulatórios, edemas, pois ajuda a eliminar toxinas do corpo e promove a melhoria da circulação sanguínea e estimulação da pele. A publicação da AESTHETIC MEDICINE (s/d) ainda recomenda o tratamento de celulite pela hidrozonioterapia, pois o ozônio borbulhante a uma temperatura agradável, insuflado de 380 a 600 jatos, melhora a oxigenação da pele (Figura 11).
Figura 11 – Hidrozonioterapia
Outros benefícios da hidrozonioterapia: no sistema ósseo e muscular: relaxamento, fortalecimento da musculatura, redução das dores articulares, tratamento de fibromialgia, contraturas, contusões e distensões; emocionais: melhoria do sono, relaxamento, minimização do stress e ansiedade. Para a pele: cicatrização, ação anti-inflamatória, abertura dos poros da pele, aumento da circulação periférica e ação biocida na pele.
Outros protocolos de uso do ozônio nos distúrbios da pele são: aplicação do óleo vegetal de girassol, azeite de oliva extra virgem, gergelim ou coco ozonizados, conforme as concentrações indicadas na tabela 1.
Os cremes ozonizados também podem ser empregados, quando formulados de acordo com recomendações de dermatologistas, associando a diluição do ozônio em óleos vegetais e cremes isentos de derivados de petróleo.
O vapor de ozônio é outro protocolo do uso do ozônio na pele, pelos dermatologistas e outros profissionais como especialistas em harmonização facial, podólogos e cabeleireiros. O vapor de ozônio é bactericida, fungicida e cicatrizante. Na limpeza de pele age na emoliência, facilitando a extração de comedões e a
vasodilatação, favorece a ação da higienização e aplicação de cremes. A oxigenação dos tecidos também atua no rejuvenescimento, devido à estimulação da microcirculação na pele.
5.3.2.2 Tratamento de olheiras e melasmas com ozônio
Uma opção ao tratamento de olheiras e melasmas é a auto-hemoterapia que é uma técnica de utilização do sangue do próprio paciente, para fins de tratamentos e aplicações cosméticas. Foi descrita pela primeira vez por Ravaut, em 1910, para tratamento de doenças humanas e animais. A função da técnica é estimular o sistema imunológico, por meio do start de um processo de reação a rejeição do fluído do sangue, acionando a produção de monócitos pela medula óssea, transformação em macrófagos teciduais, cuja função é a de proteção. A técnica deve ser repetida a cada 7 dias, para aumento de sua eficácia. Desde então, a auto-hemoterapia e os seus hemocomponentes têm se ampliado no campo médico, veterinário e estético (BRITO JR., SILVA, BATISTA, 2015).
O Comitê Científico Internacional de Ozonioterapia publicou em 2016, uma instrução, a ISCO3/MET/00/22 – Extracorporeal blood oxigenation-ozonation – EBOO, um método alternativo da auto-hemoterapia, explanando sobre os procedimentos do tratamento extracorpóreo do sangue, com ozônio/oxigênio, com o intuito de regularizar as técnicas de tratamento do sangue pelo ozônio (ISCO3, 2016).
No caso das olheiras e manchas na pele, um protocolo de muita eficácia é o preenchimento com o PRP ozonizado. A preparação do PRP associado ao ozônio deve atender à concentração de 1:1 em volume, ou seja, para cada mililitro de PRP deve-se utilizar a mesma medida de ozônio, sendo que, a concentração de ozônio não poderá ser inferior a 40 μg/ml e nem superior a 80 μg/ml. A essa diluição é adicionado ao cloreto de cálcio a 10%, o que acelera a liberação dos fatores de crescimento. Esse gel coagulado é injetado sob os olhos, nos locais de olheiras e onde for necessário o preenchimento facial (Figura 13).
A injeção intradermica de PRP ozonizado contribui na redução da flacidez da pele orbicular, eleva as pálpebras e bolsas e ameniza as rugas. Alguns autores acreditam que a ozonioterapia poderia substituir com sucesso a blefaroplastia, desde que realizada por profissionais devidamente habilitados.
Segundo estes princípios o ozônio pode ser também empregado no tratamento dos melasmas, que são manchas escuras na pele facial, resultantes da exposição aos raios UV e luz visível, alterações hormonais durante a gravidez, uso de anticoncepcionais ou predisposições genéticas. De acordo com Cardoso (2022), o ozônio promove o aumento do metabolismo celular, pelo aporte extra de oxigênio, atuando na estimulação de excreção celular, aumentando a eliminação de resíduos e toxinas, melhorando e modulando essas manchas.
Figura 12 – Injeção de PRP ozonizado para tratamento de olheiras
5.3.2.3 Tratamento de rugas com ozônio
Com o envelhecimento, a circulação sanguínea se torna comprometida, e o aporte de oxigênio nas células diminui, causando a redução dos processos de liberação de energia celular, pela respiração intra-mitocôndrias. A falha no suprimento de oxigênio às demais células é um dos fatores que influem na diminuição da resistência física, redução da massa muscular, lentidão na reestruturação óssea, aumento de peso e maior susceptibilidade às rugas.
De acordo com Shallenberger (trad. Muller, 2020), Nikola Tesla foi o pioneiro em produzir óleo de oliva ozonizado, para fins terapêuticos e estéticos, pois descobriu que ao ser aplicado sobre irritações da pele, erupções cutâneas, inflamações, infecções e picadas de inseto tinha a capacidade de reduzir a inflamação, minimizar manchas e eliminar rugas suaves.
Estudos publicados pela AM – Aesthetic Medicine (s/d) que defendem o uso da ozonioterapia em tratamentos locais para a reestruturação da pele, neutralização da ação de patógenos, interrupção do envelhecimento pela neutralização de radicais livres, por meio de injeções subcutâneas de ozônio e aplicação por compressas e massagens com o azeite de oliva ozonizado. Pela via sistêmica é possível empregar o tratamento com injeções subcutâneas e intravenosas de soluções ozonizadas, ou por meio da auto-hemoterapia maior e menor com ozônio.
Quando aplicado via subcutânea, as células macrofágicas são ativadas, o que auxilia na normalização do transporte ativo de membrana, fenômeno denominado bomba de sódio e potássio, favorecendo a passagem de metabólitos pela membrana plasmática, aumentando a absorção do oxigênio e sua utilização nos processos bioquímicos de glicólise (quebra da glicose e liberação da molécula energética ATP – adenosina trifosfato). Na sequência, outros processos são ativados, pelo maior aporte de oxigênio, como o Ciclo de Krebs e a beta oxidação dos ácidos graxos, auxiliando no melhor transporte do oxigênio pela corrente sanguínea e seu aproveitamento pelas demais células. Assim se interrompe a falta de oxigênio celular e o stress oxidativo, o que promove também, a ativação do sistema imunológico, defesa, estímulo à produção de elastina e colágeno, melhoria na capacidade regenerativa das células epiteliais e neutralização dos radicais livres responsáveis pelo envelhecimento.
As injeções subcutâneas de uma mistura de ozônio e de oxigênio são empregadas para amenização de rugas e melhoria do aspecto da pele envelhecida (Figura 13). O ozônio também pode ser empregado numa técnica variante de acupuntura, produzindo um efeito de imunomodulação, estimulando o aumento da produção de células do sistema imune, sendo, por exemplo, aplicados nos tratamentos de doenças respiratórias e do sistema digestório (MASLENNIKOV e GRIBKOVA, 2008).
Figura 13 – Pontos de aplicação da mistura ozônio/oxigênio para amenização de rugas.
Fonte: Maslennikov e Gribkova, 2008.
Nos casos estéticos de rejuvenescimento, recomenda-se a injeção de Plasma Rico em Plaquetas ozonizado em três sessões, a cada 15 dias, nos sulcos das rugas, pápulas do rosto, asas do nariz, bigode chinês, ao redor dos olhos, ou por meio de micro-agulhamentos, usando o plasmagel ozonizado como um sérum (AM, s/d).
Outra técnica de aplicação do ozônio diretamente na pele e couro cabeludo chama-se gazação ou gaseificação. Por meio da gazação ou gaseificação (Figura 14) é possível realizar o tratamento de feridas, cortes e lesões, feridas, queimaduras, úlceras tópicas, com ou sem contaminações microbiológicas (MASLENNIKOV e GRIBKOVA, 2008).
Como mencionado por Cardoso (2022), a eliminação dos microrganismos da pele e do couro capilar auxilia na limpeza profunda, eliminação de toxinas e reconstituição dos processos de regeneração dérmica e capilar.
Figura 14 – Gazação em bolsas plásticas para aplicação na pele e couro cabeludo.
5.3.2.4 Tratamento de queixo duplo com ozônio
O queixo duplo ou papada constitui um efeito do acúmulo de gordura na região entre queixo e pescoço, formando uma expansão da pele. A aplicação de injeção de ozônio permite que as membranas celulares sejam rompidas, liberando os lipídeos acumulados em seu interior. Desta forma, a gordura liberada das células adiposas entra novamente na corrente sanguínea, sendo mais facilmente eliminada pelos processos excretórios normais (Figuras 15, 16 e 17).
Figura 15 – Aplicação de ozônio na papada
Figura 17 – Atuação do ozônio sobre as células adiposas.
Semelhante à atuação dos tratamentos lipoenzimáticos, o ozônio age promovendo a inflamação das células adiposas, as membranas celulares se rompem, se desintegram, liberando as gorduras para a corrente sanguínea, que flui em direção aos sistemas excretores corporais. Auxiliando na lise do tecido gorduroso de forma que após alguns dias a papada diminui visivelmente (Fig. 17).
5.3.3 Protocolos de aplicação do ozônio
Nos protocolos de harmonização facial, a ozonioterapia pode ser considerada uma técnica pouco invasiva e que pode, em alguns casos, substituir técnicas muito mais invasivas como as cirurgias plásticas. De acordo com Pires, Karam et al. (2021): “Dentre os efeitos terapêuticos da ozonioterapia, destacam-se a melhora do metabolismo celular e da oxigenação dos tecidos periféricos”.
Por este motivo, estudaram o efeito sistêmico da terapia bio-oxidativa com gás ozônio na cicatrização de feridas e regeneração da pele.
Em relação à Harmonização Facial, a ozonioterapia possui alguns protocolos, cujos conhecimentos são necessários ao profissional que atua na área, selecionando adequadamente as técnicas para benefício real de seus pacientes.
Os protocolos de ozonioterapia empregados na harmonização facial são:
- Identificação dos problemas do paciente, suas peculiaridades, necessidades e expectativas, reclamações;
- Bom diagnóstico de anamnese, para classificação de seu tipo de pele, biotipo, possibilidades e incompatibilidades, recomendações gerais;
- Seleção e definição do protocolo, rotas de aplicação, técnica e a sua comunicação ao paciente, em termos de vantagens, desvantagens e efeitos adversos;
- Preparação do ambiente, equipamentos, instrumental;
- Disponibilidadedeumafontepuradeozônio,ouequipamentoquepossa ser empregado;
- Aplicação da técnica e registros;
- Agendamento de retornos de acompanhamento.
Nos próximos subcapítulos serão discorridos sobre alguns protocolos com o emprego do ozônio.
5.3.3.1 Rotas de aplicação
As diretrizes da ISCO3 para o cálculo da concentração e volume de ozônio a ser utilizado dependem das vias de administração (ISOC3, 2020). Existem as vias de aplicação local e as sistêmicas. Entende-se como vias de aplicação local quando atinge uma pequena área próxima ao problema apresentado, por exemplo, método auricular, bolsas na face, subcutâneas para rejuvenescimento, infiltração nas mãos etc. As vias sistêmicas possuem como objetivo atingirem áreas maiores, e por este motivo, se utilizam de outros recursos, como a aplicação de auto-hemoterapia associada à ozonioterapia, insuflação vaginal ou retal do gás, oxigenação do sangue entre outros protocolos para outros fins.
Dentre as rotas de aplicação sistêmica, existem dois tipos muito recomendados: a auto-hemoterapia importante ou maior (AIM) e a menor (MiAH). Na auto-hemoterapia importante ou maior, ocorre e coleta de sangue do paciente e mistura com ozônio de grau médico (O2,O3), para sua reinfusão imediata por intravenosa. Recomenda-se utilizar um volume entre 50 mL e 100 mL, pois acima de 200 mL podem causar riscos hemodinâmicos em pessoas debilitadas. O volume ideal é calculado com base no histórico do paciente, idade, peso, sendo recomendado o uso entre 1,5% e 2,0% do sangue total em circulação, nunca ultrapassando 150 mL de sangue extraído. A concentração de ozônio neste caso, deve estar entre 10 a 40 μg/NmL. Recomenda-se também, o uso de anticoagulante solução Ácido Citrato Dextrose – ACD ou solução A-USP (íon citrato livre de 2,13% ou citrato de sódio 3,8%, sendo 10 mL para 100 mL de sangue ozonizado). Recomenda-se de 5 a 20 sessões, de acordo com a evolução do paciente (ISCO3, 2020).
Na auto-hemoterapia menor – MiAH, mais direcionada ao tratamento de pele e harmonização facial, o tratamento utiliza-se da mistura de sangue do paciente (5 a 10 mL), contendo a mistura ozônio-oxigênio de 10 a 40 μg/NmL, sem o uso de anticoagulantes, sendo a seringa agitada intensamente antes da reinfusão via intramuscular ventroglútea. Funciona como uma vacina para os casos de psoríase, ecsema, acne vulgar, dermatites, furúnculos e alergias. Nesse protocolo, remove-se 5 mL de sangue do paciente em uma seringa de 20 mL, adiciona-se 5 mL da mistura ozônio-oxigênio, sem anticoagulante, agita-se vigorosamente e se injeta junto com o gás. Recomenda-se 5 a 10 sessões, uma vez por semana (ISCO3, 2020).
Nas rotas de aplicação local existem: injeção intramuscular e paravertebral; gaseificação ou gazação, aplicação subcutânea para fins cosméticos e de harmonização facial; ventosa de ozônio; insuflação em fístulas; uso oftalmológico; micro doses de ozônio nos pontos de disparo e acupuntura; aplicação tópica de água, óleo e cremes ozonizados; sauna (ISCO3, 2020).
No presente trabalho serão explanados apenas os protocolos específicos destinados ao uso cosmético e de harmonização facial, em rotas de aplicação local.
5.3.3.2 Protocolos de aplicação do ozônio para cicatrização e tratamento de acne e feridas
A gaseificação ou gazação em saco plástico consiste em um dos protocolos destinado à cicatrização de feridas e tratamento de acne. O saco plástico resistente é preenchido por uma mistura de ozônio e oxigênio, sendo que a mistura fica em contato direto com a área afetada (pele, couro cabeludo etc.). A gaseificação cria um ambiente em que o gás e a pele entram em contato, sendo mantido por um curto período, de 5 a 20 minutos, no máximo. A concentração deve ser planejada de acordo com o grau de comprometimento da pele, evolução da ferida ou acne. Recomenda-se iniciar com uma baixa concentração e ir aumentando, conforme evolução de cada caso. Doses recomendadas pela ISCO3 (2020) são: 20 μg/NmL, 30, 40 até 80 μg/NmL. A concentração de 60 a 80 μg/NmL são recomendadas para feridas purulentas, por, no máximo, 5 minutos (ISCO3, 2020).
Inicialmente todo o ar deve ser aspirado de dentro da bolsa plástica, por vácuo e umedecer a área de contato da pele. Então insufla-se o ar na bolsa, faz o tratamento e depois, o gás deve ser esvaziado, com os devidos cuidados.
Outra forma de aplicação do ozônio é a tópica através de veículos como água, óleos e cremes ozonizados: destinam-se muito bem ao tratamento de acne, mas também podem ser empregados com grande sucesso em úlceras, lesões infectadas, psoríase, infecções fúngicas, queimaduras e picadas de insetos.
Para água de acordo com AM – Aesthetic Medicine (s/d), a concentração de 20 μg de ozônio por mL de água bidestilada representa o índice de saturação de ozônio, o qual, em contato com a pele reage imediatamente, diferente da ação mais demorada dos óleos e cremes. De modo geral, a água ozonizada tem sido utilizada nos casos de: queimaduras faciais, lesões e infecções locais, herpes zoster e simplex, nas cicatrizes cirúrgicas promovendo a cicatrização, além dos edemas de origem bacteriana.
Prepara-se a água ozonizada, passando a água bidestilada pelo equipamento que irá injetar bolhas de uma mistura O2/O3, durante 5 a 10 minutos, sendo que a concentração de ozônio deve estar entre 60 e 80 μg/NmL. Prepara-se uma solução de 1 litro de água ozonizada, com meia vida de aproximadamente 3 a 6 horas, se armazenada à temperatura ambiente. A sua concentração permanecerá entre 18 a 24 μg/NmL a 20oC. Se refrigerada, poderá ter um tempo de vida útil de 01 dia.
Para o óleo e os cremes ozonizados, eles são preparados com a injeção da mistura O2/O3, cujas concentrações variam de acordo com a finalidade de aplicação local: na revitalização facial e tratamento de acne e rosáceas, recomenda-se a concentração de 75 a 100 meqO2/kg, num óleo de até 400 IP – índice de peróxido. No caso dos cremes, a base será de óleos ozonizados, com diferentes concentrações de ozônio, e outros ativos, de acordo com as necessidades (Figura 18). Note-se, é importante ressaltar que os equipamentos que ozonizam a água não são capazes de ozonizar óleos e cremes, para essa finalidade são necessários equipamentos específicos.
O vapor de ozônio é outro método a ser utilizado para fins estéticos e na podologia. O vapor de ozônio possui um elevado potencial fungicida, bactericida, fator umectante e cicatrizante, podendo estar associado às práticas de harmonização facial. O vapor permite a vasodilatação e desinfecção da pele, auxiliando na aplicação de outras técnicas. O ozônio promove a oxigenação dos tecidos e células, estimulando a microcirculação que resulta num efeito lifting e de rejuvenescimento (AM, s/d). Recomenda-se a aplicação a uma distância de 30 cm da face, aplicação de creme ozonizado antes do vapor, e proteção de olhos e nariz com gaze.
No caso da aplicação do vapor de ozônio na pele masculina, a dilação dos poros favorece a saída dos pelos sem que haja irritações, e, sua ação bactericida reduz a incidência de inflamação dos folículos. Para o vapor capilar, recomenda-se 10 minutos de aplicação, a uma distância de 30 cm, para tratamento de seborréias, caspa, alopecia e patologias microbianas (AM, s/d).
A aplicação do gás ozônio subcutânea destina-se nos casos de acne graus 3 e 4, com presença de grave inflamação. Recomenda-se a aplicação de 5 μg/NmL a 15 μg/NmL, com agulha 27 ou 30G, aplicações semanais, de 5 a 10 sessões.
Figura 18 – Usos do óleo ozonizado
Para os tratamentos de cicatrizes e acnes, os protocolos sugeridos (SCHWARTZ, 2017) são:
- Para acne aplicações de 1 a 2 vezes por semana de 5 a 50 mL de ozônio, subcutâneo ou intradermico, concentração 5 a 15 μg/NmL . Importante a massagem após a aplicação para melhor distribuição do gás.
- Para cicatrizes, estrias e queloides, a aplicação deve ser intraestrias, intraqueloides e dentro das cicatrizes. Recomenda-se 20 aplicações a intervalos 15 a 30 dias;
5.3.3.3 Protocolos de aplicação do ozônio para tratamento de olheiras e rugas
O PRP associado ao ozônio se utiliza do plasma enriquecido de plaquetas, ou Plasma Rico em Plaquetas, obtido a partir do sangue do paciente, sua centrifugação para separação dos hemoderivados, tratamento com ozônio e reinfusão. O PRP já vem sendo utilizado para acelerar processos de cicatrização em sistema articular lesados. A vantagem apresentada nesses casos é a minimização da administração de anti-inflamatórios, com baixa taxa de efeitos colaterais.
Na harmonização facial, o emprego do PRP associado à ozonioterapia foi obtido com sucesso, pois o PRP possui elevada concentração de elementos e fatores de crescimento e de sinalizadores de cicatrização, apresentando elevada eficácia em casos clínicos na cicatrização epitelial e tecidual, além da baixa taxa de rejeição, pois o sangue provém do próprio paciente (autólogo).
As vantagens do PRP ozonizado são: rápida regeneração, fácil obtenção do plasma, sem limitações de aplicação por faixa etária, obtenção e reinjeção praticamente indolores.
No caso do preenchimento de rugas, linhas de expressão e olheiras, o PRP ozonizado atua nos pontos onde a gordura subcutânea cedeu e deu origem a sulcos ou espaços vazios.
5.3.3.4 Protocolos de aplicação do ozônio visando o rejuvenescimento
Para o rejuvenescimento, a ISOC3 (2020) apresenta alguns protocolos, a saber:
- Aplicação de micro doses de ozônio nos pontos de disparo e acupuntura: nos pontos de disparo, normalmente guarnecidos por músculos, pode-se realizar a aplicação intramuscular, num volume entre 3,0 e 5,0 mL, numa concentração nunca superior a 9 μg/NmL. Nos pontos de acupuntura, a aplicação deve ser intradermica, da mistura gasosa oxigênio-ozônio em concentrações inferiores a 9 μg/NmL.
- MicroagulhamentoaplicaçãodoPRPozonizadosobaformadesérum,após microagulhamentos. Aplicar 4 seringas de 10 mL, com 60 μg/NmL
- No caso de rejuvenescimento facial, recomenda-se a injeção de PRP ozonizado, ativado pelo cloreto de cálcio, conforme descrito no subcapítulo anterior. O protocolo recomenda a injeção de 1 mL de PRP ozonizado em cada sulco ou ruga, por meio de retro injeção, atingindo as pápulas do rosto, sulcos do bigode chinês, asa do nariz, ao redor dos olhos, com os devidos cuidados.
- A concentração de oxigênio/ozônio no rejuvenescimento varia de 0,05% a 5,0% de ozônio para cada 95% a 99,95% de oxigênio, de acordo com Bocci (2004).
- Porsetratardeumelementoinstável,oozôniodevesergeradoepreparado no momento de uso, e a sua preservação somente é possível, quando associado a outra substância aquosa ou oleosa (creme).
- Em função da toxicidade do ozônio, a sua concentração deve ser bem planejada pelos especialistas, de modo a surtir o efeito oxidativo e preenchedor esperado.
A Aesthetc Medical (AM, s/d) descreveu resultados após a aplicação de PRP em três sessões, para tratamento de rugas e textura da pele, em seu livro de Protocolos. Foram realizadas três aplicações em mulher de 57 anos de idade, com índice de Glocau tipo III (rugas em repouso) e Índice de Fitzpatrick IV (pele morena que raramente se queima). Foram aplicados 10 μg/NmL em um volume total de 60 mL (1 ml por ponto), em planos de inclinação de 15o.
Nas rugas foram aplicados 1 a 2 mL, sendo 0,2 a 0,5 na região peri orbicular, 0,5 a 1,0 mL na região nasogeniana e 1 mL na região de pescoço. Sempre em planos de aplicação de 15o. A frequência do tratamento foi de 1 a 2 vezes por semana. Após as três sessões foram encontrados os seguintes resultados: a textura da pele apresentou aspecto mais consistente, houve um clareamento da face, redução significativa da oleosidade, na região da pálpebra observou um enrijecimento tecidual, houve a redução das manchas das olheiras e suavização das rugas.
Para os protocolos de tratamento e rejuvenescimento facial, mãos, papada e colo recomenda-se:
- Lavar a área de aplicação com água ozonizada em abundância;
- Aplicar creme ozonizado à base de óleo ozonizado;
- Aplicar por 10 minutos o vapor de ozônio;
- Tratamento local com alta frequência e ozônio, por 5 minutos;
- Aplicações semanais e bissemanais de injeções de ozônio intradermica ou subcutâneo, concentração entre 5 e 20 μg/NmL
- Massagem após as aplicações.
5.3.3.5 Protocolos de aplicação do ozônio na harmonização facial
A reestruturação do rosto também pode contar com as técnicas de ozonioterapia, com a finalidade de recuperar o contorno do rosto, minimizar os sinais de alterações que ocorrem com a idade, ou por outros fatores externos que tornam o contorno do rosto assimétrico e irregular. Assim, a ozonioterapia também atua como efeito lipolítico na região Jowl e papada e corretivo na harmonização facial (AM, s/d).
No caso do contorno do queixo, a aplicação na região Jowl deve ser realizada na concentração de 5 a μg/NmL 20 μg/NmL com insuflações de 2,0 mL a 5,0 mL, por ponto, na hipoderme média a profunda, devendo se observar com atenção o pré-molar e posição dos nervos nessa região. Recomenda-se aplicar dois pontos de cada lado (Figura 19) (AM, s/d).
Na correção de papada para efeito lipolítico, recomenda-se a aplicação de 10 a 25 μg/NmL, de 4 a 6 aplicações na papada, em 4 pontos submandibulares. Recomenda-se o uso de bandagem e massagem diária no local (Figura 20) (AM, s/d).
Figura 19 – Ponto de insuflação do ozônio na harmonização facial
Figura 20 – Acúmulo de gordura na papada
5.3.4 Protocolos não recomendados, contraindicações e efeitos adversos
Embora se conheça uma variedade de benefícios de aplicação do ozônio nas terapias de doenças do sistema esquelético, muscular e nas infecções, de modo geral, em função de seu forte poder oxidativo, não se deve esquecer de seus efeitos tóxicos e do risco envolvido no emprego de forma errônea, seja em qualquer tipo de técnica adotada.
Existem protocolos que não são recomendados pela ISCO3 (2020).
Na aplicação sistêmica (corpo), para tratamentos diversos, a ISCO3, considerada contraindicada a administração em casos de: anemia hemolítica, hipertireoidismo tóxico, instabilidades cardiovasculares e para os pacientes que estejam realizando outras formas de tratamento com o emprego de metais de cobre e ferro.
Em relação às rotas de aplicação, a ISCO3 considera extremamente proibida a via de inalação, por ser o ozônio altamente tóxico, pois mucosas e pulmões são muito sensíveis. Assim, na aplicação tópica de vapor de ozônio, recomenda-se a proteção do paciente e os cuidados com cálculo das concentrações.
A injeção de água ozonizada, da solução de glicose ozonizada e a aplicação de ozônio intraperitoneal são todas técnicas de aplicação que, em 2020, foram consideradas pouco estudadas pelos profissionais e especialistas da ISCO3, pois não havia ensaios clínicos suficientes para a sua comprovação de eficácia. Todas as três aplicações relacionam-se a resultados que sugerem alterações genéticas, estímulo às células cancerígenas e reações adversas tóxicas.
6. DISCUSSÃO
O ozônio vem se mostrando um excelente agente no tratamento de enfermidades diversas e no segmento da beleza e harmonização facial.
Muitos métodos e técnicas já existem, com casos clínicos confirmados e embasados em pesquisas de profissionais reconhecidos internacionalmente, como os pertencentes à organização ISCO3.
Os efeitos da aplicação da ozonioterapia na harmonização facial também se apresenta como um método confiável, dependendo de alguns fatores que devem ser bem discutidos.
Como todos os procedimentos de harmonização facial, não deve ser executado por pessoas que não tenham o conhecimento necessário (BOCCI, 2005), pois o elemento é um forte oxidante químico, e seu emprego sem fundamentação pode trazer sequelas irreversíveis.
Desta forma, Bocci (2005) alerta que o ozônio é eficaz, porém deve se respeitar suas formas de uso e precauções, em termos de proteção do paciente, do profissional e do ambiente. Por exemplo, o equipamento gerador de ozônio recomenda-se que fique em sala separada e, que as pessoas não permaneçam neste ambiente por muito tempo (sensibilidade das mucosas e pulmões), o equipamento deve ser regulado, de modo a desligar quando programado, evitando a liberação do ozônio no ar. Quando o profissional for esvaziar uma bag com ozônio, deve passar pelo destruidor de ozônio, de modo a eliminar esse agente altamente oxidante no ambiente. Um monitor com alerta sonoro deve ser conectado aos equipamentos, indicando casos de vazamento de gás. Outro monitor deve ser instalado no local, sinalizando o excesso de ozônio no consultório. Haverá a necessidade de uma ventilação adequada e renovação de ar para reduzir os riscos de acúmulo de ozônio no ambiente.
Na harmonização facial e estética, não se recomenda, a injeção direta intravenosa ou intra-arterial, devido a muitos relatos de embolia pulmonar, como observados em estudo como os de Brito Jr, Silva e Batista (2015).
De acordo com o já explorado amplamente pelas instituições consultadas nesta pesquisa: Aesthetic Medicine, International Scientific Committee on Ozone Therapy e Conselho Federal de Odontologia, não há dúvidas sobre a capacidade biocida, estimulante de cicatrização e efeitos de preenchimento que o ozônio e associados propiciam, porém é de responsabilidade do profissional habilitado realizar uma adequada anamnese, plano de trabalho, estudo das possibilidades de uso, obtenção de ozônio de qualidade, calibração de seu equipamento, em termos de concentração e volume (gerador de ozônio), local adequado para realização das preparações e misturas, procedimentos de limpeza e higienização adequados, uso de EPI e cálculos apurados para que, de fato, a ozonioterapia seja um procedimento eficaz.
7. CONCLUSÃO
Diante do observado na revisão bibliográfica e aqui exposto, pode-se concluir que o objetivo do trabalho foi alcançado por meio da metodologia aplicada, trazendo fontes, dados e informações sobre a aplicação da ozonioterapia na saúde com destaque na harmonização facial. Ademais fica evidente a necessidade da crescente e ampla pesquisa e divulgação sobre o assunto, a fim de que haja cada vez mais dados, arcabouço científico, métodos, fontes e registros para formação do profissional da saúde, seja estética ou não.